segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Escreveu o poeta
muitos versos de amor
mas ninguém os quis ler
enfim sua pena calou-se
e muitos versos natimortos
jazem para sempre
no gélido mausoléu
do seu coração

domingo, 26 de setembro de 2010

Amar
sofrer
amar de novo
e sofrer, sofrer
sofrer até cansar
e amar ainda uma vez
e cair, cair
chegar tão fundo
ao fundo do fundo
e enfim desesperar

eis o ciclo da vida
eis o princípio da morte
de um cansado coração
que amou ardentemente
e já não ama
que chorou, mas já não chora
que foi doce, mas agora é amargo
seu olhos secos
sem vida
olham de frente o futuro
mas só conseguem ver o passado

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Triste
não é viver na solidão
erma e sombria de uma caverna
ou na imensidão verde e úmida
de uma ilha abandonada
Trite mesmo
é viver na multidão
e estar completamente só

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O que há no caminho? A sombra do caminhante que a seu lado o acompanha. Pois seu passo é solitário, mas suas mãos buscam companhia. O coração anda sereno, mas a mente turbilhona em pensamentos vários. É que tudo a seu redor lhe é pertinente. Tem interesse no mundo. Sente inveja até daqueles que nada pensam, que se cansam e se entediam de tudo, pois descansam eternamente (será que morte? se pergunta). É que pensar dói e cansa e morrer é tão indolor. Mas que seria uma vida vazia, um corpo sem alma, um copo vazio, um lamento, um substrato sem sua essência? A alma do idiota talvez esteja perdida, apenas seu corpo é que sereno (cale este riso tolo e lhe dedique um minuto de silêncio). A luz do pensamento enerva. Então que se pensasse com calma, nunca esse furacão de pensamentos. Tendo só a eterna sombra por companheira. Que há de ser quando o Sol e a Lua sumirem e deixarem de emitir sua luz? O que sobra num mundo sem sombras e sem luz? A aniquilação definitiva das diferenças fará sobrar apenas a igualdade do nada. Esta luz intensa que enlouquece, a tortura da escuridão que esvazia. Quisera transformar-se em gelo e não ter que escolher nada.
Quantas coisas disse, mas não disse nada, talvez a mais cruel obsessão de quem escreve é este indefinido problema. Indefinido assim por lhe faltar as devidas condições de contorno. A falta, assim como o excesso, é uma necessária etapa da vida.

sábado, 4 de setembro de 2010

Poemas antigos

Fim de romance

Tudo que restou no fim do nosso amor:
Uma lágrima, um beijo negado, a dor.
Um lenço teu, todo borrado de lágrimas e batom,
a suave melodia de uma canção nostálgica do Tom.
Um bilhete de despedida rasgado,
um recado na secretária em tom emocionado,
um retrato quase sem cor, sem idade
e dos tempos bons:

Uma imensa saudade

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Montanhas

Montanhas entortando o horizonte, entortando o céu que é plano. Deixando curvas nas dobras do mundo, criando vales e torrentes, recortando a terra, derrotando o igual, violando o tédio, violentando a esfera. Esfera oca cheia de pontas, espinhos, carrapicho. Ali, nas montanhas, é que nascem os rios.
Os rios transportam os sedimentos que adubam os solos. Solos com sede de sedimentos, seres com sede de sentimentos. Eu com sede de ti. Nós com sede uns dos outros. Seres vivos com sede de vida.
Filhos! Resultado da sede que a vida tem de si mesma. Eu amo porque sou um rio com sede de rios, vida com sede de vida, rio e sede da vida, dos peixes, peixe com sede de peixes. Sorvo cardumes de um só gole. Rios são serpentes líquidasque se estendem nas planícies para tomar Sol. Montanhas! Saiam da frente do meu Sol. O Sol é meu! O Sol é teu, o Sol é nosso.
Mas aqui, nesta parte que estou da Terra, chega a luz de Sol que vem de uma parte do Sol que é só minha, pois se sou dono da luz, sou dono da fonte desta luz. Sou dono de uma parte do Sol. Sol que ilumina montanhas escuras, florestas sombrias que se tornam luminosas ante seu mágico toque. Pelas frestas de tuas copas, floresta, deixas passar um pouco da luz do Sol. Mesmo que seja uma nesga, perdes um pouco de tuas sombras e o Sol perde uma da luz que o consome, mas os seres que te habitam ganham um pouco mais de vida.
Esta estranha relação que tens com o Sol me ensina que quando se perde algo em algum lugar, em algum tempo, necessariamente alguma outra coisa se ganha em algum outro lugar e em algum outro tempo.
Não há ganho sem perda, nem perda sem ganho. Isto me faz conter meu desejo de ganho, por não querer provocar uma perda, isto me faz aceitar minhas perdas, pois houve ao mesmo tempo um ganho.
As montanhas desafiam com suas escarpas os alpinistas à escalada. Escalar montanhas, subir degraus, este nosso destino. Somos todos alpinistas. Havia uma montanha que nunca um alpnista ousara escalar. Mas aquele alpinista, ah, aquele alpinista, ousou.
Suas chances de voltar eram mínimas, mas o que não é arriscado nessa vida? Contra tudo e contra todos ele ousou. E fracassou na primeira tentativa, mas, depois daquele fracasso, ficou mais fácil escalar montanhas que antes eram difíceis. Quem tenta o inalcançável pode consquistar outras coisas. Mas, se pensam que ele desistiu da escalada, estão enganados. Aquela montanha era a montanha da sua vida. Por nada deixaria escapar aquela conquista. Nem que fosse à custa de ossos quebrados ou da vida. Se ele não tentasse ,de que valeria a vida? Errar não seria problema. Ele errara outras vezes e nem por isto desistira, nem por isto se sentira derrotado. Haveria de chegar o momento da definitiva conquista. Se ele tudo fazia e tudo conseguia, era por ter um único propósito.
Por isto mesmo, nem vou dizer se ele conseguiu escalar ou não a montanha da sua vida. Nestas histórias vale mais a luta do que a consquista. Vencedor é aquele que enfrenta suas montanhas, não aqueles que a conquistam. A grande conquista é a conquista de si mesmo.



Me contaram

Foi o mar que me contou
confidência da Lua
num sopro secreto do vento
nas estrelas foi que li
dourados versos do Sol
sussuraram as gotas da chuva

o universo inteiro sabia
as galáxias não mentiam
cometas nos seus rastros sibilavam

Em tudo que vi, li ou ouvi
vi teu nome, vi teu rosto, vi teus olhos

e todas coisas me contavam:

Te amo!
Me amas!

Benno