terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

-x- Bolso furado

Andava distraído ao longo da orla, como sempre faço nos finais de tarde dos dias de semana. E é exatamente quando estamos distraídos, sem grandes planos que os grandes momentos nos acontecem. Uma linda, de olhos encantadores, me perguntou como se fazia para chegar em certa rua. Eu a levei até a rua que estava procurando e ela, encantada com minha solicitude, deu seu telefone e me pediu para ligar e combinar uma cafezinho ou outro passeio. Guardei a anotação no bolso,  impaciente diante da espera que iria enfrentar. Chegando em casa, percebi que o bolso estava furado.
Por vezes, um momentâneo bolso furado é a eternidade de um desencontro.

-x- Calça rasgada

Tinha uns 11 anos e havia marcado, pela primeira vez, um cineminha com um garota. Passei horas no banho, me encharquei de perfume, vesti a melhor roupa e roubei uma flor do jardim da minha mãe. No caminho, dei a sorte (azar) de ver uma moeda no chão, Quando me abaixei para pegar a moeda e ... riiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiip! a calça novinha rasgou de cima a baixo, ao longo da parte de trás da costura.  Encabulado e me escondendo, voltei para casa e perdi o encontro.
Achar uma moeda na rua pode ser um acaso infeliz, se se perde a oportunidade de um primeiro beijo.

-x-  Atropelamento

Estava chegando na universidade, para mais um dia de aula.
Desci do onibus e tinha que atravessar a avenida super movimentada. O ônibus ficou parado no semáforo vermelho e, logo atrás, parou outro. Para aproveitar o semáforo vermelho, passei entre os dois ônibus e me inclinei para ver se vinha alguma carro na outra faixa e ... crash! um automóvel freiando atingiu me braço. Desceu uma linda moça do carro e me perguntou:
 - Você está bem?
 - Sim, não foi nada! - disse eu com sinceridade, para logo depois me arrepender. A linda moça já ia embora, dobrando a esquina do sempre, eu aqui, na eterna e solitária quadra do desamor.
Ser sincero demais, pode ser o aborto de uma paixão. 

Citações de Tchekov:

E, depois da morte, Fiodor não iria ser enterrado em ouro, nem em diamantes, mas na mesma terra negra que o último dos mendigos.Iria arder no mesmo fogo que o mais humilde dos sapateiros.

Pareceu-lhe que ricos e pobres viviam igualmente mal (...) e esperava a todos o mesmo túmulo e que não havia nada nessa vida que valesse a menor partícula de sua alma.

do conto "o sapateiro e o maligno" em "a dama do cachorrinho e outros contos". Eu recomendo a leitura! Leia, mas leia só do bom e do melhor e Tchekov é do muito bom e do muito melhor.