Ordálio via tudo a sua volta ruir. Não conseguiu jamais ver as flores que se estendiam em seu caminho e, assim, jamais pode colhê-las. Só via pedras e, por isso, viveu tropeçando nelas.
Acho que era falta de amor. Não é o amor que cega, mas a sua falta.
Não é que o amor lhe tivesse negado os favores. Não, isso não. Nunca o amor fez isso a ninguém. Mas o que dizer dos que não o enxergam. Na verdade, Ordálio, com medo, fugia e se escondia do amor o tempo todo. Os olhos iluminados que lhe procuravam insistentes jamais o encontraram.
Ah! Tantas tristezas acumuladas, empilhadas como se fossem moedas de ouro. Enquanto isso, a felicidade era sempre atirada no lixo. Por outro lado, isso, por vezes, fazia um mendigo feliz.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
O ABC da Batata
Enquanto
o barco lentamente afundava, eu me agarrei firmemente a uma tábua de salvação que, gentilmente, a fortuna colocara ao meu alcance.
Não sei mais alguém se salvou, acho que não.
Nunca mais ouvi falar de
nenhum deles.
Comecei a dar remadas com as mãos e os pés em direção a
uma providencial ilha que conseguia
avistar. Ainda consegui pegar um dos livros que afundavam. Era uma carga
de livros que a navio transportava.
Quando cheguei a ilha, observei quem seria meu companheiro.
"O ABC da Batata". Este era o inusitado título do livro, a única coisa que ainda me restava do mundo civilizado. O resto tinha ido a pique e jazia nas profundezas do oceano sem fim.
O que faria eu de um manual sobre uma coisa que provavelmente não existia naquela afastada ilha tropical?
Mas, pelo menos companhia eu teria. O livro pode ser mais que uma fonte de informação e entretenimento. Ele pode até conversar com você, disse-me certa vez uma velha e obesa bibliotecária que passara anos convivendo com estes anjos de papel.
Antes de mais nada, teria que comer alguma coisa - foi o que pensei. Aliás, antes, beber! Beber é mais importante que comer, para sobreviver. Podemos nos conservar vivos sem comida por um mês, porém, se água, não de passamos de uma mera semana.
Observei muitos coqueiros e, melhor ainda, muitos cocos. Água e comida. Alguns animais silvestres me pareciam prováveis e apetitosas fontes de proteína.
E o livro...
O ABC da Batata passaria a ser meu principal companheiro. Sem companhia podemos perecer em pouco tempo. A solidão nos consome de dentro para fora, numa sentido inverso ao consumo que nos faz o tempo Mas, sobre o que o livro discorria? Batatas, é claro! E , em que ele poderia me ser útil? - eu me perguntava. Uma coisa óbvia - ele poderia me dar fogo. Cada uma de suas folhas arderia, se tocada pela chama, por alguns segundos fornecendo calor e luz. Era muito pouco. Preferi conservá-lo e pedia para que suas páginas ardessem um fogo diferente, se não fosse pedir demais.
Sobre a história da batata, descobri que seu cultivo começou nos Andes e que os espanhóis levaram o seu cultivo para a Espanha e, daí para os quatro cantos do mundo,
tornando-se o quarto alimento mais consumido no mundo, atrás apenas do leite, do trigo e o arroz.
Havia informações diversas sobre a reprodução, condições climáticas para o plantio, armazenamento, transporte... Havia um cem número de informações técnicas como nunca pensaria existir. Nunca pensei que houvesse tanto para se saber sobre as batatas. Uma batata é um mundo.
Havia centenas de receitas de batatas, tudo para aumentar ainda mais minha fome. Batata frita, batata receheada, batata sauté, batata gratinada, batata em camadas, batata assada, bolinho de batata, pão de batata... e ... água na boca. Adoro batata.
Comecei a ver as possibilidades de aplicar aquele universo de saber que me invadia. E comecei a ver tudo sob a ótica da batata.
Penso, logo existo. Uma batata não pensa, logo uma batata não existe. O que há de errado nesse raciocínio, ele parece tão lógico! - me disse certa vez um colega de faculdade.
Na verdade, mesmo que a premissa seja verdadeira, a célebre inferência de Descartes, a conclusão está equivocada, pois se A então B, implica que se não-B então não-A,
mas não implica que que se não-A então não-B. Ou seja, existe certa lógica numa batata - concluía eu agora.
Um coco, ora, o que seria um coco, senão uma batata mais redondo, com o interior oco e cheio de líquido e com uma casca bem mais dura. De certa forma, um coco é uma
batata.
E sobre a arte de descascar uma batata, não teria ela relação com a arte de resolver problemas difíceis, de retirar toda hipocrisia que reveste o ser humano
e revelar seu carboidrato, seu nutriente, sua alma? Plantar uma batata,afinal, não é tão diferente de plantar o conhecimento ou mesmo o amor. Todo eles exigem tempo, paciência, repeito, dedicação. Quando um pé de batata germina, germina um mundo. Milhares de seres visíveis e invisíveis habitam um pé de batata. Quantas histórias secretas lá ocorrem, ninguém saberia dizer.
A batata é uma raiz e fica escondida. O resto da planta é todo um disfarce. A raiz da batata é a raiz do problema, é a raiz do conhecimento e é procurando a raiz que acha a peça fundamental de tudo.
O tempo não caleja o espírito e o torna mais rico em saber como o fogo transforma o sabor de uma simples, aliás, até da mais simples batata?
Eu lia e relia o livro e passava a ver batatas, montes de batatas, por todos os lados.
Quantas batatas eu vi nas nuvens?
E
olha que este livro, tão específico e inusitado, de nada me servia,
mas no fim me serviu, mostrando que a leitura é a atividade mais nobre. Ler um livro sempre serve para alguma coisa.
Ele, o livro, me fez ficar meio-maluco, meio-sábio, mas me fez o grande bem de fazer não ver o tempo passar. Não senti dor nem aflição.
Ele, o livro, me fez ficar meio-maluco, meio-sábio, mas me fez o grande bem de fazer não ver o tempo passar. Não senti dor nem aflição.
E o resgate chegou sem eu percebesse passar o tempo das buscas.
Fui salvo e abri um casa especializada em batatas.
Hoje eu sou o empresário da batata.
Se me perguntassem assim - se você fosse ficar o resto da vida perdido numa ilha e tivesse o direito de escolher um livro, qual seria sua escolha?
Seria o ABC da Batata!
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Tenho medo do medo
e medo de dizer que tenho medo
tenho medo de quem tem medo
e medo de quem faz medo
pois o medo
me impede de ser livre
em suma
me impede de viver
ter medo é de certa forma morrer
não confunda entretanto
o medo e a prudência
com não se deve confundir
a coragem e a imprudência
desde cedo aprendi
que para ter coragem
foi preciso antes ter medo
sem medo não há coragem
sem medo não há nem aragem
de um novo tempo de se viver
medo não é uma coisa
que não se tenha
medo é uma coisa
que se supera
submisso ao medo
eis alguém agrilhoado sem grilhões
basta-me sentir a coragem
a insuflar minhas veias
o sangue a meus pensamentos somado
para que meu sangue ebula
e estes jamais sejam tomados
disse-me o professor de filosofia
que os gladiadores se dirigiam
a morte cantando
pois eram escravos no corpo
mas livres no espírito
não tinham medo algum
e alegres diziam :
Ave César, os que vão morrem te saúdam
e não temem o que lhes destina a sorte
é que para não se ter medo de nada
é preciso perder o medo da morte
e medo de dizer que tenho medo
tenho medo de quem tem medo
e medo de quem faz medo
pois o medo
me impede de ser livre
em suma
me impede de viver
ter medo é de certa forma morrer
não confunda entretanto
o medo e a prudência
com não se deve confundir
a coragem e a imprudência
desde cedo aprendi
que para ter coragem
foi preciso antes ter medo
sem medo não há coragem
sem medo não há nem aragem
de um novo tempo de se viver
medo não é uma coisa
que não se tenha
medo é uma coisa
que se supera
submisso ao medo
eis alguém agrilhoado sem grilhões
basta-me sentir a coragem
a insuflar minhas veias
o sangue a meus pensamentos somado
para que meu sangue ebula
e estes jamais sejam tomados
disse-me o professor de filosofia
que os gladiadores se dirigiam
a morte cantando
pois eram escravos no corpo
mas livres no espírito
não tinham medo algum
e alegres diziam :
Ave César, os que vão morrem te saúdam
e não temem o que lhes destina a sorte
é que para não se ter medo de nada
é preciso perder o medo da morte
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Ainda lembro bem. Era moço ainda. Olhei bem o que via, mas não vi. Por não entender, errava pelos quatro cantos como um cego.
Agora, passados tantos anos, enfim acordei deste meu sono e entendi o que havia acontecido.
Não eram cores que eu via, era a minha própria mente. Engraçado que hoje, já não consigo enxergá-las. O entendimento acaba nos afastando.
O que é melhor? Estar aqui, como agora, fora de mim, dominando a situação? Ou ser eu mesmo como eu era, descontrolado, autêntico, e sem ao menos me entender.
-x-
Riscadas em traços desleixados no caderno amarelecido pelo tempo, repousam aquelas
três palavras que jamais deveriam ter sido escritas, pois que só se escreve o que é para ser perene
e o tempo revelou a fugacidade do que parecia ser definitivo. A amargura estampa-se em meu olhar
sempre que este repousa triste sobre a declaração definitiva que revelou-se não mais que volátil.
Em todo meu ser espalha-se a vileza torpe e sombria da desesperança.
Talvez fosse melhor rasgar aquela página que guarda a última lembrança que de ti restou.
Talvez fosse melhor esquecer do que já deve ter sido esquecido por ti faz tempo.
Será que ainda lembras de ter escritos aquelas malditas palavras que, então, me pareciam tão benditas?
Talvez não te ocorra a sofrimento que daquilo ficou.
Olho o espaço vazio que preenche agora o teu lado da cama. Não é mais teu corpo que o preenche, mas a dor da saudade. E na seda macia, não mais teu cheiro, mas a tua falta.
Não sei o que dizer. As lembranças de alegrias que resultaram em tristezas são mais tristes que as lembranças de tristezas que só produziram tristeza, pela promessa que nelas viveu um dia. A promessa velada, a promessa fracassada, o pendão da lágrima que tripudia sobre o sorriso, a vergasta do tempo que desfaz coisas feitas, a prisão deprimente a uma passado que não fez futuro.
Resolvo-me então o picoto em mil pedaços a que me sobrou de tuas letras.
-x-
ai
o passar do tempo
ai
o passar das horas
vai o ponteiro inclemente
no seu lento e irremediável girar
giram lá fora
as nuvens, as sombras, as sobras, as cobras
e aqui dentro o nada em mim a girar
vai o tempo, vão as horas
no ralo do esquecimento a escoar
Agora, passados tantos anos, enfim acordei deste meu sono e entendi o que havia acontecido.
Não eram cores que eu via, era a minha própria mente. Engraçado que hoje, já não consigo enxergá-las. O entendimento acaba nos afastando.
O que é melhor? Estar aqui, como agora, fora de mim, dominando a situação? Ou ser eu mesmo como eu era, descontrolado, autêntico, e sem ao menos me entender.
-x-
Riscadas em traços desleixados no caderno amarelecido pelo tempo, repousam aquelas
três palavras que jamais deveriam ter sido escritas, pois que só se escreve o que é para ser perene
e o tempo revelou a fugacidade do que parecia ser definitivo. A amargura estampa-se em meu olhar
sempre que este repousa triste sobre a declaração definitiva que revelou-se não mais que volátil.
Em todo meu ser espalha-se a vileza torpe e sombria da desesperança.
Talvez fosse melhor rasgar aquela página que guarda a última lembrança que de ti restou.
Talvez fosse melhor esquecer do que já deve ter sido esquecido por ti faz tempo.
Será que ainda lembras de ter escritos aquelas malditas palavras que, então, me pareciam tão benditas?
Talvez não te ocorra a sofrimento que daquilo ficou.
Olho o espaço vazio que preenche agora o teu lado da cama. Não é mais teu corpo que o preenche, mas a dor da saudade. E na seda macia, não mais teu cheiro, mas a tua falta.
Não sei o que dizer. As lembranças de alegrias que resultaram em tristezas são mais tristes que as lembranças de tristezas que só produziram tristeza, pela promessa que nelas viveu um dia. A promessa velada, a promessa fracassada, o pendão da lágrima que tripudia sobre o sorriso, a vergasta do tempo que desfaz coisas feitas, a prisão deprimente a uma passado que não fez futuro.
Resolvo-me então o picoto em mil pedaços a que me sobrou de tuas letras.
-x-
ai
o passar do tempo
ai
o passar das horas
vai o ponteiro inclemente
no seu lento e irremediável girar
giram lá fora
as nuvens, as sombras, as sobras, as cobras
e aqui dentro o nada em mim a girar
vai o tempo, vão as horas
no ralo do esquecimento a escoar
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Há tantos caminhos na estrada
fica em dúvida o meu coração
bendita seria a encruzilhada
se houvesse só uma opção
(mas uma opção dentre tantas é afinal apenas uma opção
pois que o um que faz o dois é o mesmo um que faz o um
- e faz três e faz quatro e faz cinco -
por isso eu me pergunto
mas não sei a razão deste meu perguntar
e daí não me pergunte o motivo da minha indecisão)
mas se é dúbia a vida
dúbia também será a decisão
não há certeza nesta lida
e nem no sim, nem no não
(dúbio o ego, dúbia a indecisão,
pois tudo é no mínimo dois
logo, um sozinho é apenas solidão)
e daí eu me pergunto, para onde?
mas não tenho certeza de nada
e nem ao menos a pergunta
saberia se é certa ou errada
(sei que fiz a pergunta certa
mas a pergunta certa era a errada
errada a resposta mais nada a fazer
mas por tê-la errado, acabei acertando
assim que se faz o saber
vai entender ...?
disse Nietzsche que a inteligência era um simples acaso )
mas os trilhos me levarão certamente
onde a mente é presente ou não
fantasia e realidade se misturam
numa via em mão e contramão
afinal, talvez só o caminho importe
e o destino pertença só ao acaso
e no horizonte haja algum lugar
onde amar seja possível
seja ele na nascente ou poente seja o ocaso
(é que talvez eu renasça novamente
pois ainda não me ache completo
- essa sensação de incompletude me impulsiona)
um caso de ocasião
uma casa ou um casarão
uma praia
uma saia
cidade, montanha ou oceano
ainda este ano
ou daqui a um século
onde o o caminho me levará?
isso só o futuro me dirá
ou então é a verdade
que o futuro me esconderá
e a andar é assim que eu levo a vida
ou a é vida que anda a me levar
mas talvez seja melhor ficar bem leve
e deixar que vida me leve
numa onda que vai e retorna
e se desfaz nas areias da tarde
-x-
O poema é...
