terça-feira, 30 de dezembro de 2008

serenata
ser da nata
ser de nada

coisas tão parecidas
entretanto tão diferentes

serenata é cantar para uma pessoa muito importante

ser da nata é ser uma pessoa muito importante

ser de nada é não ser uma pessoa importante

todo mundo tem ou teve uma pessoa importante em sua vida
todo ser humano, simplesmente por ser humano, tem sua importância
mesmo a pessoa menos importante tem alguma importância e tem alguém importante em sua vida para quem faria uma serenata

ou seja, as diferenças são mais aparentes do que essenciais

Amigos,
Não vou mais postar este ano.
Desejo a todos um ótimo ano novo. Que 2009 seja um ano repleto de realizações, de felicidade e de saúde para todos.
Benno

PS:
Vou dar uma parada no blog para pensar. Meu retorno foi precipitado e preciso reavaliar. Agradeço aos que vieram aqui, leram ou comentaram, os comentários foram muito valiosos para mim e os guardo para sempre aqui no meu coração.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008




uma overdose de amor
é receita para obter-se a dor
na paixão ama-se mais do que se devia
dá-se um passo maior que as pernas
e depois restam estas quebradas
pela rasteira traiçoeira
da desilusão

entre o medicamento e o veneno
há esta pequena diferença
isto deveria saber
toda pessoa sensata
um é de menos e o outro é demais
cura quando é menos do que é preciso
mas o excesso nos mata
a verdade está sempre
no coração marcado
e o preço define-se
pela lei do mercado
em excesso a demanda
há escassez da oferta
o amor só é cura
na intensidade certa


Segundo Bertrand Russel, a virtude só é possível com dois ingredientes. O conhecimento e o amor.

Ao Amor sem Conhecimento, faltam meios.
Ao conhecimento sem amor, falta conteúdo.

Benno

terça-feira, 23 de dezembro de 2008




ninguém leu
o poema de despedida
pois o poeta
jazia desconhecido
(foi o mesmo destino que teve
o seu poema de estréia)

ninguém ouviu
a canção
que falava de saudade
pois o compositor
já fora esquecido
(a voz dele embargada
por um nó apertado na traquéia)


ninguém rezou
na missa de sétimo dia
pois o morto morrera
antes mesmo de morrer
(nem um suspiro ou lágrima
nem mesmo uma única vela)

entre tantas coisas que florescem
há o destino bem triste
das coisas que morrem
antes mesmo de nascer
coisas que nunca existiram de fato
e nem perceberam não ter existido
coisas que passam pela gente
como um rumor que se confunde
com os sons que a gente não percebe
o canto dos grilos, o farfalhar do vento
a crepitar das folhas que se vão pisando
impiedosamente pelo caminho

pois há algumas frutas que germinam podres
e flores que desabrocham sem pétalas
elas nem precisam do castigo
do inevitável escoar dos tempos
para definharem e se perderem

será que eu sou assim?
será que alguém gosta de mim?
ou minhas palavras sibilam no vento
e se perdem para sempre
sem eco ou resposta?
que adianta eu gritar
se ninguém me ouve?
a solução para este me problema
está no eco dos desfiladeiros!
lá é só dizer o que se quer
e ouvir uma voz bem distante
repetir sempre a mesma coisa
que a gente disse
e fingir tolamente
que é outro alguém
que concorda com a gente

domingo, 21 de dezembro de 2008

O que é ser selvagem ou ser civilizado?

Outro dia estava passando um documentário na TV sobre os selvagens das ilhas Papua-Guiné. São selvagens por viverem em estado natural na selva, mas são seres humanos tão valiosos quanto qualquer outro ser humano. Alguém comentou comigo que não entende como alguém pode viver em situação tão miserável e precáriA, mas para mim eles pareciam felizes, nenhum me pareceu deprimido ou preocupado com o futuro como a maioria de nós. Acho que eles estão perfeitamente adaptados ao ambiente por viverem nas mesmas condições há milhares e anos, enquanto que nós, ocidentais, estamos em um ambiente em constante transformação e por isso nunca estamos adaptados e jamais parecemos estar bem apesar de toda aparente abastança material.
Pensei em qual seria a opinião inversa, ou seja, o que pensariam de nós os selvagens se conhecessem como vivemos. Será que nos invejariam ou será que lhes pareceria intolerável nossa maneira de viver. Daí, lembrei de um texto que li durante um curso a respeito da opinião de um selvagem da ocenia que havia conhecido a europa. Neste texto, ele criticava a maneira como lidamos com o tempo, sempre reclamando que ele nos falta, mas que quando deles dispomos ficamos entediados sem saber o que fazer. O texto nos fazia refletir sobre esta maneira absolutamente tola e insensata de tratar o tempo. Realmente, o tempo é um dado da realidade, é absurdo que ele possa faltar ou sobrar, as coisas é que necessariamente devem caber dentro dele. Lembrei que o texto se referia ao europeu como papalagui, procurei na internete e encontrei este e ainda outros textos do mesmo selvagem das ilhas Samoa. O texto foi compilado por um missionário a partir dos relatos do selvagem para seus conterrâneos. O selvagem não desejava que os europeus soubessem sua opinão, mas queria alertar aos seus sobre o perigo de cair na bonita conversa dos ocidentais.. Os outros textos falam de muitos outros aspectos da vida os ocidentais, sua relação com o ambiente, o excessivo materialismo, a vaidade e outros problemas que vivemos diariamente vistos pela ótica de uma pessoa apresentada recentemente a este estilo de vida como coisa inteiramente nova.
Obviamente, é impensável querer adotar o estilo de vida dos selvagens, tão arraigada que estão tantas coisas em nossas vidas, mas uma leitura nestes bonitos textos, cheios de inteligente crítica e sabedoria, nos leva cetamente a uma severa crítica de alguns valores que nos parecem tão importantes, mas que na verdade são pequenos.
O endereço do site onde encontrei os textos é :

