sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Eletrodomésticos

Acordei às 5 horas da matina, como sempre faço e fui direto preparar um cafezinho na minha cafeteira automática. Quando ela acendeu a luz verde, indicando que estava quente e pronta para o preparo, eis que lança um certeiro jato de vapor em alta temperatura que, no reflexo, consegui desviar por milímetros, indo atingir um vaso de plástico que repousava na prateleira, derretendo-o instantaneamente.
Assustado com o quase acidente, desliguei a máquina e abri a geladeira para ver o que havia para comer, mas esta começou a abrir e fechar a porta como se fosse uma terrível boca. O barulho que fazia parecia o latido de um cão hidrófobo. Ao mesmo tempo, o liquidificador começou a girar como se fosse um helicóptero e a voar em minha direção, certamente com a intenção de me fatiar como a um salame.
Corri apavorado com a revolta dos eletrodomésticos e fui para rua, onde fui perseguido por uma enfurecida carrocinha de hot dog e atacado por semáforos raivosos, visado por cestos de lixo famintos, ameaçado por um voraz meio fio e quase atingido por um hidrante voador. Consegui desviar na última hora e o hidrante atingiu uma vitrine que espatifou, partindo em mil pedaço cortantes, do quais um acabou me atingindo e cortando o rosto.
Em fuga, corri apavorado e acabei chegando aos limites da área urbana, me embrenhei nas matas e terminei o dia adormecendo tranquilo e dormi o sono dos justos ao relento em meio a lobos, onças, serpentes venenosas  e escorpiões.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Corri para ver o cometa passar
mas o cometa não passou
nem o meu amor
nem ninguém
fiquei só
Com a Lua
 a noite e as estrelas
o vento agora
acaricia a cabeleira verde da montanha
adormeço nas areias mornas das dunas
tenho conchas por travesseiro
e por lençol a espuma de ondas recém arrebentadas
esperando o tempo passar
mas ele insiste em não passar
desliza enfim a Lua
sobre o tapete torquesa da noite
brinca de esconde esconde por trás
de erradias nuvens
sofro o percurso dos ponteiros da horas
já é outro tempo
e nunca chegas

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Me perdoem a ausência
Estava de férias na Bahia

- acarajé, vatapá, muqueca... eita! acho que engordei 

Para retornar, comecei um poema... um protótipo ainda... Acham que dá para continuar?


teus olhos 
são um pedacinho do céu
aqui no chão em que ajoelho
são o lago plácido, a gota vitrea
a porta de entrada
por onde adentro
em sua alma, em seu sentimento
e me espalho por teus poros
- viro gotas de suor

tua língua
é o tapete vermelho
a sala de espera
a ante-sala, a poltrona
em que descanso meus lábios
a rede onde balanço a minha língua

...

Continuo? Sim ou não?

Estes já estavam prontos:

1-

não preciso
de literatura de mistério
: já tenho teus olhos
por desvendar

2-
a névoa
é o véu
que há do céu
é o leite
que premia
a via látea diurna
é a urna
noturna
que guarda
a sombra do Sol
é o guarda-chuva
que tal como uma luva
brinca a se esconder da noite
na branca fímbria
de um umbral
é o dó que foge de ré pela fuga
a ré que tem fé, é o fá que falha
o sol que brilha sozinho na partitura
é o lá perene de toda música futura
o si que soa em hipotética batalha

é o mi que matinal se madruga
em um madrigal