a folha seca ao vento
a gota que faz que cai mas não cai
a onda que que vai, mas que sempre volta
é um vazio que completa
e um desejo incompleto
uma cereja vermelha
mas que de tão vermelha
entre teus lábios
aguardando distraídos
a voracidade do meu beijo
PS: sobre o prêmio, o que passou, passou. não sou de dar noticia requentada :)
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
Não posso falar nada sobre isso agora, só envio a noticia do prêmio nacional que ganhei. Sou o segundo da esquerda para direita na foto.
link :
http://portalempresasenegocios.com.br/2014/10/iel-rn-fica-em-primeiro-lugar-brasil-premio-iel-de-estagio-2014/
-x-
Ele dizia ser mil
em desvendar os segredos
e que suas fãs pelo Brasil
eram fantasias e brinquedos
ele sonhava ser um rei
e outras coisas que nem sei
desejava tesouros escondidos
em paraísos perdidos
mas veio o tempo feroz
com sua foice impiedosa
decepou de forma atroz
a parte de si mais saborosa
sonhava antes um sonho
que agora seria pesadelo
um monstro medonho
meio dragão meio camelo
a doce namorada que sonhava
é hoje a megera mal amada
que desencantou os seus dias
o corpo de herói jaz cansado
é perdido o tônus dos músculos
de tanto comer porcarias
mas no silêncio da noite
ainda resta uma esperança
a ponta algoz e cruel
perfuro-cortante de uma lança
-x-
Ele se perguntava se a Lua
tão distante e antiga
podia ser sua companheira
e na imaginação
a si mesmo respondia
como se a Lua fosse
e lhe amasse tanto
como o céu ama a Lua
- Podeis ser meu companheiro
ó amado menino
desde que me prometa para sempre
que suas noites sejam só minhas
podendo ter para si só os dias
Ele, incontinenti respondia
como se ouvira de verdade
a voz límpida
da vetusta e branca rocha noturna
- te darei para sempre os meus sonhos
e os fatos da vidas serão só meus
a minha amada e luminosa brancura
serás a cura para a minha alucinação
o doce remédio que me fará deixar de ser sonhador
link :
http://portalempresasenegocios.com.br/2014/10/iel-rn-fica-em-primeiro-lugar-brasil-premio-iel-de-estagio-2014/
-x-
Ele dizia ser mil
em desvendar os segredos
e que suas fãs pelo Brasil
eram fantasias e brinquedos
ele sonhava ser um rei
e outras coisas que nem sei
desejava tesouros escondidos
em paraísos perdidos
mas veio o tempo feroz
com sua foice impiedosa
decepou de forma atroz
a parte de si mais saborosa
sonhava antes um sonho
que agora seria pesadelo
um monstro medonho
meio dragão meio camelo
a doce namorada que sonhava
é hoje a megera mal amada
que desencantou os seus dias
o corpo de herói jaz cansado
é perdido o tônus dos músculos
de tanto comer porcarias
mas no silêncio da noite
ainda resta uma esperança
a ponta algoz e cruel
perfuro-cortante de uma lança
-x-
Ele se perguntava se a Lua
tão distante e antiga
podia ser sua companheira
e na imaginação
a si mesmo respondia
como se a Lua fosse
e lhe amasse tanto
como o céu ama a Lua
- Podeis ser meu companheiro
ó amado menino
desde que me prometa para sempre
que suas noites sejam só minhas
podendo ter para si só os dias
Ele, incontinenti respondia
como se ouvira de verdade
a voz límpida
da vetusta e branca rocha noturna
- te darei para sempre os meus sonhos
e os fatos da vidas serão só meus
a minha amada e luminosa brancura
serás a cura para a minha alucinação
o doce remédio que me fará deixar de ser sonhador
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
teu desencontrado olhar
dardeja-me incoerências
em estrábicas reticências
ensaboando noturno Luar
borrado em nuvens errantes
de uma noite sem nexo
atrai-me permanentemente
o que de ti é insensato
por eu ser assim incoerente
confunde-me ardente o olfato
ao inalar o aroma do teu sexo
sem saber o que é dúvida ou fato
cativa-me
essa tua estúpida negligência
negligê solto sedutor
cobrindo uma tola aparência
a verdade se esconde
sob teus olhos pérfidos
e desvia o olhar
dardos dos teus seios ávidos
perdidos na inefável aderência
dos teus olhos aos meus
na mais profunda incontinência
alguma coisa nossos contornos usinam
num tanto de encanto e de magia
bem mais que os mestres ensinam
e que o livro sagrado nem desconfia
há entre nós a nos separar
bem menos que a imensidão do mar
mas bem mais que a largura de um lago
a grandeza incomensa de um afago
mais que um réles fio de discórdia
os astros do universo em concórdia
o elemento essencial nos vitima
que mais e mais nos aproxima
dardeja-me incoerências
em estrábicas reticências
ensaboando noturno Luar
borrado em nuvens errantes
de uma noite sem nexo
atrai-me permanentemente
o que de ti é insensato
por eu ser assim incoerente
confunde-me ardente o olfato
ao inalar o aroma do teu sexo
sem saber o que é dúvida ou fato
cativa-me
essa tua estúpida negligência
negligê solto sedutor
cobrindo uma tola aparência
a verdade se esconde
sob teus olhos pérfidos
e desvia o olhar
dardos dos teus seios ávidos
perdidos na inefável aderência
dos teus olhos aos meus
na mais profunda incontinência
alguma coisa nossos contornos usinam
num tanto de encanto e de magia
bem mais que os mestres ensinam
e que o livro sagrado nem desconfia
há entre nós a nos separar
bem menos que a imensidão do mar
mas bem mais que a largura de um lago
a grandeza incomensa de um afago
mais que um réles fio de discórdia
os astros do universo em concórdia
o elemento essencial nos vitima
que mais e mais nos aproxima
terça-feira, 19 de agosto de 2014
seria um sonho?
não, não é possível!
o sonho virou real
e o mundo se esfarela aos pedaços ante meus olhos
o vento e o tempo pararam
o ponteiro já não anda
o mar que andava revolto agora arde em negras chamas
a ar que zunia pelos cantos
é agora estratosfera
a flor jaz
o jarro jaz
o ódio faz
e o amor definha
(segundo Drumond, Minas, não há mais
e nem mesmo há mais as Gerais)
e eu aqui, bancando um albatroz
meio a Baudelaire meio ao molho madeira
tipo um Kafka só que mais louco
eu comecei a ser assim
depois que comi um hambuguer de Kafta
bebi tudo que via
e depois lembrei...(o vinho faz esquecer e lembrar, dizia o pródigo)
perdi o rumo depois que fiquei sem seus olhos
era por eles que eu me guiava
era por eles que eu me entregava
era por eles que eu vivia
agora já não tenho razão para ter razão
é por isso que resoluto enlouqueço
não, não é possível!
o sonho virou real
e o mundo se esfarela aos pedaços ante meus olhos
o vento e o tempo pararam
o ponteiro já não anda
o mar que andava revolto agora arde em negras chamas
a ar que zunia pelos cantos
é agora estratosfera
a flor jaz
o jarro jaz
o ódio faz
e o amor definha
(segundo Drumond, Minas, não há mais
e nem mesmo há mais as Gerais)
e eu aqui, bancando um albatroz
meio a Baudelaire meio ao molho madeira
tipo um Kafka só que mais louco
eu comecei a ser assim
depois que comi um hambuguer de Kafta
bebi tudo que via
e depois lembrei...(o vinho faz esquecer e lembrar, dizia o pródigo)
perdi o rumo depois que fiquei sem seus olhos
era por eles que eu me guiava
era por eles que eu me entregava
era por eles que eu vivia
agora já não tenho razão para ter razão
é por isso que resoluto enlouqueço
terça-feira, 22 de julho de 2014
Toda vez
que a vontade de falar
me assoma
é, no entanto, o silêncio que me domina
é essa imensa saudade
que dói e me cala
a amplidão do espaço
e do esquecimento
a palavra segue
inaudível e inaudita, porém indelével
-x-x-x-x-x
Em todos esses tons, os azuis, de olhos, escolhos do mar, entulhos do lar.
Os poentes descrentes em todos anis, nos anos que passam, nos anos futuros, ora quase verdes, ora puramente azuis. Verdes ainda nem nascidos, azuis amadurecidos. O hematoma nasce azul e, ao contrário das frutas, vai se tornando verde, mas morre amarelo como todos.
O azul é a cor da promessa a cor que colore os sonhos. O azul dos meus olhos é meu giz que mancha a lousa da tua tez, o raio celeste azul e eletrostático, um potente eletroimã que atrai e repele, magnetiza o orvalho que para no ar repelido pelas estática da grama.
Ora o azul é neutro, ora azucrina a crina azul da quimera que galopa em meus sonhos. Tem o azul gélido da tristeza que a beleza pinta nos cumes nevados de tuas distâncias. E as reentrâncias carnudas vermelhas e profundas em meu lagos azuis se fixam e penetram, buscam lá o seu fim, o elemento final, o leito eterno em que jaz meu corpo.
Azul do céu, só em sonho almejo. Quisera voar através do azul escuro das noites, salpicadas de manchas, o estrelato, fazer dos laivos caminhos serenos pelas entranhas dos entreastros.
Asteróire, esteróide, viagem. Me perdi nesta infinita dimensão. A sinfonia que ouço é silenciosa. Me faz dormir, sonhar, por fim acordar. Quisera estes panos que me cobrem serem teus braços. O travesseiro teu colo em que me recosto e me entristeço. As lágrimas de despero em que me afogo num passe de mágica seriam transmutadas em esmeraldas como se do líquido azul pudesse inexplicavelmente brotar a solidez do verde.
Azul, quimérico e poderoso azul, a força com que me possuis me deixa fraco.
Qual o mistério deste azul que invade céu, mar e distância? O mistério está no ar. O azul é o oxigênio que respiro e tanto me falta na hora do agudo desespero.
O azul está na cor que o Sol emite, viaja pelos céus misturada a uma população infinita de cores, mas a atmosfera o separa do populacho é o deixa reinar sozinho nos céus.
que a vontade de falar
me assoma
é, no entanto, o silêncio que me domina
é essa imensa saudade
que dói e me cala
a amplidão do espaço
e do esquecimento
a palavra segue
inaudível e inaudita, porém indelével
-x-x-x-x-x
Em todos esses tons, os azuis, de olhos, escolhos do mar, entulhos do lar.
Os poentes descrentes em todos anis, nos anos que passam, nos anos futuros, ora quase verdes, ora puramente azuis. Verdes ainda nem nascidos, azuis amadurecidos. O hematoma nasce azul e, ao contrário das frutas, vai se tornando verde, mas morre amarelo como todos.
O azul é a cor da promessa a cor que colore os sonhos. O azul dos meus olhos é meu giz que mancha a lousa da tua tez, o raio celeste azul e eletrostático, um potente eletroimã que atrai e repele, magnetiza o orvalho que para no ar repelido pelas estática da grama.
Ora o azul é neutro, ora azucrina a crina azul da quimera que galopa em meus sonhos. Tem o azul gélido da tristeza que a beleza pinta nos cumes nevados de tuas distâncias. E as reentrâncias carnudas vermelhas e profundas em meu lagos azuis se fixam e penetram, buscam lá o seu fim, o elemento final, o leito eterno em que jaz meu corpo.
Azul do céu, só em sonho almejo. Quisera voar através do azul escuro das noites, salpicadas de manchas, o estrelato, fazer dos laivos caminhos serenos pelas entranhas dos entreastros.
Asteróire, esteróide, viagem. Me perdi nesta infinita dimensão. A sinfonia que ouço é silenciosa. Me faz dormir, sonhar, por fim acordar. Quisera estes panos que me cobrem serem teus braços. O travesseiro teu colo em que me recosto e me entristeço. As lágrimas de despero em que me afogo num passe de mágica seriam transmutadas em esmeraldas como se do líquido azul pudesse inexplicavelmente brotar a solidez do verde.
Azul, quimérico e poderoso azul, a força com que me possuis me deixa fraco.
Qual o mistério deste azul que invade céu, mar e distância? O mistério está no ar. O azul é o oxigênio que respiro e tanto me falta na hora do agudo desespero.
O azul está na cor que o Sol emite, viaja pelos céus misturada a uma população infinita de cores, mas a atmosfera o separa do populacho é o deixa reinar sozinho nos céus.
terça-feira, 1 de julho de 2014
Abaixo, uma obra de ficção. O nome do blog Noites Insones nela figura, apenas por que não imaginei outro título melhor :)
Há muito tempo eu não ia ao teatro. Os rostos que acompanhavam as cenas, me eram todos desconhecidos. Após um primeiro ato regular, saí para espairecer um pouquinho e percebi que uma senhora se separou do marido e me seguiu. Ela me abordou deste jeito:
- O senhor tem fósforo?
- Sinto muito, parei de fumar. Isso faz mal sabia?
Ela nada falou, apenas me fitou por apenas um momento, meio hipnotizada.
- Claro que sabe - continuei - as pessoas fumam assim mesmo, pois, por pior que seja, é gostoso.
Daí, ela me surpreendeu, dizendo
- Você sempre diz coisas interessantes.
- Como assim? Já me conhece de algum lugar?
- Sim, conheço. Você não é o autor daquele blog, Noites Insones ? Me delicio com as suas palavras.
- Puxa! Aparecem tão poucos leitores por lá que até me surpreendo ao saber que há gente que aprecia.
- Bem que gostaria de deixar comentários, mas não posso - falou isso, olhando tristemente para a aliança. Pois, saiba agora que além das suas palavras, me encantei com seus olhos. Eu já te amava desde sempre, mas sei que a pessoa e as palavras que ela escreve não são a mesma coisa. Só queria saber que você existe mesmo e que corresponde ao que escreve. Sei que meu amor é impossível.
- Não, eu não sou assim. Não me considero uma pessoa encantadora, assim como, por exemplo, você.
Eu falava assim sinceramente, pois estava encantado e ela me parecia assim desses personagens apaixonados e apaixonantes que só existem nos romances antigos.
- Vou amar em silêncio, para sempre.
Disse isso ao mesmo tempo que tentava conter uma lágrima, que brotava como se fosse diamante do canto de seu lindo olho direito.
- Não posso desmanchar a pintura - completou, enxugando a lágrima delicadamente.
Saiu furtivamente, sem me deixar tempo para falar mais nada.
Olhei o céu noturno e só encontrei estrelas. A Lua me havia abandonado novamente, assim como o chão o fizera.
Com em tantas outras vezes, não dormi. Desta vez, por uma razão diferente.
Há muito tempo eu não ia ao teatro. Os rostos que acompanhavam as cenas, me eram todos desconhecidos. Após um primeiro ato regular, saí para espairecer um pouquinho e percebi que uma senhora se separou do marido e me seguiu. Ela me abordou deste jeito:
- O senhor tem fósforo?
- Sinto muito, parei de fumar. Isso faz mal sabia?
Ela nada falou, apenas me fitou por apenas um momento, meio hipnotizada.
- Claro que sabe - continuei - as pessoas fumam assim mesmo, pois, por pior que seja, é gostoso.
Daí, ela me surpreendeu, dizendo
- Você sempre diz coisas interessantes.
- Como assim? Já me conhece de algum lugar?