O Papalagui

Na verdade, sempre devemos buscar mais de uma opinião sobre as coisas e compará-las sem nunca levar em conta o que alguém diz sobre si mesmo, por isso acho interessante este leitura. Por outro lado, não acredito em pessoas de um livro só.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Observo a mansidão das colinas, a tranqüilidade dos pássaros e a serenidade dos tempos.

As aves já não se lembram dos ares em que um dia voaram, nem as colinas sentem saudades das flores que lhes coloriram as encostas. Os tempos não sentem faltam de outros tempos. Estão todos tão ocupados sendo, que não lhes sobra tempo para sentir saudades.

Eu sinto falta dos mares em que nadei, das correntezas que enfrentei, dos amores que senti. As flores cujas pétalas um dia acariciei ainda me visitam a lembrança. Tantos amigos que tive e se foram levados que foram pela primeira ventania dos invernos. Ainda conversam mudos comigo. A copa da árvore sob cuja sombra descansei, hoje apenas galhos nus e ressequidos sustentados por um tronco morto, ainda refresca minha alma.

Acho que é do ser humano sentir saudades. Pensar que a felicidade pertence ao passado, nunca ao presente. Esquecemos de viver, revivendo o que um dia vivemos. O futuro é um fio de esperança que nos acalenta os sonhos, o passado, um desejo de ser revivido. E o presente, apenas o desejo de que fosse outro.

Fomos felizes e o seremos, mas nunca o somos. Talvez a felicidade seja só uma lembrança, ou, então, um desejo. Ou, ainda, a felicidade more num lugar distante e inalcançável onde nunca chegaremos.

Na busca de ser feliz, deixamos de sê-lo. Esquecemos da preguiça dos entardeceres e da profusão de cores dos pores-do-Sol. A brisa, que na lembrança nos faz carícias gostosas no corpo e nos cabelos, agora nos passa despercebida. Sonhando com tesouros escondidos nos mais remotos recantos, deixamos escapar os tesouros que nos passam ao alcance das mãos.

Nós, seres humanos cabeças-duras, insistimos em ignorar as lições que nos cercam. Preferimos pensar que somos os mais espertos na arte de viver e fazemos tudo à nossa maneira, com muito desespero e impaciência. Mas está ali escrito, no relevo das colinas, no vôo dos pássaros, no escoar irrevogável dos tempos, que tudo que buscamos é tudo que nos cerca, aqui e agora. E isso a mais insignificante coisa do universo sabe ao simplesmente ser do jeito que é. Um pequeno grão de poeira perdido no meio do vácuo intergaláctico infinito é apenas um grão de poeira perdido no meio do vácuo intergaláctico infinito e aí está sua mais nobre missão nesse mundo.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Ariadne

Tuas pernas
labirinto
: nelas me perdi

teu sexo
absinto
: em que me verti

(ali eu fui todo
bocas e líquidos)

teus seios
: o vale
...
(que o verso aqui se cale)

era o fio de Ariadne
(teu coração
exsudava uma corrente indômita
que me arrastou)
e me levou
a tua boca

eis ,enfim a saída,
e, mirando teus olhos,
(que me olhavam cândidos)
por fim sorri

Há que se perder
antes de se encontrar

(intessante:
os parênteses,
que quase nunca lemos,
dizem o mais importante)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008



ESPERANÇA


A duração breve de nossas vidas proíbe-nos de alimentar uma esperança longa. Os sonhos são distantes, mas a morte está próxima. As esperanças quando projetadas ao futuro inalcançável nos fazem menos esperançosos. As esperanças devem parecer realizáveis e seus frutos saborosos devem parecer estar ao alcance das mãos.

Os frutos nos galhos mais altos parecem mais apetitosos, mas a difícil escalada os amarga. Porém, mesmo nas circunstâncias mais adversas, não percamos a coragem. O que é impossível deve nos parecer facilmente alcançável assim como o que é fácil nos deve parecer difícil de alcançar.

