terça-feira, 22 de julho de 2014

Toda vez
que a vontade de falar
me assoma
é, no entanto, o silêncio que me domina


é essa imensa saudade
que dói e me cala

a amplidão do espaço
e do esquecimento

a palavra segue
inaudível e inaudita, porém indelével

-x-x-x-x-x


Em todos esses tons, os azuis, de olhos, escolhos do mar, entulhos do lar.
Os poentes descrentes em todos anis, nos anos que passam, nos anos futuros, ora quase verdes, ora puramente azuis. Verdes ainda nem nascidos, azuis amadurecidos. O hematoma nasce azul e, ao contrário das frutas, vai se tornando verde, mas morre amarelo como todos.
O azul é a cor da promessa a cor que colore os sonhos. O azul dos meus olhos é meu giz que mancha a lousa da tua tez, o raio celeste azul e eletrostático, um potente eletroimã que atrai e repele, magnetiza o orvalho que para no ar repelido pelas estática da grama.
Ora o azul é neutro, ora azucrina a crina azul da quimera que galopa em meus sonhos. Tem o azul gélido da tristeza que a beleza pinta nos cumes nevados de tuas distâncias. E as reentrâncias carnudas vermelhas e profundas em meu lagos azuis se fixam e penetram, buscam lá o seu fim, o elemento final, o leito eterno em que jaz meu corpo. 
Azul do céu, só em sonho almejo. Quisera voar através do azul escuro das noites, salpicadas de manchas, o estrelato, fazer dos laivos caminhos serenos pelas entranhas dos entreastros.
Asteróire, esteróide, viagem. Me perdi nesta infinita dimensão. A sinfonia que ouço é silenciosa. Me faz dormir, sonhar, por fim acordar. Quisera estes panos que me cobrem serem teus braços. O travesseiro teu colo em que me recosto e me entristeço. As lágrimas de despero em que me afogo num passe de mágica seriam transmutadas em esmeraldas como se do líquido azul pudesse inexplicavelmente brotar a solidez do verde.
Azul, quimérico e poderoso azul, a força com que me possuis me deixa fraco.
Qual o mistério deste azul que invade céu, mar e distância? O mistério está no ar. O azul é o oxigênio que  respiro e tanto me falta na hora do agudo desespero.
O azul está na cor que o Sol emite, viaja pelos céus misturada a uma população infinita de cores, mas a atmosfera o separa do populacho é o deixa reinar sozinho nos céus.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Abaixo, uma obra de ficção. O nome do blog Noites Insones nela figura, apenas por que não imaginei outro título melhor :)



Há muito tempo eu não ia ao teatro. Os rostos que acompanhavam as cenas, me eram todos desconhecidos. Após um primeiro ato regular, saí para espairecer um pouquinho e percebi que uma senhora se separou do marido e me seguiu. Ela me abordou deste jeito:
- O senhor tem fósforo?
- Sinto muito, parei de fumar. Isso faz mal sabia?
Ela nada falou, apenas me fitou por apenas um momento, meio hipnotizada.
- Claro que sabe - continuei - as pessoas fumam assim mesmo, pois, por pior que seja, é gostoso.
Daí, ela me surpreendeu, dizendo
- Você sempre diz coisas interessantes.
- Como assim? Já me conhece de algum lugar?
- Sim, conheço. Você não é o autor daquele blog, Noites Insones ? Me delicio com as suas palavras.
- Puxa! Aparecem tão poucos leitores por lá que até me surpreendo ao saber que há gente que aprecia.
- Bem que gostaria de deixar comentários, mas não posso - falou isso, olhando tristemente para a aliança. Pois, saiba agora que além das suas palavras, me encantei com seus olhos. Eu já te amava desde sempre, mas sei que a pessoa e as palavras que ela escreve não são a mesma coisa. Só queria saber que você existe mesmo e que corresponde ao que escreve. Sei que meu amor é impossível.
- Não, eu não sou assim. Não me considero uma pessoa encantadora, assim como, por exemplo, você.
Eu falava assim sinceramente, pois estava encantado e ela me parecia assim desses personagens apaixonados e apaixonantes que só existem nos romances antigos.
- Vou amar em silêncio, para sempre.
Disse isso ao mesmo tempo que tentava conter uma lágrima, que brotava como se fosse diamante do canto de seu lindo olho direito.
- Não posso desmanchar a pintura - completou, enxugando a lágrima delicadamente.
Saiu furtivamente, sem me deixar tempo para falar mais nada.
Olhei o céu noturno e só encontrei estrelas. A Lua me havia abandonado novamente, assim como o chão o fizera.

Com em tantas outras vezes, não dormi. Desta vez, por uma razão diferente.