- Sim, conheço. Você não é o autor daquele blog, Noites Insones ? Me delicio com as suas palavras.
- Puxa! Aparecem tão poucos leitores por lá que até me surpreendo ao saber que há gente que aprecia.
- Bem que gostaria de deixar comentários, mas não posso - falou isso, olhando tristemente para a aliança. Pois, saiba agora que além das suas palavras, me encantei com seus olhos. Eu já te amava desde sempre, mas sei que a pessoa e as palavras que ela escreve não são a mesma coisa. Só queria saber que você existe mesmo e que corresponde ao que escreve. Sei que meu amor é impossível.
- Não, eu não sou assim. Não me considero uma pessoa encantadora, assim como, por exemplo, você.
Eu falava assim sinceramente, pois estava encantado e ela me parecia assim desses personagens apaixonados e apaixonantes que só existem nos romances antigos.
- Vou amar em silêncio, para sempre.
Disse isso ao mesmo tempo que tentava conter uma lágrima, que brotava como se fosse diamante do canto de seu lindo olho direito.
- Não posso desmanchar a pintura - completou, enxugando a lágrima delicadamente.
Saiu furtivamente, sem me deixar tempo para falar mais nada.
Olhei o céu noturno e só encontrei estrelas. A Lua me havia abandonado novamente, assim como o chão o fizera.
Com em tantas outras vezes, não dormi. Desta vez, por uma razão diferente.
segunda-feira, 16 de junho de 2014
eu e você
formamos um
mas somos muitos
pois somos dois
e como um andamos
sempre juntos
a longa estrada
que tanto nos separa
é a mesma estrada
que um dia pode nos unir
pois a vida é uma moeda
de duas mesmas faces
ou então é uma queda
em que se morre e se renasce
não chore mais
enxugue a triste lágrima
e comece a sorrir
pois o tempo urge
a vida é curta
e o amor está por vir
formamos um
mas somos muitos
pois somos dois
e como um andamos
sempre juntos
a longa estrada
que tanto nos separa
é a mesma estrada
que um dia pode nos unir
pois a vida é uma moeda
de duas mesmas faces
ou então é uma queda
em que se morre e se renasce
não chore mais
enxugue a triste lágrima
e comece a sorrir
pois o tempo urge
a vida é curta
e o amor está por vir
quarta-feira, 11 de junho de 2014
De olhos, espelhos e outras coisas desrelacionadas
Exultei ao ver-te mil vezes multiplicada naquela sala de espelhos. Eras só uma e no entanto eras mil. Só eram dois os meus olhos que, insuficientes para tanto, restaram cegos. Hoje, dois buracos profundos ocupam suas órbitas.
Shakespeare não merece reparo, porém escondeu o fato de que Julieta finalmente descobrira quem era ao ver-se no espelho e não se enxergar. Julieta descobriu também que Romeu era o que nunca antes fora ao também nunca mais vê-lo no espelho. Romeu, por outro lado, apaixonado por si mesmo, viu-se no espelho e esqueceu Julieta. E duas vidas foram salvas (duas almas entretanto se perderam). O que é apenas um corpo e o que são apenas dois corpos sem o fogo da paixão? O espelho pode ter este condão de extinguir certas flamejantes porém temporárias chamas.
Cumpre visitar-se muitas vezes o espelho para que se tenha vergonha na cara. Na casa dos políticos não há espelhos. As casas dos críticos possuem janelas ao invés de espelhos. O espelho do pensador é a janela que dá para rua e a rua e quem passa por ela olha o pensador na janela. Já a janela do artista tem vista para o mundo e se parece com um espelho antigo.
O tempo, no espelho, se dilata, enquanto o espaço se comprime, segundo a teoria da relatividade irrestrita. A música é um espelho auditivo que reflete o som do coração do compositor.
Todos os espelhos da minha casa requerem um bom polimento. Mas eu deixo sempre para amanhã. A ferrugem tomou conta de mim e do meu espelho. A idade é implacável. Só lá dentro de mim ainda sou criança. E dou risada desta minha triste e aventureira figura. Um dom Quixote sem Dulcinéia; Pip! na minha mesa ainda está o bolo de casamento de miss Harvischam.
Chato foi quando eu mirei minha imagem no espelho e não me reconheci. Míopes, eram olhos que não viam. Só me vejo disfarçado, pois as lentes dos óculos me alteram a feição.
Ora, o que é um espelho? Nele a pessoa não vê o que outros vêem quando a vêem. Há uma auto-censura que não o permite. Se houvesse um espelho da alma, quem sabe eu poderia ser melhor do que sou. Ou, quem sabe, pior. Nunca sei por onde vou. Nunca sei que caminhos me levariam. Nunca sei onde quero chegar. Há sempre um interrogação na estrada.
Meus olhos são o espelho do mundo. Teus olhos nos meus, o paraíso. Meus olhos sem os teus, perdição. O meu olhar quando sozinho, uma imensa solidão. O olho direito tem uma ferida, o esquerdo é míope. Salvam-se neles o azul do céu misturado com o verde do mar, como um beijo fino e longuilineo. Olhos de horizonte e esperança ainda que sofridos. Olhos de serpente, olhos de Pandora. Um olho é solitário e vagueia pelo céu, o outro, cansado, descansa sob um véu... de vidro. Um chora perdidamente apaixonado, enquanto o outro, implacável, condena à pena máxima.
No quintal há um segredo, enterrado, num lugar indeterminado, esquecido ou que eu preferia esquecer. Mas afinal, quem não tem um segredo?
Quisera eu saber seus segredos e entrar dentro deles. Materializar seu sonhos. Fazer mágica em teu corpo e em teus pensamentos.
Abracadabra! Eis-te enfim sob meu domínio.
terça-feira, 10 de junho de 2014
tudo o que eu vejo
nesta triste caminhada
o abandono de mil dias
a árida planura que mora
na agrura baldia de um terreno
o musgo que cobre o muro
sob o qual me escondo
tudo o que eu sofro
é a dor que o nada faz
preferia a aguda dor da punhalada
a plangente e dura face de uma lâmina
que a amargura sempre igual da indiferença
nesta triste caminhada
o abandono de mil dias
a árida planura que mora
na agrura baldia de um terreno
o musgo que cobre o muro
sob o qual me escondo
tudo o que eu sofro
é a dor que o nada faz
preferia a aguda dor da punhalada
a plangente e dura face de uma lâmina
que a amargura sempre igual da indiferença
domingo, 8 de junho de 2014
Tudo começou quando, numa bela manhã, bem no centro da praça central, num canteiro de flores, bem em meio a petúnias e bromélias, surgiu uma caixa de som misteriosa. Veio assim, do nada. Alguém a colocou lá ou então caiu do céu. Uns diziam ter vindo do espaço, outros que tinha sido importada da Mongólia, mas ninguém tinha qualquer prova do que dizia, sendo, portanto, mera especulação.
A caixa era desprovida de maiores atrativos. Cor de madeira nua, sem qualquer identificação, nem sua forma tinha nada de especial, sendo meramente retangular como normalmente são as caixas de som. Entretanto, ela tinha algo de muito especial. Movida por alguma misteriosa e potente bateria, ela, vez por outra, emitia um som estridente e logo depois de suas entranhas saia uma voz entre tuberculosa e rouquenha que dizia uma verdade. Era simples assim. O que dizia era quase inacreditável, alguma coisa absurda de contraditória, mas verdadeira.
A primeira verdade avassaladora e retumbante, é a de que a Sra. De Vitalla, famosa e respeitada dama da sociedade, impávida, arrogante, fina, bela, exótica e rigorosamente conservadora, líder inconteste em saber da vida dos outros e a todos condenar implacavelmente como grosseiro ou desonesto, ela, o exemplo a ser seguido, a inigualável, benemérita e respeitada esposa do prefeito, o estava traindo com um mero serviçal, seu motorista particular, famoso entre as putas do baixo meretrício por seu membro descomunal.
Todos já sabiam disso, mas ninguém tinha a coragem de confessar.
A segunda e terrível verdade é a de que o prefeito já sabia há muito tempo das escapadelas úmidas, tórridas, barulhentas e escandalosas de sua digníssima, mas preferiu se calar e várias vezes assistiu escondido as peripécias que já não conseguia realizar, nem mesmo com a sua rechonchuda, jovem e psicodélica amante, a secretária, por sua vez também casada. Falou também qual a elevada porcentagem que ele desviava da merenda escolar.
Muitos desconfiavam há algum tempo dele, bastava reparar na baixa consistência da sopa que as crianças eram obrigadas a engolir.
O editor chefe do bombástico jornal da oposição, só escrevia mentiras. Ele preferia acusar o prefeito de ter desviado dinheiro em obras realizadas dentre dos moldes mais perfeitos de lisura, ao invés daqueles em que o prefeito e os seus asseclas se locupletavam, pois não queria desestruturar os esquemas montados, para que pudesse locupletar-se por sua vez quando chegasse a sua hora de ocupar o sonhado cargo. Era essa a razão de suas denúncias nunca implicassem em condenação, o que fazia que os eleitores ficassem ainda mais irritados pela impunidade. Tolos e ingênuos, preferiam acreditar em alguém tão parcial como o líder da oposição do que prestar atenção ao fato de nunca terem sido as denúncias acompanhadas de qualquer prova.
Disso aqui ninguém sabia, mas os argumentos eram tão poderosos e coerentes que não puderam questionar. Afinal, só o ser humano pode mentir, uma máquina não (esqueciam que a voz, apesar de metálica e impessoal deveria ser provavelmente de alguma pessoa, não sei se do além ou do aquém, se era voz de morto ou de vivo, mas que era voz, era voz, certamente)
As verdades iam sendo vertidas pela altisonante caixa de som. Enquanto isto, desmascarados, uns fugiam, os outros os perseguiam, sendo que boa parte fugia e perseguia ao mesmo tempo. Nesta hora, ninguém era de ninguém. Alguns aproveitadores não deixaram escapar a oportunidade. Alguns aproveitavam para furtar, outros para depredar, outros ainda para pegar as mulheres traídas ou as mulheres que traiam, todas essas fáceis nessa hora.
Por fim, assim como veio, a maldita máquina partiu. Entre mortos e feridos todos sobrevivam, mas não sobreviveu ninguém. A cidade, alterada para sempre, nunca mais foi a mesma. Uns tinham saudades dos velhos tempo, aqueles tempos de antes da máquina, como diziam a boca miúdas nas esquinas e becos mais sombrios. Outros achavam que agora, diante do império da verdade que se estabelecera, apesar das mágoas e feridas que só as verdades produzem tão profundas, era tudo melhor. Pelo menos se sabia em que tipo de lama se poderia assentar o pé antes de seguir seu caminho. Ainda havia uma parte que não sabia se ficara melhor ou pior depois que a caixa de som da verdade pousara e partira misteriosamente da praça daquela não tão pacata cidade.
A caixa era desprovida de maiores atrativos. Cor de madeira nua, sem qualquer identificação, nem sua forma tinha nada de especial, sendo meramente retangular como normalmente são as caixas de som. Entretanto, ela tinha algo de muito especial. Movida por alguma misteriosa e potente bateria, ela, vez por outra, emitia um som estridente e logo depois de suas entranhas saia uma voz entre tuberculosa e rouquenha que dizia uma verdade. Era simples assim. O que dizia era quase inacreditável, alguma coisa absurda de contraditória, mas verdadeira.
A primeira verdade avassaladora e retumbante, é a de que a Sra. De Vitalla, famosa e respeitada dama da sociedade, impávida, arrogante, fina, bela, exótica e rigorosamente conservadora, líder inconteste em saber da vida dos outros e a todos condenar implacavelmente como grosseiro ou desonesto, ela, o exemplo a ser seguido, a inigualável, benemérita e respeitada esposa do prefeito, o estava traindo com um mero serviçal, seu motorista particular, famoso entre as putas do baixo meretrício por seu membro descomunal.
Todos já sabiam disso, mas ninguém tinha a coragem de confessar.
A segunda e terrível verdade é a de que o prefeito já sabia há muito tempo das escapadelas úmidas, tórridas, barulhentas e escandalosas de sua digníssima, mas preferiu se calar e várias vezes assistiu escondido as peripécias que já não conseguia realizar, nem mesmo com a sua rechonchuda, jovem e psicodélica amante, a secretária, por sua vez também casada. Falou também qual a elevada porcentagem que ele desviava da merenda escolar.
Muitos desconfiavam há algum tempo dele, bastava reparar na baixa consistência da sopa que as crianças eram obrigadas a engolir.
O editor chefe do bombástico jornal da oposição, só escrevia mentiras. Ele preferia acusar o prefeito de ter desviado dinheiro em obras realizadas dentre dos moldes mais perfeitos de lisura, ao invés daqueles em que o prefeito e os seus asseclas se locupletavam, pois não queria desestruturar os esquemas montados, para que pudesse locupletar-se por sua vez quando chegasse a sua hora de ocupar o sonhado cargo. Era essa a razão de suas denúncias nunca implicassem em condenação, o que fazia que os eleitores ficassem ainda mais irritados pela impunidade. Tolos e ingênuos, preferiam acreditar em alguém tão parcial como o líder da oposição do que prestar atenção ao fato de nunca terem sido as denúncias acompanhadas de qualquer prova.
Disso aqui ninguém sabia, mas os argumentos eram tão poderosos e coerentes que não puderam questionar. Afinal, só o ser humano pode mentir, uma máquina não (esqueciam que a voz, apesar de metálica e impessoal deveria ser provavelmente de alguma pessoa, não sei se do além ou do aquém, se era voz de morto ou de vivo, mas que era voz, era voz, certamente)
As verdades iam sendo vertidas pela altisonante caixa de som. Enquanto isto, desmascarados, uns fugiam, os outros os perseguiam, sendo que boa parte fugia e perseguia ao mesmo tempo. Nesta hora, ninguém era de ninguém. Alguns aproveitadores não deixaram escapar a oportunidade. Alguns aproveitavam para furtar, outros para depredar, outros ainda para pegar as mulheres traídas ou as mulheres que traiam, todas essas fáceis nessa hora.
Por fim, assim como veio, a maldita máquina partiu. Entre mortos e feridos todos sobrevivam, mas não sobreviveu ninguém. A cidade, alterada para sempre, nunca mais foi a mesma. Uns tinham saudades dos velhos tempo, aqueles tempos de antes da máquina, como diziam a boca miúdas nas esquinas e becos mais sombrios. Outros achavam que agora, diante do império da verdade que se estabelecera, apesar das mágoas e feridas que só as verdades produzem tão profundas, era tudo melhor. Pelo menos se sabia em que tipo de lama se poderia assentar o pé antes de seguir seu caminho. Ainda havia uma parte que não sabia se ficara melhor ou pior depois que a caixa de som da verdade pousara e partira misteriosamente da praça daquela não tão pacata cidade.
segunda-feira, 26 de maio de 2014
Olho além do que vejo
vejo além do alcance do olhar
sei que além do horizonte
há uma terra um céu e um mar
e nessa terra distante
há muito mais do que aqui
a mesmice é minha vizinha
é sempre a mesma a avezinha
que insiste em me acordar
os dias são sempre iguais
e os jornais tão banais
que jamais quero acordar
as vizinhas são sempre as mesmas
no quintais passeiam as lesmas
e as noites me apavoram
mas tudo muda de figura
quando mudo minha textura
em que me permito enfim voar
pois nas asas do sonho
e do poema que componho
mesmo nos dias de ampla dor
pois no que sonho
é a poesia que componho
ao invés do pavor
como se eu não pudesse contê-la
numa torrente indômita e intrépita
na ânsia plena de tê-la
uma força imaginária e centrípeta
ver faz acreditar na ilusão
de que não sejam simples perdigotos
mas pedaços que soltam de mim
lançados ao vento e ao fim
dos sentimentos mais ignotos
Mas cala-te, boca tola
não te querem ouvir!
preferem ouvir falar mal dos outros.