A esperança é a única coisa que pode dar a energia necessária para vencer o invencível. Quando a esperança nos falta, de tudo desistimos e, assim, desistimos de nós mesmos. Abdicar das esperanças e dos sonhos é de certa forma morrer.
Por isto, guarde a esperança: só a esperança não abandona o homem mesmo na hora da morte. Sorte a nossa que a desavisada Pandora, alertada a tempo por Epimeteu, ainda conseguiu conservar na caixa de todos males a desesperança, deixando-nos ainda suportar os outros males que libertara.

Companheira eterna e musa inspiradora, a esperança é a única que fica quando tudo o mais nos abandona. Com quem contar quando, como em Jó, até os amigos nos tivessem abandonado? Eu contaria com estes meus derradeiros amigos: os sonhos. Um sonho é feito de esperança. Se ao menos tivesse Jó sonhado, talvez tivesse resitido à todas as suas inúmeras perdas.

Além disto, a esperança é veloz e voa com asas ligeiras. De reis faz deuses e, de seres menores, faz reis. Só ela faz brotarem os ídolos, os santos e os heróis do seio humilde da terra, pois eles são feitos do mesmo pó dos quais todos viemos, mas foram regados pela benção da mais extremada esperança. Quem chegou ao ápice da glória, o fez pois não deixou morrer os sonhos que o acompanhava desde a infância.

É a esperança que faz povoar a imaginação das crianças de fadas, princesas e cavaleiros. As crianças são os príncipes dos sonhos. Observá-los é aprender a sonhar e sonhar é ser um tanto menino. Que nunca morra o pouco de criança que há em mim.

É a esperança que, ao fervilhar nas mentes imaginosas dos escritores, faz nascer os grandes romances e os poemas mais belos. A poesia e as artes são os frutos mais tentadores da esperança e dos sonhos.

A esperança brota eternamente no peito do homem. É quase inumano não sonhar. E só deixar-se de ser para deixar de sonhar. Mas o ser humano nunca é, mas sempre espera ser feliz. Pois a felicidade, tal como existe na imaginação, é mais bela que a felicidade vivida. Quem ainda não se decepcionou com um sonho concretizado? Diga-me e te mostrarei alguém que não sonha.
Vivemos continuamente em esperanças, e quando alguma nos deixa e nos engana, logo nos deixamos nos enganar por outra. Não podemos viver sem o gostoso engano com que os sonhos nos alimentam. Parece um instinto inato no homem este de sempre viver esperando e a sonhar. Espera-se e se é feliz neste esperar. Se as esperanças nos abandonam, tudo fica triste e sem cor.

É a esperança de que tudo poderá vir a ser melhor que faz com que não abandonemos o barco mesmo quando a ventania o faz fremir e, entre rangidos de tábuas e suspiros, a nau ameaça sossobrar. Que seria de nós se passássemos a pensar que a forma que é o mundo, a luta selvagem em
que se transformou a sobrevivência, fosse a única forma do mundo existir?

É a esperança de que tudo poderá mudar, de que se a semente do amor germinar e o ódio não tiver forças para parasitá-la o mundo poderá vir a
ser melhor que nos faz perseverar e continuar vivendo. A esperança não morre, pois parece claro que tudo está ao alcance das mãos dos homens. Ela é a ponte entre o impossível e o possível. Basta aos homens perceberem que o mundo melhor para todos é melhor para si próprios para começarem a construir esta ponte. A esperança e o sonho são a semente da luta incançável.

A esperança está sempre ao nosso lado. A esperança é que nos introduz na vida. Acalenta o bebê choroso e envolve o menino alegre. Seu brilho mágico entusiasma o moço e não é enterrada com o ancião, pois quando este encerra, cansado, a corrida, planta ainda a esperança sobre o túmulo e ainda faz germinar, da degeneração de suas células, uma flor. Não a abandonemos como não abandonamos a amada que não deixa nunca de estar ao nosso lado, seja na glória, seja no desespero.

Já vi flores nascerem em lugares pedregosos e as coisas mais gentis nascerem das mãos de pessoas de feio rosto, e, ainda, a taça de ouro conquistada pelo pior cavalo nas corridas. Por isto eu ainda tenho esperança. A esperança dos homens é sua razão de viver e morrer.
Só ela pode nos mover na direção da vida e do bem.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008



vivo mais quando rio
o rio caudaloso desse riso
que me leva
por lugares onde nunca estive
pois é sonho o riso
e o riso alucinação

o abraço escarlate
dos teus lábios
deixa manchas de baton
e cicatrizes no coração
assim de saudade eu morro
morre úmida a tarde lenta
em lentes embaçadas
vejo o Sol a se por
ponho a mão sobre a tua
imaginária mão
e tenho a súbita impressão
de que és minha
mas logo vejo que não
tudo é sonho e fantasia
só me resta então que eu ria
ou que chore em silêncio
meu sofrido coração