Se eu tivesse um olhar
Se eu tivesse uns lábios
Se eu tivesse um corpo
que fossem só meus e me amassem ...
nem que fosse por pouco tempo
mas eu sou quem sou
e não quem eu queria
apenas me olho no espelho
e imagino alguém ao meu lado
mas, qual nada
apenas o vazio
ocupa minhas vizinhanças
Sou um terreno baldio
que restou em meio aos prédios
e das janelas me atiram seus restos
-x-
CREDO
creio
piamente
em tua boca
e no céu
que lá existe
(único céu
que ainda me resta
: o outro
para sempre
jaz perdido)
creio no santo poder
dos teu olhos
sobre meu ser
(dos meus
inconfessáveis pecados
faz be-atos)
sob a luz
que emanas
em meu caminho
tudo é sagrado
mas se na escuridão
de tua lamentada ausência
trevas
(só a luz do teu olhar
acende meus faróis)
creio sobretudo
na divindade
de tua pélvis
(apaixonadamente
ali mergulho
: batismo de sangue)
teus olhos são-me guias
abrem olhos antes cegos
a verdade que mora em teu ser
dissipa nuvens eternas
do contumaz ceticismo
que me anuvia
derrete seu calor
neves sempre brancas do meu gelo
trocaria a eternidade
por um breve momento ao teu lado
e todas as minhas idades
vividas ou ainda por viver
todos beijos que já sonhei
por um único beijo teu
resignar-me-ia até à eterna dor
para ter um breve instante do teu amor
-x-
LUANA é LUZ
Luana é a Luz da Lua.
Luana na noite, a prata dos olhos ardentes sob a luz da Lua, o prato prateado reflete seu rosto.
Luana ao Luar a pensar em dar seu corpo a qualquer seu súdito. Luana a sonhar que é rainha. Ter os homens aos seus pés submissos aos seus caprichos.
Luana sonha se dama, mas na verdade é piranha, é o prêmio maior de quem a queira, pois Luana é a Lua e andam juntas suas luzes. A luz da Lua, tomada ao Sol, a luz de Luana furtada aos seus sonhos.
Luana na rua, Luana na Lua, Luana é meu sonho e seu sonho é também ser sua a Lua . Luana é luz da inocência, na indecência da noite, na excrescência das ruas, na avidez de escuridão que tem a Lua. Qual queres das duas? A Lua e seu romantismo ou a a falta de decoro de Luana?
O que responde a vida: a morte, pois sua inclemência não perdoa!
Mas Luana é eterna e não morre (e no fundo este é seu desejo). Dá só para quem é especial e ela bem descobriu que todos o são.
Luana é cheia de graça, mas não é de graça, ... bom, é quase isso...
Luana na rua, Luana na noite, ela é minha ou é tua? Luana é nossa assim como o é a Luz da Lua, pois sua luz é democrática e vadia e se projeta igualmente sobre todos.
-x-
Argemira
Toda vez que Argemira tinha uma
decepção amorosa, ela fazia um bolo diferente. Descontava na culinária as
decepções do coração e o amor que lhe fervia nas veias, o desejo pelo amor
desfeito e contrafeito, a poesia desengonçada, esquecida e abandonada ao lado
do abajur sobre o criado mudo dos tempos passados, a memória de tudo que
poderia ter sido bonito e não foi, jogava tudo isso e muito mais como se fossem
ingredientes na massa informe do bolo.
O bolo crescia em tamanho e sabor
e todos corriam para provar o bolo de Argemira que era uma delícia. Toda vez
que Argemira terminava um caso, o povo fazia fila para esperar o seu bolo do
desamor. Ela não comia seus bolos, pois seria amar e sofrer tudo de novo. O
bolo servia para ela se livrar das dores, já que estas se desprendiam de
Argemira e partiam junto com o amor, ligando-se definitivamente à massa do
bolo. Do coração de Argermira para a pança de seus clientes fluíam inesgotáveis
os amores vencidos.
Vendia o bolo. Vendia o amor. E
ganhava dinheiro com isso, uma banal compensação. Acabou ficando rica de tanto
vender bolos e muitos pretendentes apareceram. Uns a amavam de verdade e ela,
cansada de amar, os ensinava a fazer um bolo do amor sem esperança que sentiam.
Viveu para sempre sozinha. Nunca mais amou, mas seus bolos ficaram famosos e
viraram uma franquia famosa e lucrativa.
[0 importante é saber que
ResponderExcluirtudo é um processo
e não um acontecimento....n´h]
...boloterapia??? já fiz. rs
beij0
Olá Benno!
ResponderExcluirLi os seus textos e na impossibilidade de comentar todos digo que adorei o seu CREDO.Bela musa essa que inspira de forma tão maravilhosa...tanto amor...tanta paixão. Sempre que a saúde mo permitir e o tempo der...virei ler os seus poemas. Abraços.