-x-
Quem diz sempre sim
na verdade diz não
pois o sim infinito é impossível
assim como é o amor é sozinho
e o apressado é quase vizinho
do cru e do desencontro
assim como o ódio é a dois
do dia a dia o feijão com arroz
e a represa transbordada dos sentimentos
assim como o dois é sempre um
a soma de todos uns é sempre um
assim como um pode ser três
e o três jamais pode ser mais
Quem diz sempre não
na verdade diz sim
pois o infinito não é a negação do infinito
(o infinito pode ser de saudade
o infinito pode ser de dor
o infinito pode ser de tanto te amar)
assim como a verdade pode ser singela
como o feijão que há de queimar na panela
a fruta verde que pende do galho
o cheiro de cebola, coentro e alho
que vem lá do fundo da cozinha
é assim que a coisa caminha
-x-
O doce é doce, muito doce
mas teus lábios são
o doce do doce
o algodão doce da minha infância
o doce de coco
que alimenta o meu sorriso
é o doce da sobremesa
da refeição que eu preciso
no fim de cada dia
o doce que há na melancia
o doce que é o doce do meu ser
o doce de cada afazer
o doce de cada cocada
que que eu vejo no tabuleiro
da baiana da saia rendada
que fica no fim da ladeira
é o doce que há na madeira
o açúcar que edulcora minha emoção
o sal é salgado
mas o sal de tuas lágrimas
é o sal do Sol
o sal que enche de sabor
a carne que como
é o sal do mar
e do amar
o sal da terra
e da serra
que brota na flor
do meu amor
é o sal dos sabores
um vulcão de cores
que mina na ótica
da pele que há nas pétalas
nas batatas e nas féculas
e que germinam
do fundo dos séculos
enchendo meus olhos
vejo além do alcance do olhar
sei que além do horizonte
há uma terra um céu e um mar
e nessa terra distante
há muito mais do que aqui
a mesmice é minha vizinha
é sempre a mesma a avezinha
que insiste em me acordar
os dias são sempre iguais
e os jornais tão banais
que jamais quero acordar
as vizinhas são sempre as mesmas
no quintais passeiam as lesmas
e as noites me apavoram
mas tudo muda de figura
quando mudo minha textura
em que me permito enfim voar
pois nas asas do sonho
e do poema que componho
mesmo nos dias de ampla dor
pois no que sonho
é a poesia que componho
ao invés do pavor
como se eu não pudesse contê-la
numa torrente indômita e intrépita
na ânsia plena de tê-la
uma força imaginária e centrípeta
ver faz acreditar na ilusão
de que não sejam simples perdigotos
mas pedaços que soltam de mim
lançados ao vento e ao fim
dos sentimentos mais ignotos
Mas cala-te, boca tola
não te querem ouvir!
preferem ouvir falar mal dos outros.
-x-
Quem diz sempre sim
na verdade diz não
pois o sim infinito é impossível
assim como é o amor é sozinho
e o apressado é quase vizinho
do cru e do desencontro
assim como o ódio é a dois
do dia a dia o feijão com arroz
e a represa transbordada dos sentimentos
assim como o dois é sempre um
a soma de todos uns é sempre um
assim como um pode ser três
e o três jamais pode ser mais
Quem diz sempre não
na verdade diz sim
pois o infinito não é a negação do infinito
(o infinito pode ser de saudade
o infinito pode ser de dor
o infinito pode ser de tanto te amar)
assim como a verdade pode ser singela
como o feijão que há de queimar na panela
a fruta verde que pende do galho
o cheiro de cebola, coentro e alho
que vem lá do fundo da cozinha
é assim que a coisa caminha
-x-
O doce é doce, muito doce
mas teus lábios são
o doce do doce
o algodão doce da minha infância
o doce de coco
que alimenta o meu sorriso
é o doce da sobremesa
da refeição que eu preciso
no fim de cada dia
o doce que há na melancia
o doce que é o doce do meu ser
o doce de cada afazer
o doce de cada cocada
que que eu vejo no tabuleiro
da baiana da saia rendada
que fica no fim da ladeira
é o doce que há na madeira
o açúcar que edulcora minha emoção
o sal é salgado
mas o sal de tuas lágrimas
é o sal do Sol
o sal que enche de sabor
a carne que como
é o sal do mar
e do amar
o sal da terra
e da serra
que brota na flor
do meu amor
é o sal dos sabores
um vulcão de cores
que mina na ótica
da pele que há nas pétalas
nas batatas e nas féculas
e que germinam
do fundo dos séculos
enchendo meus olhos
terça-feira, 20 de maio de 2014
duas fontes haviam
onde agora já não flui o tempo
duas horas se passaram
e o mundo girou sobre si mesmo
num rodopio estonteante
duas setas encravadas em meu peito
formaram duas amplas e largas feridas
ah! o que faz um olhar
quando atravessa o ar e brilha em um outro
jaz meu corpo, agora insensato
no torpor de vinte anos passados
fez de mim o tempo
o que fez das encostas com o vento
erodindo com as suas ondas a costeira
com rajadas a tempestade ainda me assola
freme a vida restante em veias entupidas
a dor do passar do tempo
é lancinante, certeira e comprida
só a lembrança do teu olhar
é o que ainda me consola
se em teu coração já passei
no meu coração ainda és viva
onde agora já não flui o tempo
duas horas se passaram
e o mundo girou sobre si mesmo
num rodopio estonteante
duas setas encravadas em meu peito
formaram duas amplas e largas feridas
ah! o que faz um olhar
quando atravessa o ar e brilha em um outro
jaz meu corpo, agora insensato
no torpor de vinte anos passados
fez de mim o tempo
o que fez das encostas com o vento
erodindo com as suas ondas a costeira
com rajadas a tempestade ainda me assola
freme a vida restante em veias entupidas
a dor do passar do tempo
é lancinante, certeira e comprida
só a lembrança do teu olhar
é o que ainda me consola
se em teu coração já passei
no meu coração ainda és viva
sexta-feira, 16 de maio de 2014
I - A mulher ideal
Amo a puta que existe
dentro de uma mulher
que faz de mim e dos outros
tudo aquilo que bem quer
e ao que os outros é abjeto
a mim é coisa que muito agrada
ser um homem-objeto
de uma moça safada
mas só para contradizer
amo também a outra parte
e tenho muito a dizer
se permitir minha arte
da mulher que me é submissa
que é decente e vai a missa
e faz tudo que eu quero
na cama e na cozinha
que sempre foi apenas minha
e por isso mesmo a venero
mas isso tudo é bem pouco
a poesia é imensa
e o poeta é um louco
que tudo diz sem ofensa
e tanta coisa adora inventar
que nada na vida lhe faz mal
por isso agora vou cantar
da mulher que a mim é igual
pois ela mais do que tudo
de qualquer maneira que seja
de paixão me deixa mudo
e está comigo pois me deseja
mais que tudo no mundo
e meu viver se torna fecundo
mas a mulher que mais amo
e da qual nunca reclamo
é aquela que resuma
todas aquelas em uma
Amo a puta que existe
dentro de uma mulher
que faz de mim e dos outros
tudo aquilo que bem quer
e ao que os outros é abjeto
a mim é coisa que muito agrada
ser um homem-objeto
de uma moça safada
mas só para contradizer
amo também a outra parte
e tenho muito a dizer
se permitir minha arte
da mulher que me é submissa
que é decente e vai a missa
e faz tudo que eu quero
na cama e na cozinha
que sempre foi apenas minha
e por isso mesmo a venero
mas isso tudo é bem pouco
a poesia é imensa
e o poeta é um louco
que tudo diz sem ofensa
e tanta coisa adora inventar
que nada na vida lhe faz mal
por isso agora vou cantar
da mulher que a mim é igual
pois ela mais do que tudo
de qualquer maneira que seja
de paixão me deixa mudo
e está comigo pois me deseja
mais que tudo no mundo
e meu viver se torna fecundo
mas a mulher que mais amo
e da qual nunca reclamo
é aquela que resuma
todas aquelas em uma
Nasceu no bosque uma pequena flor. Pétalas singelas, cores suaves
como nenhum pintor jamais seria capaz de combinar, em perfeita harmonia
com a paisagem que lhe cerca. Escondida sob as gramíneas e distante dos
olhares, dela ninguém se dá conta, pois germinou longe do caminho dos
homens. Mas ela, por sua vez, também não se dá conta de quem vai pela
estrada. Ela não precisa de olhares. Ela se basta. Lhe basta o simples
amor de uma errante abelha que atrevida roube seu néctar e leve seu
pólen a outras paragens ou de fugaz beija-flor que dela se enamore. Talvez se vá em breve, pois uma flor dura
pouco, sem que jamais tenha sido vista. Mas, que lhe importa ter sido
esquecida?
Assim é também o destino do verso que nunca foi publicado. Nasceu na alma do poeta apaixonado para traduzir seu sentimento único e morreu em seu esquecimento. Parece triste, mas na verdade o verso, quando iluminado pela verdade do sentimento, basta em si por sua luz, assim como a flor que desabrocha isolada dos olhares e desaparece sob as folhas secas do campo.
Os olhares são apenas intrusos.
Assim é também o destino do verso que nunca foi publicado. Nasceu na alma do poeta apaixonado para traduzir seu sentimento único e morreu em seu esquecimento. Parece triste, mas na verdade o verso, quando iluminado pela verdade do sentimento, basta em si por sua luz, assim como a flor que desabrocha isolada dos olhares e desaparece sob as folhas secas do campo.
Os olhares são apenas intrusos.
segunda-feira, 12 de maio de 2014
- Como foi de férias?
- Fiquei em casa. Não viajei. Aproveitei para descansar e dormir um pouco mais.
- E esses sonos foram com sonhos?
- Sim. Sonhei.
- Então, viajou, pois nos sonhos se pode ir a todos os lugares que existem e que não existem. O mundo dos sonhos é ilimitado.
-x-
Uma coisa misteriosa e inexplicável é o aprendizado. Como da escuridão se produz a luz? Se não se sabia como se pode vir a saber? Como é rompida a barreira da ignorância?
O verdadeiro mestre é um sábio, um santo ou um mágico? A lição é um passe, um abracadabra ou pó de pirlimpimpim? Os livros são seres animados, que tem vida própria. A TV é muito educativa, pois quando se liga uma delas, me dá uma louca vontade de ler, disse com propriedade Groucho Marx.
Diz o saber : Decifra-me, ou te devoro. Uma medusa de mil cabeças fundiu a cuca do aprendiz. Melhor ter uma cuca fundida do que congelada. Se bem que o calor da informação poderia derretê-la. A cuca fundida é moldável, se a cuca não pode mudar, será invencível o limite da ignorância. Por outro lado, se o conhecimento for possível ele será ilimitado.
“As únicas desgraças completas são as desgraças com as quais nada aprendemos.” – William Ernest Hocking
-x-
Lua
Sol
Mar
e poesia
o Lá é o meu lar
o meu amor e o meu desejo
Lá, Sol e Mi
Sol maior - O Sol é o maior - engole a Lua
A música é coisa que acontece no tempo
A música é o silêncio da mente objetiva
A música é uma uma coisa tão muda
Só ela consegue falar sem nada falar
pedi aos céus
pedi a Lua
pedi o Sol
pedi o Mar
pedi a poesia
pedi a musa
pedi a música
e só ela é que me foi concedida
e nela a minha mente foi concebida
- Fiquei em casa. Não viajei. Aproveitei para descansar e dormir um pouco mais.
- E esses sonos foram com sonhos?
- Sim. Sonhei.
- Então, viajou, pois nos sonhos se pode ir a todos os lugares que existem e que não existem. O mundo dos sonhos é ilimitado.
-x-
Uma coisa misteriosa e inexplicável é o aprendizado. Como da escuridão se produz a luz? Se não se sabia como se pode vir a saber? Como é rompida a barreira da ignorância?
O verdadeiro mestre é um sábio, um santo ou um mágico? A lição é um passe, um abracadabra ou pó de pirlimpimpim? Os livros são seres animados, que tem vida própria. A TV é muito educativa, pois quando se liga uma delas, me dá uma louca vontade de ler, disse com propriedade Groucho Marx.
Diz o saber : Decifra-me, ou te devoro. Uma medusa de mil cabeças fundiu a cuca do aprendiz. Melhor ter uma cuca fundida do que congelada. Se bem que o calor da informação poderia derretê-la. A cuca fundida é moldável, se a cuca não pode mudar, será invencível o limite da ignorância. Por outro lado, se o conhecimento for possível ele será ilimitado.
“As únicas desgraças completas são as desgraças com as quais nada aprendemos.” – William Ernest Hocking
-x-
Lua
Sol
Mar
e poesia
o Lá é o meu lar
o meu amor e o meu desejo
Lá, Sol e Mi
Sol maior - O Sol é o maior - engole a Lua
A música é coisa que acontece no tempo
A música é o silêncio da mente objetiva
A música é uma uma coisa tão muda
Só ela consegue falar sem nada falar
pedi aos céus
pedi a Lua
pedi o Sol
pedi o Mar
pedi a poesia
pedi a musa
pedi a música
e só ela é que me foi concedida
e nela a minha mente foi concebida
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Recuperando alguns textos de posts antigos
Quem seria eu?
Se eu tivesse um olhar
Se eu tivesse uns lábios
Se eu tivesse um corpo
que fossem só meus e me amassem ...
nem que fosse por pouco tempo
mas eu sou quem sou
e não quem eu queria
apenas me olho no espelho
e imagino alguém ao meu lado
mas, qual nada
apenas o vazio
ocupa minhas vizinhanças
Sou um terreno baldio
que restou em meio aos prédios
e das janelas me atiram seus restos
-x-
CREDO
creio
piamente
em tua boca
e no céu
que lá existe
(único céu
que ainda me resta
: o outro
para sempre
jaz perdido)
creio no santo poder
dos teu olhos
sobre meu ser
(dos meus
inconfessáveis pecados
faz be-atos)
sob a luz
que emanas
em meu caminho
tudo é sagrado
mas se na escuridão
de tua lamentada ausência
trevas
(só a luz do teu olhar
acende meus faróis)
creio sobretudo
na divindade
de tua pélvis
(apaixonadamente
ali mergulho
: batismo de sangue)
teus olhos são-me guias
abrem olhos antes cegos
a verdade que mora em teu ser
dissipa nuvens eternas
do contumaz ceticismo
que me anuvia
derrete seu calor
neves sempre brancas do meu gelo
trocaria a eternidade
por um breve momento ao teu lado
e todas as minhas idades
vividas ou ainda por viver
todos beijos que já sonhei
por um único beijo teu
resignar-me-ia até à eterna dor
para ter um breve instante do teu amor
-x-
LUANA é LUZ
Luana é a Luz da Lua.
Luana na noite, a prata dos olhos ardentes sob a luz da Lua, o prato prateado reflete seu rosto.
Luana ao Luar a pensar em dar seu corpo a qualquer seu súdito. Luana a sonhar que é rainha. Ter os homens aos seus pés submissos aos seus caprichos.
Luana sonha se dama, mas na verdade é piranha, é o prêmio maior de quem a queira, pois Luana é a Lua e andam juntas suas luzes. A luz da Lua, tomada ao Sol, a luz de Luana furtada aos seus sonhos.
Luana na rua, Luana na Lua, Luana é meu sonho e seu sonho é também ser sua a Lua . Luana é luz da inocência, na indecência da noite, na excrescência das ruas, na avidez de escuridão que tem a Lua. Qual queres das duas? A Lua e seu romantismo ou a a falta de decoro de Luana?
O que responde a vida: a morte, pois sua inclemência não perdoa!
Mas Luana é eterna e não morre (e no fundo este é seu desejo). Dá só para quem é especial e ela bem descobriu que todos o são.
Luana é cheia de graça, mas não é de graça, ... bom, é quase isso...
Luana na rua, Luana na noite, ela é minha ou é tua? Luana é nossa assim como o é a Luz da Lua, pois sua luz é democrática e vadia e se projeta igualmente sobre todos.
-x-
Se eu tivesse um olhar
Se eu tivesse uns lábios
Se eu tivesse um corpo
que fossem só meus e me amassem ...
nem que fosse por pouco tempo
mas eu sou quem sou
e não quem eu queria
apenas me olho no espelho
e imagino alguém ao meu lado
mas, qual nada
apenas o vazio
ocupa minhas vizinhanças
Sou um terreno baldio
que restou em meio aos prédios
e das janelas me atiram seus restos
-x-
CREDO
creio
piamente
em tua boca
e no céu
que lá existe
(único céu
que ainda me resta
: o outro
para sempre
jaz perdido)
creio no santo poder
dos teu olhos
sobre meu ser
(dos meus
inconfessáveis pecados
faz be-atos)
sob a luz
que emanas
em meu caminho
tudo é sagrado
mas se na escuridão
de tua lamentada ausência
trevas
(só a luz do teu olhar
acende meus faróis)
creio sobretudo
na divindade
de tua pélvis
(apaixonadamente
ali mergulho
: batismo de sangue)
teus olhos são-me guias
abrem olhos antes cegos
a verdade que mora em teu ser
dissipa nuvens eternas
do contumaz ceticismo
que me anuvia
derrete seu calor
neves sempre brancas do meu gelo
trocaria a eternidade
por um breve momento ao teu lado
e todas as minhas idades
vividas ou ainda por viver
todos beijos que já sonhei
por um único beijo teu
resignar-me-ia até à eterna dor
para ter um breve instante do teu amor
-x-
LUANA é LUZ
Luana é a Luz da Lua.
Luana na noite, a prata dos olhos ardentes sob a luz da Lua, o prato prateado reflete seu rosto.
Luana ao Luar a pensar em dar seu corpo a qualquer seu súdito. Luana a sonhar que é rainha. Ter os homens aos seus pés submissos aos seus caprichos.
Luana sonha se dama, mas na verdade é piranha, é o prêmio maior de quem a queira, pois Luana é a Lua e andam juntas suas luzes. A luz da Lua, tomada ao Sol, a luz de Luana furtada aos seus sonhos.
Luana na rua, Luana na Lua, Luana é meu sonho e seu sonho é também ser sua a Lua . Luana é luz da inocência, na indecência da noite, na excrescência das ruas, na avidez de escuridão que tem a Lua. Qual queres das duas? A Lua e seu romantismo ou a a falta de decoro de Luana?
O que responde a vida: a morte, pois sua inclemência não perdoa!
Mas Luana é eterna e não morre (e no fundo este é seu desejo). Dá só para quem é especial e ela bem descobriu que todos o são.
Luana é cheia de graça, mas não é de graça, ... bom, é quase isso...
Luana na rua, Luana na noite, ela é minha ou é tua? Luana é nossa assim como o é a Luz da Lua, pois sua luz é democrática e vadia e se projeta igualmente sobre todos.
-x-
Argemira
Toda vez que Argemira tinha uma
decepção amorosa, ela fazia um bolo diferente. Descontava na culinária as
decepções do coração e o amor que lhe fervia nas veias, o desejo pelo amor
desfeito e contrafeito, a poesia desengonçada, esquecida e abandonada ao lado
do abajur sobre o criado mudo dos tempos passados, a memória de tudo que
poderia ter sido bonito e não foi, jogava tudo isso e muito mais como se fossem
ingredientes na massa informe do bolo.
O bolo crescia em tamanho e sabor
e todos corriam para provar o bolo de Argemira que era uma delícia. Toda vez
que Argemira terminava um caso, o povo fazia fila para esperar o seu bolo do
desamor. Ela não comia seus bolos, pois seria amar e sofrer tudo de novo. O
bolo servia para ela se livrar das dores, já que estas se desprendiam de
Argemira e partiam junto com o amor, ligando-se definitivamente à massa do
bolo. Do coração de Argermira para a pança de seus clientes fluíam inesgotáveis
os amores vencidos.
Vendia o bolo. Vendia o amor. E
ganhava dinheiro com isso, uma banal compensação. Acabou ficando rica de tanto
vender bolos e muitos pretendentes apareceram. Uns a amavam de verdade e ela,
cansada de amar, os ensinava a fazer um bolo do amor sem esperança que sentiam.
Viveu para sempre sozinha. Nunca mais amou, mas seus bolos ficaram famosos e
viraram uma franquia famosa e lucrativa.
sexta-feira, 2 de maio de 2014
há flores em teu sorriso
quando perguntas:
- primavera?
eu, caído em folhas,
respondo:
- outono
(nossos olhares
cruzam
em sentidos opostos
encontrando-se no infinito)
teu olhar bronzeado
me insinua : então, verão?
meu rosto
cheio de vales
o cume nevado
rebate : inverno
(meus braços
estendem-se em tua direção
mas só encontram o vão
de tua ausência)
nosso destino :
viver estações alternadas
quando perguntas:
- primavera?
eu, caído em folhas,
respondo:
- outono
(nossos olhares
cruzam
em sentidos opostos
encontrando-se no infinito)
teu olhar bronzeado
me insinua : então, verão?
meu rosto
cheio de vales
o cume nevado
rebate : inverno
(meus braços
estendem-se em tua direção
mas só encontram o vão
de tua ausência)
nosso destino :
viver estações alternadas
quinta-feira, 24 de abril de 2014
que o mundo exploda ou renasça
e a vida se faça ou se desfaça
se em teus braços não me importa
depois que chegas e abro a porta
as horas passam sem custar
os ponteiros rodam loucamente
rodopiam idéias na mente
que o mundo exista ou não exista
quem há de dizer sem espanto
sob o traiçoeiro encanto
do feitiço do teu olhar?
só o Sol quando amanhece
e sob sua luz tão intensa
a estranha teia que tece
e a natureza toda a se espreguiçar
poderia dizer a um coitado
que jamais amou ou foi amado
que nunca passeou pelo teu corpo
(e isso é igual a estar morto)
que o mundo não é feito de gelo
que se derrete todo ao apelo
teu corpo aberto a clamar
-x-x-x-
No final de semana vou postar algumas fotos do lugares que visitei durante minhas férias na Califórnia.
O roteiro foi o seguinte : Natal/São Paulo/Miami/Las Vegas/Death Valley/Trona Pinacles(Ridgecrest)/ Randsburg, Fresno, Sequoia Park, Mariposa/ Yosemite/ Groveland/ San Francisco/ Carmel/ Big Sur/ Solvang/Santa Barbara, Los Angeles/ San Diego/ Miami/ Salvador/Natal
e a vida se faça ou se desfaça
se em teus braços não me importa
depois que chegas e abro a porta
as horas passam sem custar
os ponteiros rodam loucamente
rodopiam idéias na mente
que o mundo exista ou não exista
quem há de dizer sem espanto
sob o traiçoeiro encanto
do feitiço do teu olhar?
só o Sol quando amanhece
e sob sua luz tão intensa
a estranha teia que tece
e a natureza toda a se espreguiçar
poderia dizer a um coitado
que jamais amou ou foi amado
que nunca passeou pelo teu corpo
(e isso é igual a estar morto)
que o mundo não é feito de gelo
que se derrete todo ao apelo
teu corpo aberto a clamar
-x-x-x-
No final de semana vou postar algumas fotos do lugares que visitei durante minhas férias na Califórnia.
O roteiro foi o seguinte : Natal/São Paulo/Miami/Las Vegas/Death Valley/Trona Pinacles(Ridgecrest)/ Randsburg, Fresno, Sequoia Park, Mariposa/ Yosemite/ Groveland/ San Francisco/ Carmel/ Big Sur/ Solvang/Santa Barbara, Los Angeles/ San Diego/ Miami/ Salvador/Natal
quarta-feira, 23 de abril de 2014
Voltei
Eu sou mudo
e todos tão surdos
que adianta dizer
se ninguém ouve?
que adianta escrever
se todos são tão cegos?
(e eu fui tão cego
em não te escrever
e tu fostes cega
em não me ler
fomos ambos cegos e surdos
neste mútuo esquecer)
estão todos ocupados demais
com seus próprios pensamentos
para se preocupar
com o que os outros se preocupam
até eu, até eu, que sou ateu
(que me perdoe Deus por ser assim)
devo a todos confessar
( o que me faz o único humano errado no mundo
confessar é ser criminoso
e só os que pecam escondidos são puros
neste mundo de confessas aparências)
egoístas, é isso que somos!
não adianta chamar
trimmmmmmmmmmmmm
pois só dá tú tú tú tú tú
todos só querem ler
o que eles próprios escrevem
ou então ler alguém muito famoso
(mesmo que só seja besteira)
não porque se interessem
mas para não ficarem por fora
que esperança pode ter
um desconhecido escritor?
uma linha não tem o devido valor
um livro custa tanto a escrever
(ele é feito apenas de linhas, vírgulas e pontos
nem sempre de idéias)
e não sei se vale o esforço
-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-
eu não sou você
nós não somos vós
vós não sois alguém
ninguém é de ninguém
alguém não é ninguém
nós nem somos nossos avós
os netos que temos nós não somos
mas somos todos tão parecidos
bem mais parecidos do que supomos
x-x-x-x-x-x-x-x-x-
o retrato
que repousa na parede
sobre a rede
em que repouso
me faz esquecer
ao invés de lembrar
tenho a memória invertida
só lembro do futuro
o passado aprendi a esquecer
-x-
amanhã
será o mesmo dia
tudo é sempre igual
sob Sol e sob chuva
só eu mesmo
é que posso mudar
está em minhas mãos
impedir que o passado se repita
mas, não
eu só sei ficar reclamando das coisas
e dos outros
devia reclamar de mim
Abro a janela
e grito
não deveria gritar
o mundo é reconstruído com silêncio
as cores berram
o retrato em preto branco exprime
só o que deve ser expresso
-x-
Nem sempre soube o que sei
mas ainda sei tão pouco
por outro lado, todo mundo sabe tudo
(ou pensa saber)
a arrogância
é parente
da ignorância
talvez seu disfarce
o saber exige tempo e esforço
a ignorância exige arrogância
( a descrença e quase um saber)
é tão difícil plantar
a semente da dúvida
no solo infértil da ignorância
- falta-lhe a imaginação
sobram-lhe dogmas
- muletas argumentativas -
diferentemente
o solo sábio
é fértil
a semente da dúvida logo germina
e cria novos mundos
-x-
o mar
é distante
do mar
quando estou triste
o teu olhar
sumiu
nas areias do tempo
o meu lar
não é meu lar
minha rua
não é minha rua
eu sozinho
eu abandonado
eu sem-teto
sob a umidade
branca da Lua
a frieza da calçada
aquece meu coração
teu corpo é meu lar
só me sinto em casa
quando estou dentro dele
e todos tão surdos
que adianta dizer
se ninguém ouve?
que adianta escrever
se todos são tão cegos?
(e eu fui tão cego
em não te escrever
e tu fostes cega
em não me ler
fomos ambos cegos e surdos
neste mútuo esquecer)
estão todos ocupados demais
com seus próprios pensamentos
para se preocupar
com o que os outros se preocupam
até eu, até eu, que sou ateu
(que me perdoe Deus por ser assim)
devo a todos confessar
( o que me faz o único humano errado no mundo
confessar é ser criminoso
e só os que pecam escondidos são puros
neste mundo de confessas aparências)
egoístas, é isso que somos!
não adianta chamar
trimmmmmmmmmmmmm
pois só dá tú tú tú tú tú
todos só querem ler
o que eles próprios escrevem
ou então ler alguém muito famoso
(mesmo que só seja besteira)
não porque se interessem
mas para não ficarem por fora
que esperança pode ter
um desconhecido escritor?
uma linha não tem o devido valor
um livro custa tanto a escrever
(ele é feito apenas de linhas, vírgulas e pontos
nem sempre de idéias)
e não sei se vale o esforço
-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-
eu não sou você
nós não somos vós
vós não sois alguém
ninguém é de ninguém
alguém não é ninguém
nós nem somos nossos avós
os netos que temos nós não somos
mas somos todos tão parecidos
bem mais parecidos do que supomos
x-x-x-x-x-x-x-x-x-
o retrato
que repousa na parede
sobre a rede
em que repouso
me faz esquecer
ao invés de lembrar
tenho a memória invertida
só lembro do futuro
o passado aprendi a esquecer
-x-
amanhã
será o mesmo dia
tudo é sempre igual
sob Sol e sob chuva
só eu mesmo
é que posso mudar
está em minhas mãos
impedir que o passado se repita
mas, não
eu só sei ficar reclamando das coisas
e dos outros
devia reclamar de mim
Abro a janela
e grito
não deveria gritar
o mundo é reconstruído com silêncio
as cores berram
o retrato em preto branco exprime
só o que deve ser expresso
-x-
Nem sempre soube o que sei
mas ainda sei tão pouco
por outro lado, todo mundo sabe tudo
(ou pensa saber)
a arrogância
é parente
da ignorância
talvez seu disfarce
o saber exige tempo e esforço
a ignorância exige arrogância
( a descrença e quase um saber)
é tão difícil plantar
a semente da dúvida
no solo infértil da ignorância
- falta-lhe a imaginação
sobram-lhe dogmas
- muletas argumentativas -
diferentemente
o solo sábio
é fértil
a semente da dúvida logo germina
e cria novos mundos
-x-
o mar
é distante
do mar
quando estou triste
o teu olhar
sumiu
nas areias do tempo
o meu lar
não é meu lar
minha rua
não é minha rua
eu sozinho
eu abandonado
eu sem-teto
sob a umidade
branca da Lua
a frieza da calçada
aquece meu coração
teu corpo é meu lar
só me sinto em casa
quando estou dentro dele
sexta-feira, 21 de março de 2014
Estou me afastando por uns bons dias. Viagem, férias, etc.
Até a volta.
Benno
-x-
Daí, me perguntaram:
- e a poesia, onde anda?
- sei lá, acho que se vestiu de brisa e partiu numa noite fria, sem Lua e estrelas, me deixou para sempre e transformou-se em chuva, caindo, agora transformada em miríades de gotas, e umedecendo o solo de outras paragens.
Depois disso, só o silêncio ainda vive em mim, pois dele não consigo me livrar.
-x-
Um principe, apaixonado pela Lua, declarou-se assim:
- Oh Lua! Que fazes aí, no teto do mundo a iluminar a noite e tão distante de mim? Desça cá embaixo ao alcance dos meus sedentos lábios e sejas, de ora em diante, só minha.
A Lua, fria e indiferente, manteve seu eterno silêncio.
Decepcionado, o príncipe projetou-se da sacada e estatelou-se lá embaixo, ficando o antes formoso e guapo sujeito transformado num simples saco de ossos mergulhado numa poça vermelha. Por azar, não morreu, mas esmigalhou os ossos da perna e ficou para sempre inválido.
Seu erro foi sonhar muito alto. O linda e roliça moçoila da casa vizinha, que antes ardia por ele envolta em mil suspiros teve que procurar outra paixão.
Até a volta.
Benno
-x-
Daí, me perguntaram:
- e a poesia, onde anda?
- sei lá, acho que se vestiu de brisa e partiu numa noite fria, sem Lua e estrelas, me deixou para sempre e transformou-se em chuva, caindo, agora transformada em miríades de gotas, e umedecendo o solo de outras paragens.
Depois disso, só o silêncio ainda vive em mim, pois dele não consigo me livrar.
-x-
Um principe, apaixonado pela Lua, declarou-se assim:
- Oh Lua! Que fazes aí, no teto do mundo a iluminar a noite e tão distante de mim? Desça cá embaixo ao alcance dos meus sedentos lábios e sejas, de ora em diante, só minha.
A Lua, fria e indiferente, manteve seu eterno silêncio.
Decepcionado, o príncipe projetou-se da sacada e estatelou-se lá embaixo, ficando o antes formoso e guapo sujeito transformado num simples saco de ossos mergulhado numa poça vermelha. Por azar, não morreu, mas esmigalhou os ossos da perna e ficou para sempre inválido.
Seu erro foi sonhar muito alto. O linda e roliça moçoila da casa vizinha, que antes ardia por ele envolta em mil suspiros teve que procurar outra paixão.
quarta-feira, 19 de março de 2014
Não foi assim que eu havia sonhado, mas ainda assim é tipo um sonho e preciso me beliscar para perceber que é real. Eu tenho essa sensação de estranheza, como se eu não pertencesse a esse mundo, como se eu tivesse sido transplantado de uma sociedade extraterrestre e largado aqui para ver como eu me virava.
É que não consigo entender esta gente que estraga a cada dia a sua própria vida, que vive em amargor e lamentos e entope meus ouvidos com seu choro. Gente que passa por cima dos outros, mas que desfalece ao primeiro contratempo, gente que depende demais dos outros, que não sabe se virar, gente que não se gosta, mas quer que gostem dela. Gente paradoxal, gente complicada, gente triste, gente que clama pelo amor mas só sabe destilar veneno e ódio. O amor pede amor e nada mais.
Uma das coisas que eu mais detesto é aquele tipo de discurso que fala com ódio ou chorando do amor, Pois se é para falar do amor que se fale amando, com gentileza e, antes de de mais nada e sobretudo, sorrindo.
Eu ando pelo cidade, observo poças de água da chuva depositadas nas esquinas, flores que nascem ao acaso em terrenos baldios, peixes beijando lentamente a parede de vidro lisa de aquários. De permeio gente que não liga para peixes, beijos, vidros, poças ou mesmo flores, pois o mundo termina na tola ponta de seus narizes. Eu devia me preocupar menos com os outros, ainda menos do que já me preocupo, afinal eles têem todo o direito de ser como são. Só não gosto de que se lamentem de suas próprias escolhas, ainda mais por não perceberem que ainda é tempo de mudar. Aliás sempre é tempo.
Agora falando sério, agora falando de mim. Eu faço escolhas como todos os outros - erradas e certas, como todos. Todos somos assim, eu sei disso. Mas não desenvolvi essa reprovável habilidade de ficar reclamando. Se estou insatisfeito comigo mesmo, só cabe a mim mudar, fazer outra escolha, ou suportar as consequências do que fiz ou faço. Eu gosto de pensar assim. Não acho que devo apelar a Deus ou pedir ajuda. Ainda que eu conte com sorte, prefiro acreditar que tive méritos. Não gosto de pensar que basta rezar que tudo vai dar certo. Prefiro ajudar a dar certo e meu verdadeiro desejo é resolver sozinho nem que para isso eu precise sofrer o pão que o diabo amassou. Já passei por algumas... Se nem sempre escapei ileso, escapei com vida. Sobreviver é grande chance de levantar a cabeça, sacudir e poeira e seguir em frente.
Vamos lá, gente, chega de lamentação.
É que não consigo entender esta gente que estraga a cada dia a sua própria vida, que vive em amargor e lamentos e entope meus ouvidos com seu choro. Gente que passa por cima dos outros, mas que desfalece ao primeiro contratempo, gente que depende demais dos outros, que não sabe se virar, gente que não se gosta, mas quer que gostem dela. Gente paradoxal, gente complicada, gente triste, gente que clama pelo amor mas só sabe destilar veneno e ódio. O amor pede amor e nada mais.
Uma das coisas que eu mais detesto é aquele tipo de discurso que fala com ódio ou chorando do amor, Pois se é para falar do amor que se fale amando, com gentileza e, antes de de mais nada e sobretudo, sorrindo.
Eu ando pelo cidade, observo poças de água da chuva depositadas nas esquinas, flores que nascem ao acaso em terrenos baldios, peixes beijando lentamente a parede de vidro lisa de aquários. De permeio gente que não liga para peixes, beijos, vidros, poças ou mesmo flores, pois o mundo termina na tola ponta de seus narizes. Eu devia me preocupar menos com os outros, ainda menos do que já me preocupo, afinal eles têem todo o direito de ser como são. Só não gosto de que se lamentem de suas próprias escolhas, ainda mais por não perceberem que ainda é tempo de mudar. Aliás sempre é tempo.
Agora falando sério, agora falando de mim. Eu faço escolhas como todos os outros - erradas e certas, como todos. Todos somos assim, eu sei disso. Mas não desenvolvi essa reprovável habilidade de ficar reclamando. Se estou insatisfeito comigo mesmo, só cabe a mim mudar, fazer outra escolha, ou suportar as consequências do que fiz ou faço. Eu gosto de pensar assim. Não acho que devo apelar a Deus ou pedir ajuda. Ainda que eu conte com sorte, prefiro acreditar que tive méritos. Não gosto de pensar que basta rezar que tudo vai dar certo. Prefiro ajudar a dar certo e meu verdadeiro desejo é resolver sozinho nem que para isso eu precise sofrer o pão que o diabo amassou. Já passei por algumas... Se nem sempre escapei ileso, escapei com vida. Sobreviver é grande chance de levantar a cabeça, sacudir e poeira e seguir em frente.
Vamos lá, gente, chega de lamentação.
segunda-feira, 10 de março de 2014
a lua
a estrela
e o sonho
a letra
no poema
que componho
- a palavra coração solitária ao pé da folha -
a rua
a pele nua
e o teu retrato
a caneca
o café
e o prato
- os dedos deslizam sobre as migalhas de ontem -
o ponteiro
os segundos
o passar das horas
a partida
a espera
e a demora
- talvez ela nunca venha, mas não perco a esperança
a estrela
e o sonho
a letra
no poema
que componho
- a palavra coração solitária ao pé da folha -
a rua
a pele nua
e o teu retrato
a caneca
o café
e o prato
- os dedos deslizam sobre as migalhas de ontem -
o ponteiro
os segundos
o passar das horas
a partida
a espera
e a demora
- talvez ela nunca venha, mas não perco a esperança
sexta-feira, 7 de março de 2014
Sou apenas um vampiro
que deseja ardentemente consumir seu corpo
seu sangue, seus ossos, sua alma
seus dentes, seus olhos, seu ser
- seu tudo -
e deixar-me possuir pela sua essência
(e também deixar um pouco de mim em você)
-x-
Tomo em meus braços
mas sou tomado
me cobre o veludo retinto dos seus cabelos
e, enfim, sou possuído
pelo beijo da mulher vampira
que deseja ardentemente consumir seu corpo
seu sangue, seus ossos, sua alma
seus dentes, seus olhos, seu ser
- seu tudo -
e deixar-me possuir pela sua essência
(e também deixar um pouco de mim em você)
-x-
Tomo em meus braços
mas sou tomado
me cobre o veludo retinto dos seus cabelos
e, enfim, sou possuído
pelo beijo da mulher vampira
O beijo da Vampira - Pintura de Munch
Há muitos vampiros verdadeiros por aí
tomando a nossa inocência
o fruto maduro e o da juventude
há vampiros ignóbeis e vampiros safados
há vampiros de essências
e vampiros de malidicências
eles roubam corações com seus modos elegantes
há um Drácula em cada esquina
eles usam óculos escuros para não vermos melhor o vermelho de seus olhos
há vampiros de essências
e vampiros de malidicências
eles roubam corações com seus modos elegantes
há um Drácula em cada esquina
eles usam óculos escuros para não vermos melhor o vermelho de seus olhos
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
-x-
mais um dia
menos um dia
-x-
um dia
dois dias
nenhum dia
-x-
Nada de novo
nada de bom
(... esqueci do Sol
que ainda brilha lá fora
e também
das flores)
-x-
Vai dia
Vem dia
o mesmo dia ou outro dia?
depende de mim
depende de você
(há gente que faz
há gente que desfaz
a gente que nem faz nem desfaz e ainda leva a fama)
não depende de mim nem de você se haverá este outro dia
vou eu
vem você
vamos e voltamos
por todo lado
enchendo as ruas
(mas sempre por caminhos diferentes que jamais se cruzarão)
-x-
qual será o destino
da semente que
após sorvido o sumo da fruta
cuspimos no quintal?
- quinta feira eu respondo
mais um dia
menos um dia
-x-
um dia
dois dias
nenhum dia
-x-
Nada de novo
nada de bom
(... esqueci do Sol
que ainda brilha lá fora
e também
das flores)
-x-
Vai dia
Vem dia
o mesmo dia ou outro dia?
depende de mim
depende de você
(há gente que faz
há gente que desfaz
a gente que nem faz nem desfaz e ainda leva a fama)
não depende de mim nem de você se haverá este outro dia
vou eu
vem você
vamos e voltamos
por todo lado
enchendo as ruas
(mas sempre por caminhos diferentes que jamais se cruzarão)
-x-
qual será o destino
da semente que
após sorvido o sumo da fruta
cuspimos no quintal?
- quinta feira eu respondo
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Na ponta da manhã despontava o Sol.
E o Sol luzia em verde teu olhar. As cores do universo brincavam. Que
azul do céu a colina esconde se a prata do luar fugiu por detrás do
horizonte?
Surgiu um caudaloso rio pela planície que agora jaz cortada em partes. A parte minha é a da direita, diz o viajante que veio de de tão longe como se o vale fosse uma pizza gigante.
A manhã nasce mais fresca quando mente e corpo estão descansados. O vento fica mais leve e o coração se enche dessa leveza. As flores, ainda nas sombras de uma árvore frondosa, se espreguiçam, eriçam suas pétalas em direção aos olhos meus e seu colorido mágico me invade. Esguicham seu perfume na brisa atiçando meu olfato que já sorvia erotizado o cheiro alegre da manhã.
Uma noite de amor transforma o mundo.Surgiu um caudaloso rio pela planície que agora jaz cortada em partes. A parte minha é a da direita, diz o viajante que veio de de tão longe como se o vale fosse uma pizza gigante.
A manhã nasce mais fresca quando mente e corpo estão descansados. O vento fica mais leve e o coração se enche dessa leveza. As flores, ainda nas sombras de uma árvore frondosa, se espreguiçam, eriçam suas pétalas em direção aos olhos meus e seu colorido mágico me invade. Esguicham seu perfume na brisa atiçando meu olfato que já sorvia erotizado o cheiro alegre da manhã.
-x-
Volutas de fumaça se erguem no horizonte distante. Sinais de fumaça ou chuva, pergunta um distraído peregrino, ou seja, eu. Informação ou chuva? Desinformação ou Sol? - Perguntas jamais se calam, especialmente quando não têm respostas.
Não importa, pois para lá daquele distante monte azulado ergue-se um vale florido por onde corre um doce riacho nas águas do qual repousa o corpo macio e roliço de uma viçosa camponesa. Seu cheiro se mistura e se confunde com a das flores e certamente faz fremir o vento e erguer a intensidade do zumbido de uma abelha colorida. Este poder da mente de criar cenários imaginários é um poder que jamais posso perder. Quer dizer, um pouco que o perdi, pois o barulho e confusão que essa gente faz por pouca coisa me fez esquecer um pouco de tudo me deixando um pouco míope e surdo (confesso que idade tem contribuído para tanto) e peço devolução a quem encontrá-lo por aí.
Mas voltando à camponesa, deixe-me perder-me agora em seus hipotéticos braços...
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
Eu não sei se foram os olhos profundos, o toque da pele, a
textura da cútis ou seu cheiro que me seduziram. Talvez tenha sido o conjunto
da obra.
Os seus olhos, de um negro absurdo, redondos, gigantes,
hipnóticos, aveludados, neles vislumbrei a síntese dos tempos e, como num poço
sem fim, mergulhei para sempre e ainda estou caindo.
A pele, a um simples primeiro contato, me arrepiou. A textura da cútis parecia uma
continuidade de mim.
Certamente, aquele tecido em que deitei meu corpo me foi
concedido por encomenda. Literalmente rolei pelos seus meandros, senti a sua
extensão como uma verdadeira conquista, como aquela dos navegantes que ousaram
e tomaram para si o Novo Mundo. O cheiro há de restar para sempre em minha
memória. Vivo os dias em sua lembrança, inebriado, bêbado e enlouquecido.
Enquanto tirava sua roupa, cada peça por vez e lentamente,
foi esculpindo em mim uma ereção universal. Ela tinha um jeito de se despir
descortinando aos poucos um espetáculo escondido que era seu corpo.
E aí, então, fui todo língua e dedos. Re-esculpi inteiramente
o contorno do seu corpo com o cinzel agudo e escarlate de minha língua. Escalei
o cume ereto de seu seio, lentamente, fingindo ser difícil a escalada (mas não era). A única dificuldade era como o desvendar de um mistério. E
quando a penetrei, não havia mais eu ou ela, pois nos fundimos e viramos um só
corpo, uma só emoção. Meu coração pulsava compassado com o seu coração. E nos
desvencilhamos do nosso passado, para sermos só o presente dos nossos corpos
interpenetrados, na língua, no sexo, na emoção e nos poros.
E eu explodi e ela explodiu. Explodimos ao mesmo tempo como
um Vulcão grandioso que irrompe sobre si mesmo. Derramei minhas lavas quentes
em seu vale. A partir daí, fomos um e mesmo sempre.
-x-
ai, quem dera. nossos corpos
bailassem encantados
numa dobra
do continuo espaço-tempo
e assim
neste hiato
enfim pudessem
vencerem incólumes
as muralhas
do tempo e da distância
e se fundissem
e se embalassem
e se enrolassem
mutuamente abraçados
e se fundissem nossas belezas
numa só e única beleza
num só verbo e substância
e que o meu rosto em teu rosto
o meu corpo em teu corpo
minha pele em tua pele
minha boca em tua boca
se mesclassem num só corpo
numa só boca, num só rosto e numa só pele
e eu já nem soubesse
onde termina meu braço
onde começa teu colo
onde começa tua lingua
onde termina meu peito
ai, quem dera
fossemos únicos e mesmos
e fossemos dois em um enfim
-x-
é tão mais fácil
(e mais gostoso)
se surpreender
do que buscar
uma inútil explicação
exultei ao ver teus olhos
mas não soube dizer o que significavam
derreti-me
em teu semblante
mas não soube determinar
a origem do fogo que ali ardia
uma aura de mistério
separa tua visão
do teu estulto comportamento
feliz sou enquanto fluo na correnteza da vida
totalmente infeliz entretanto
quando busco a direção e em vão tento nadar
teu seio ereto me aponta e provoca
mas corres na oposta direção
só me resta fugir
errar de novo
(como tantas vezes errei)
e me perder em outros olhos
(como tantas vezes ousei)
-x-
como negar a poesia
que existe no leve voejar de uma borboleta
no bailado rodopiante de uma folha ao vento
ou nas carícias que se fazem os amantes?
sem poesia não há vida
e não fora o colorido dos versos
bem áridas e descoloridas
(e tristes também)
seriam as bibliotecas e as estantes
-x-
a poesia que nasce em mim
nasce como a relva que graceja nas planícies
sem pedir licença ou aplauso
se oferece sem saber de si
-x-
Diz-se através da poesia
tudo que se desejava ter vivido
mas que entretanto não se viveu
daí serem tão perfeitos os amores
ou tão lendárias e diáfanas as fontes
(e até mesmo etéreas e distantes as musas)
que são descritas nos poemas
como faunos ou quimeras
assim são os versos
e por isso nunca ultrapassaram
os limites intransponíveis que separam
a realidade da imaginação
-x-
pois eu tenho esse poder
que há poucos é dado
de amar em silêncio
e falar bem baixinho
o que tenho a dizer
e o que grita me fere os ouvidos
não acredito no amor
que é berrado aos quatro ventos
mas aquele que murmura a brisa
que farfalha nas folhas
que broteja nas fontes
e germina nas sementes da vida
-x-
é tão mais fácil
(e mais gostoso)
se surpreender
do que buscar
uma inútil explicação
exultei ao ver teus olhos
mas não soube dizer o que significavam
derreti-me
em teu semblante
mas não soube determinar
a origem do fogo que ali ardia
uma aura de mistério
separa tua visão
do teu estulto comportamento
feliz sou enquanto fluo na correnteza da vida
totalmente infeliz entretanto
quando busco a direção e em vão tento nadar
teu seio ereto me aponta e provoca
mas corres na oposta direção
só me resta fugir
errar de novo
(como tantas vezes errei)
e me perder em outros olhos
(como tantas vezes ousei)
-x-
como negar a poesia
que existe no leve voejar de uma borboleta
no bailado rodopiante de uma folha ao vento
ou nas carícias que se fazem os amantes?
sem poesia não há vida
e não fora o colorido dos versos
bem áridas e descoloridas
(e tristes também)
seriam as bibliotecas e as estantes
-x-
a poesia que nasce em mim
nasce como a relva que graceja nas planícies
sem pedir licença ou aplauso
se oferece sem saber de si
-x-
Diz-se através da poesia
tudo que se desejava ter vivido
mas que entretanto não se viveu
daí serem tão perfeitos os amores
ou tão lendárias e diáfanas as fontes
(e até mesmo etéreas e distantes as musas)
que são descritas nos poemas
como faunos ou quimeras
assim são os versos
e por isso nunca ultrapassaram
os limites intransponíveis que separam
a realidade da imaginação
-x-
pois eu tenho esse poder
que há poucos é dado
de amar em silêncio
e falar bem baixinho
o que tenho a dizer
e o que grita me fere os ouvidos
não acredito no amor
que é berrado aos quatro ventos
mas aquele que murmura a brisa
que farfalha nas folhas
que broteja nas fontes
e germina nas sementes da vida
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
De que me adianta
o que um dia escrevi
- o poema é como a flor
que um dia vicejou sozinha no campo
e morreu sem colorir um olhar.
Eu só sei pensar
no verso que ainda não compus
o passado é passado
o poema escrito morreu
só ficou o sentimento que um dia senti
ou a saudade
-x-
o vento sopra
o silêncio fala
o dia se cala
e ouve o tempo passar
(quem berra apressado
faz o tempo calar
quem fala demais
faz o vento parar
como as gaivotas se espreguiçando ao longo das correntezas)
Porque dizer se tudo por si e em si já se diz ?
Para quê batizar com palavras as coisas se a coisa que representa a palavra já era ela mesma mesmo antes de ser batizada?
Não é o olhar que cria a coisa, mas a coisa que cria o olhar
por isto quem é sábio pouco fala
e aponta com um simples olhar o que deve ser sabido
sem nomear as coisas
enquanto isso
os ignorantes esbravejam tolamente sem serem ouvidos
... quem sabe eu fale num outro momento mais oportuno
por hora sou o silêncio e a solidão de um campo ermo e árido se estendendo até o horizonte.
o vento sopra
o silêncio fala
o dia se cala
e ouve o tempo passar
-x-
Fitam, pela última vez, a terra árida, olhos semi-áridos. É que a tanta tristeza de saudades da extinta beleza, da triste visão do verdor antigo agora vestido de descolorido cinza, juntou os restos de umidade do corpo e preparou uma derradeira lágrima, matando de sede o pobre sertanejo.
-x-
não está na cor
a virtude
dos meus olhos
mas em saberem
tomá-la
emprestada
ao Sol
-x-
as coisas mais belas da vida
veio o tempo
e, inclemente, levou
bom que a lembrança
do que era triste
levou junto consigo
-x-
duas palavras suas
e será meu o céu
e serão minhas as nuvens
as aves, a chuva e tudo mais
que lá habita
uma delas
ainda que suprimida
poderá ser inferida
a outra
jamais será dita
mas procurarei adivinhar
ou seja
não precisa dizer mais nada
seu silêncio será meu céu
seu olhar já me é bastante
e seu corpo há de me valer
-x-
a Lua não é minha
nem de ninguém
pois que de todos
(assim como teu corpo)
por ser de toda gente
aproprio-me
de sua luz
quando teus olhos
a refletem
(doce e inútil consolo)
-x-
o azul gélido
de icebergs flutuantes
dos meus olhos
derrete-se
ante o ardor
do teu olhar
e se espalha
na iris o verde
tépido encontro
de correntezas
opostas no mar
-x-
Ao meu lado
és um Sol e me amanheces
desabrochas meu ser
como a uma flor
em pétalas prenhes de amor
de beijos e abraços
como os pássaros
hei de seguir os teus passos
longe de ti sou sombras de mim
meu coração anoitece
-x-
o que sobra, depois que tudo se acaba?
das grandes cidades o nome
das grandes guerras a fome
e dos grandes reis restam os ossos
mas do amor que te tenho
que há de restar
depois que a gente se for?
na semente que plantamos
nada de nós restará
pois quando a flor nascer
ficará apenas a flor e só ela
-x-
A beleza nunca falta, apenas os olhos podem faltar, disse-me isso uma estonteada e colorida borboleta quando avistava o Sol depontar no horizonte. Mas uma avezinha sozinha no ramo mais alto de árvore reprovou e voou para um lugar ainda mais alto. Ah! essas flores do céu que cantam e voam! Quem me dera ser uma delas e ver o mundo de um jeito diferente. Mas meus pés presos andam no chão, o meu olhar vive preso no céu,e a mente a voar para bem longe.
O vento geme em meus ouvidos e anuncia a tempestade.
O brilho intenso de mil relâmpagos incendeia o céu.
O ronco estúpido de mil tovões entope meus ouvidos.
O poema é mulher : o prazer sexual de gerir a idéia, a dor de parir a palavra e amamentar o verso.
Eu sou homem e só sei fazer a primeira parte
-x-
Toda vez é isso. Tenho tanta coisa para falar, mas não consigo.
Eu queria ser tipo um grande escritor, um grande poeta. Mas quando penso em dizer alguma coisa , algum deles já o disse. Nessas horas eu odeio os poetas por terem dito tudo antes de mim. E eu só fico a repeti-los numa ladainha interminável.
o que um dia escrevi
- o poema é como a flor
que um dia vicejou sozinha no campo
e morreu sem colorir um olhar.
Eu só sei pensar
no verso que ainda não compus
o passado é passado
o poema escrito morreu
só ficou o sentimento que um dia senti
ou a saudade
-x-
o vento sopra
o silêncio fala
o dia se cala
e ouve o tempo passar
(quem berra apressado
faz o tempo calar
quem fala demais
faz o vento parar
como as gaivotas se espreguiçando ao longo das correntezas)
Porque dizer se tudo por si e em si já se diz ?
Para quê batizar com palavras as coisas se a coisa que representa a palavra já era ela mesma mesmo antes de ser batizada?
Não é o olhar que cria a coisa, mas a coisa que cria o olhar
por isto quem é sábio pouco fala
e aponta com um simples olhar o que deve ser sabido
sem nomear as coisas
enquanto isso
os ignorantes esbravejam tolamente sem serem ouvidos
... quem sabe eu fale num outro momento mais oportuno
por hora sou o silêncio e a solidão de um campo ermo e árido se estendendo até o horizonte.
o vento sopra
o silêncio fala
o dia se cala
e ouve o tempo passar
-x-
Fitam, pela última vez, a terra árida, olhos semi-áridos. É que a tanta tristeza de saudades da extinta beleza, da triste visão do verdor antigo agora vestido de descolorido cinza, juntou os restos de umidade do corpo e preparou uma derradeira lágrima, matando de sede o pobre sertanejo.
-x-
não está na cor
a virtude
dos meus olhos
mas em saberem
tomá-la
emprestada
ao Sol
-x-
as coisas mais belas da vida
veio o tempo
e, inclemente, levou
bom que a lembrança
do que era triste
levou junto consigo
-x-
duas palavras suas
e será meu o céu
e serão minhas as nuvens
as aves, a chuva e tudo mais
que lá habita
uma delas
ainda que suprimida
poderá ser inferida
a outra
jamais será dita
mas procurarei adivinhar
ou seja
não precisa dizer mais nada
seu silêncio será meu céu
seu olhar já me é bastante
e seu corpo há de me valer
-x-
a Lua não é minha
nem de ninguém
pois que de todos
(assim como teu corpo)
por ser de toda gente
aproprio-me
de sua luz
quando teus olhos
a refletem
(doce e inútil consolo)
-x-
o azul gélido
de icebergs flutuantes
dos meus olhos
derrete-se
ante o ardor
do teu olhar
e se espalha
na iris o verde
tépido encontro
de correntezas
opostas no mar
-x-
Ao meu lado
és um Sol e me amanheces
desabrochas meu ser
como a uma flor
em pétalas prenhes de amor
de beijos e abraços
como os pássaros
hei de seguir os teus passos
longe de ti sou sombras de mim
meu coração anoitece
-x-
o que sobra, depois que tudo se acaba?
das grandes cidades o nome
das grandes guerras a fome
e dos grandes reis restam os ossos
mas do amor que te tenho
que há de restar
depois que a gente se for?
na semente que plantamos
nada de nós restará
pois quando a flor nascer
ficará apenas a flor e só ela
-x-
A beleza nunca falta, apenas os olhos podem faltar, disse-me isso uma estonteada e colorida borboleta quando avistava o Sol depontar no horizonte. Mas uma avezinha sozinha no ramo mais alto de árvore reprovou e voou para um lugar ainda mais alto. Ah! essas flores do céu que cantam e voam! Quem me dera ser uma delas e ver o mundo de um jeito diferente. Mas meus pés presos andam no chão, o meu olhar vive preso no céu,e a mente a voar para bem longe.
O vento geme em meus ouvidos e anuncia a tempestade.
O brilho intenso de mil relâmpagos incendeia o céu.
O ronco estúpido de mil tovões entope meus ouvidos.
O poema é mulher : o prazer sexual de gerir a idéia, a dor de parir a palavra e amamentar o verso.
Eu sou homem e só sei fazer a primeira parte
-x-
Toda vez é isso. Tenho tanta coisa para falar, mas não consigo.
Eu queria ser tipo um grande escritor, um grande poeta. Mas quando penso em dizer alguma coisa , algum deles já o disse. Nessas horas eu odeio os poetas por terem dito tudo antes de mim. E eu só fico a repeti-los numa ladainha interminável.
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
É engraçado perceber que os que mais têm certeza são aqueles que menos têm razão.
"Se emprego tantas horas para me convencer de que tenho razão, não será que exista alguma razão para ter medo de que eu esteja equivocada?" (Jane Austen)
Quanto mais eu sei, menos eu sei.
Quanto mais eu me calo, mais eu falo.
Quanto menos eu falo, menos sou ouvido.
Os que não me deixam falar, reclamam que só eu quero falar (os que me ouvem são os que menos falam, mas os que menos falam são os que mais me dizem, mostrando que no pouco há muito e no muito há bem pouco). E não me ouvem, não me ouvem, não me ouvem, mesmo depois que passo horas os ouvindo. Quando pergunto :
- Já disse tudo que queria dizer?
E respondem :
- Já.
Eu pergunto
- Pois eu concordo com tudo que me disse, só discordo de dois ou três pontos, será que quer ouvir o que tenho a dizer?
- Claro.
E, mal começo a falar e me interrompem... e eu os deixo falar, mas já não quero mais ouvir. Eu jamais ouço os que sabem demais, pois nada sabem.
O saber começa pelo buraco do ouvido e acaba na ponta da língua.
Para muita gente, o mundo acaba no seu umbigo ou ponta de seu nariz.
Esquecem o mundo que há sob asa de uma borboleta, no interstício que há
entre a haste
o pêndulo
e o tempo....
sobre a esfera plana de um mapa
sobre o plano esférico de um mundo
ao final de uma estrada sem fim
num quarto de volta de um meio parafuso
e na breve existência de uma vida.
Queria dizer o que não sei dizer. É que não encontro palavras. Talvez não caibam no espaço minúsculo desta página. Talvez não tenham sido ainda inventadas.
-x-
meu poema é tal e qual uma flor
que no quintal esquecida
desabrocha encantada
sem iluminar nenhum olhar
sem que chame atenção
do mais pobre leitor
e se não há quem o leia
que importa que a veia
palpite tão intensamente?
melhor seria calar esse verso
ou escondê-lo em um baú
enterrá-lo no quintal
para que se alimente a terra
do sal de minhas lágrimas
que um dia caíram sobre o papel
em que alucinado o compunha
quem sabe um dia o verso vire flor
e um olhar passageiro e vadio caia
sobre sua pétala colorida e comum
e distraído a entreveja
e isso ilumine o seu coração
-x-
O que adianta dizer
que a saudade dói
se isso é coisa que todos sabem?
(todos no mundo
sentiram a falta de alguém)
Para quê dizer
que o amor é ventura
e o que beijo da amada enleva
se quem amou bem o sabe
e quem não amou não entende?
Triste é a sina do poeta:
dizer o óbvio
ou então
não ser entendido.
"Se emprego tantas horas para me convencer de que tenho razão, não será que exista alguma razão para ter medo de que eu esteja equivocada?" (Jane Austen)
Quanto mais eu sei, menos eu sei.
Quanto mais eu me calo, mais eu falo.
Quanto menos eu falo, menos sou ouvido.
Os que não me deixam falar, reclamam que só eu quero falar (os que me ouvem são os que menos falam, mas os que menos falam são os que mais me dizem, mostrando que no pouco há muito e no muito há bem pouco). E não me ouvem, não me ouvem, não me ouvem, mesmo depois que passo horas os ouvindo. Quando pergunto :
- Já disse tudo que queria dizer?
E respondem :
- Já.
Eu pergunto
- Pois eu concordo com tudo que me disse, só discordo de dois ou três pontos, será que quer ouvir o que tenho a dizer?
- Claro.
E, mal começo a falar e me interrompem... e eu os deixo falar, mas já não quero mais ouvir. Eu jamais ouço os que sabem demais, pois nada sabem.
O saber começa pelo buraco do ouvido e acaba na ponta da língua.
Para muita gente, o mundo acaba no seu umbigo ou ponta de seu nariz.
Esquecem o mundo que há sob asa de uma borboleta, no interstício que há
entre a haste
o pêndulo
e o tempo....
sobre a esfera plana de um mapa
sobre o plano esférico de um mundo
ao final de uma estrada sem fim
num quarto de volta de um meio parafuso
e na breve existência de uma vida.
Queria dizer o que não sei dizer. É que não encontro palavras. Talvez não caibam no espaço minúsculo desta página. Talvez não tenham sido ainda inventadas.
-x-
meu poema é tal e qual uma flor
que no quintal esquecida
desabrocha encantada
sem iluminar nenhum olhar
sem que chame atenção
do mais pobre leitor
e se não há quem o leia
que importa que a veia
palpite tão intensamente?
melhor seria calar esse verso
ou escondê-lo em um baú
enterrá-lo no quintal
para que se alimente a terra
do sal de minhas lágrimas
que um dia caíram sobre o papel
em que alucinado o compunha
quem sabe um dia o verso vire flor
e um olhar passageiro e vadio caia
sobre sua pétala colorida e comum
e distraído a entreveja
e isso ilumine o seu coração
-x-
O que adianta dizer
que a saudade dói
se isso é coisa que todos sabem?
(todos no mundo
sentiram a falta de alguém)
Para quê dizer
que o amor é ventura
e o que beijo da amada enleva
se quem amou bem o sabe
e quem não amou não entende?
Triste é a sina do poeta:
dizer o óbvio
ou então
não ser entendido.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
cabe ao poeta
dizer-se no verso inteiro e por completo
a coragem exposta
e a alma franca em amplo gesto
a mão e a face nua
o dedo em riste e o espírito irriquieto
os lábios hirtos e o sobrecenho altivo e impávido
expor os sentidos e pensamentos
o povo deles tão ávido
cabe poeta desmascarar
xula ou culta
a palavra que andava oculta
ao poeta cabe o que não cabe em si
e é por si que ele em si não cabe
e o que ele não sabia
se revela no poema que ele sabe
-x-
Ela sempre me repelia, e se escondia naquela nuvem fria e escura que lhe turvava o rosto porém, mesmo a noite mais sombria tem um amanhecer e, de tanto insistir em lhe instilar um sorriso, ela por fim e para sempre se abriu em flor, seus cabelos dourados se espalharam feito as pétalas da primavera e os olhos se abriram plácidos como lagos que repousam brilhantes nos fundos dos vales alpinos.
Mas, como de outras vezes, não fui eu que colhi a flor que plantei.
Poemas antigos
1- O poeta o papel e a eternidade
o papel em branco
do poema
a eternidade separa
o papel em branco
da eternidade
o poema separa
a eternidade
do poema
o papel em branco separa
separam-se
poema e papel em branco
eternamente
eternos
papel e poema
transitório poeta
2- Sem Maquiagem
Exangue, pálida
e esquálida,
no atáude,
perdida saúde,
reluz a tez,
qual corpo branco
de vela,
extinta a chama,
que a lágrima de cera
percorre
pela última vez.
- 3 -
versos
são asas
de luz
um ser alado e impávido
de almas devorador tão ávido
(um propulsor
de combustível sólido)
a Lua se aproxima
a cada rima
a visão de uma galáxia
redime
quando em meu peito a palavra
se comprime
mesmo que não seja
assim tão certo
com o verso o céu
fica de mim tão perto
- 4 -
o poema
não é um sibilo
de uma sílaba
não é o sabor
dos dizeres de um sábio
não é o torpor
que existe num sábado
nem a cor esquecida
no borrão de uma aquarela perdida
ele é uma espécie de mágica
veloz, retumbante e lépida
e mesmo quando não tem
nem sentido e nem lógica
é o desejo escondido
de ser um segredo sagrado
a chave perdida de um divino mistério
a mistura do que é místico
com o conhecimento védico
é a verdade assim expressa
o sabor e o aroma de um expresso
a textura delicada de um linho
a delicia rubra de um vinho
a espessura tênue de um átimo
a expressão exagerada do que é ótimo
o poema é o que eu não disse
mas há no verso
o enigma mais indecifrável
do universo
o poema é o que eu não sei
mas que sinto
o poema é o que é
pois eu não minto
dizer-se no verso inteiro e por completo
a coragem exposta
e a alma franca em amplo gesto
a mão e a face nua
o dedo em riste e o espírito irriquieto
os lábios hirtos e o sobrecenho altivo e impávido
expor os sentidos e pensamentos
o povo deles tão ávido
cabe poeta desmascarar
xula ou culta
a palavra que andava oculta
ao poeta cabe o que não cabe em si
e é por si que ele em si não cabe
e o que ele não sabia
se revela no poema que ele sabe
-x-
Ela sempre me repelia, e se escondia naquela nuvem fria e escura que lhe turvava o rosto porém, mesmo a noite mais sombria tem um amanhecer e, de tanto insistir em lhe instilar um sorriso, ela por fim e para sempre se abriu em flor, seus cabelos dourados se espalharam feito as pétalas da primavera e os olhos se abriram plácidos como lagos que repousam brilhantes nos fundos dos vales alpinos.
Mas, como de outras vezes, não fui eu que colhi a flor que plantei.
Poemas antigos
1- O poeta o papel e a eternidade
o papel em branco
do poema
a eternidade separa
o papel em branco
da eternidade
o poema separa
a eternidade
do poema
o papel em branco separa
separam-se
poema e papel em branco
eternamente
eternos
papel e poema
transitório poeta
2- Sem Maquiagem
Exangue, pálida
e esquálida,
no atáude,
perdida saúde,
reluz a tez,
qual corpo branco
de vela,
extinta a chama,
que a lágrima de cera
percorre
pela última vez.
- 3 -
versos
são asas
de luz
um ser alado e impávido
de almas devorador tão ávido
(um propulsor
de combustível sólido)
a Lua se aproxima
a cada rima
a visão de uma galáxia
redime
quando em meu peito a palavra
se comprime
mesmo que não seja
assim tão certo
com o verso o céu
fica de mim tão perto
- 4 -
o poema
não é um sibilo
de uma sílaba
não é o sabor
dos dizeres de um sábio
não é o torpor
que existe num sábado
nem a cor esquecida
no borrão de uma aquarela perdida
ele é uma espécie de mágica
veloz, retumbante e lépida
e mesmo quando não tem
nem sentido e nem lógica
é o desejo escondido
de ser um segredo sagrado
a chave perdida de um divino mistério
a mistura do que é místico
com o conhecimento védico
é a verdade assim expressa
o sabor e o aroma de um expresso
a textura delicada de um linho
a delicia rubra de um vinho
a espessura tênue de um átimo
a expressão exagerada do que é ótimo
o poema é o que eu não disse
mas há no verso
o enigma mais indecifrável
do universo
o poema é o que eu não sei
mas que sinto
o poema é o que é
pois eu não minto
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
inventa-me
assim como eu te invento
e serei mais do que sou
assim como és mais do és
sou eu o presente do teu futuro
como foste o futuro do meu pretérito
subjuntivo e infinitivo conjugados a um só tempo
o jato expelido, sussuro soprado, um lamento
a regência de uma simples preposição
o hipotético de uma relativa subjunção
somos dois pagãos que se encontram
aquém e além de todo tempo e espaço
infinitos tênues pontos
que cintilam aqui e ali
eternos breves átimos
que vorazes se engolem
tal como matéria e antimatéria
o encontro de um antibiótico e uma bactéria
um vírus vil e intenso que nos infecciona
o veneno fatal que ele nos instila e apaixona
tal como o explosivo que por todos os lados nos incendeia
a asquerosa aranha a espera da vitima inerme em sua teia
- eu não escolho palavras
são elas que me escolhem-
e que me importa
se a mula é manca
se a banca é branca
se o siri é mole
e engole o molhe
ou o que será da mulher
que jaz no jazz
que faz o fêz
de ponto em ponto
e que mais um mês
desconta um conto
e escancha a conta
uma simples concha que descansa na areia
pequena trombose que faz inchar a veia
um sangrar do que podia ser vida
que podia ser fome ou ser comida
o espesso fluido que tosse rouca expele
a casca morta, a crosta, uma troca de pele
se o que importa é se fazer presente e ser futuro na vida de alguém
assim como eu te invento
e serei mais do que sou
assim como és mais do és
sou eu o presente do teu futuro
como foste o futuro do meu pretérito
subjuntivo e infinitivo conjugados a um só tempo
o jato expelido, sussuro soprado, um lamento
a regência de uma simples preposição
o hipotético de uma relativa subjunção
somos dois pagãos que se encontram
aquém e além de todo tempo e espaço
infinitos tênues pontos
que cintilam aqui e ali
eternos breves átimos
que vorazes se engolem
tal como matéria e antimatéria
o encontro de um antibiótico e uma bactéria
um vírus vil e intenso que nos infecciona
o veneno fatal que ele nos instila e apaixona
tal como o explosivo que por todos os lados nos incendeia
a asquerosa aranha a espera da vitima inerme em sua teia
- eu não escolho palavras
são elas que me escolhem-
e que me importa
se a mula é manca
se a banca é branca
se o siri é mole
e engole o molhe
ou o que será da mulher
que jaz no jazz
que faz o fêz
de ponto em ponto
e que mais um mês
desconta um conto
e escancha a conta
uma simples concha que descansa na areia
pequena trombose que faz inchar a veia
um sangrar do que podia ser vida
que podia ser fome ou ser comida
o espesso fluido que tosse rouca expele
a casca morta, a crosta, uma troca de pele
se o que importa é se fazer presente e ser futuro na vida de alguém
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Aguardava a chegada do carro que me levaria até o hotel, quando observei uma belíssima mulher sentada em um café que olhava em minha direção.
- Nossa, pensei com meus botões, como sou bonito! Ou não? Será que ela está olhando para mim mesmo?
Percebi, então, que seus olhos pareciam me atravessar e olhar algo que estava atrás de mim. Olhei nesta direção e percebi que a linda mulher observava um homem de meia estatura, gorducho, careca e que fumava um longo e fedorento charuto. Porque ela, tão bonita, prestava atenção num homem tão feio e deselegante tendo a mim a meio caminho?
Olhei novamente para a beldade no momento em que ela tirava uma pequena caixinha de seu decote e pressionava um pequeno botão vermelho em seu centro. Quase ao mesmo tempo, a pasta do gorducho que ela observava explodiu e o pobre homem se transformou instantaneamente num monte de miolos, sangue e postas de carne. Olhei para a mulher novamente e ela percebeu que eu havia entendido tudo. Assustada saiu em dispara e eu, por minha vez, parti em seu encalço. Policiais que estavam no local, perceberam meus movimentos e cairam em meu encalço.
Eles acabaram me prendendo. Tentei explicar tudo, mas responderam que a mulher era uma espiã a serviço do governo dos Estados Unidos que estava executando uma importante missão em favor do mundo livre ao eliminar um perigoso agente inimigo.
Disseram, também, que minha aparição vinha bem a calhar, pois precisavam de alguém para por a culpa, por isso, precisavam proceder à identificação do suspeito, no caso, eu mesmo.
- Qual o seu nome?
- Bond, James Bond - respondi.
(Nunca perco meu senso de humor)
- Nossa, pensei com meus botões, como sou bonito! Ou não? Será que ela está olhando para mim mesmo?
Percebi, então, que seus olhos pareciam me atravessar e olhar algo que estava atrás de mim. Olhei nesta direção e percebi que a linda mulher observava um homem de meia estatura, gorducho, careca e que fumava um longo e fedorento charuto. Porque ela, tão bonita, prestava atenção num homem tão feio e deselegante tendo a mim a meio caminho?
Olhei novamente para a beldade no momento em que ela tirava uma pequena caixinha de seu decote e pressionava um pequeno botão vermelho em seu centro. Quase ao mesmo tempo, a pasta do gorducho que ela observava explodiu e o pobre homem se transformou instantaneamente num monte de miolos, sangue e postas de carne. Olhei para a mulher novamente e ela percebeu que eu havia entendido tudo. Assustada saiu em dispara e eu, por minha vez, parti em seu encalço. Policiais que estavam no local, perceberam meus movimentos e cairam em meu encalço.
Eles acabaram me prendendo. Tentei explicar tudo, mas responderam que a mulher era uma espiã a serviço do governo dos Estados Unidos que estava executando uma importante missão em favor do mundo livre ao eliminar um perigoso agente inimigo.
Disseram, também, que minha aparição vinha bem a calhar, pois precisavam de alguém para por a culpa, por isso, precisavam proceder à identificação do suspeito, no caso, eu mesmo.
- Qual o seu nome?
- Bond, James Bond - respondi.
(Nunca perco meu senso de humor)
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