terça-feira, 6 de novembro de 2012

Primeiro, eu aprendi a escrever.

E aí, fui me esmerando na arte da escrita, inventei mundos, fui deixando meu corpo, indo para o espaço, outros universos visitei.

E fui me encantando com as palavras e deixando de ser eu mesmo.

Me tornei arrogante, achando, tolamente, que, por possuir tantos mundos, eu era mais rico e mais feliz.

(ao mesmo tempo, o desespero tomava meu corpo, mas já não tinha consciência dele e não percebi)

Um dia, eu me lembrei do que eu era. E descobri, que o que eu era de verdade não era aquilo, aquele ser sonhador num mundo de sonhos, que eu era algo mais simples e verdadeiro do que minhas palavras. Descobri que as pequenas e desprezíveis emoções do meu dia a dia eram mais verdadeiras do que os arroubos românticos das histórias que eu inventava.

Daí, eu fui desaprendendo a escrever.

Primeiro, eliminei todos os verbos. E o mundo, que ainda existia, parou.

Depois, dispensei o nome das coisas. Tudo sumiu e o mundo acabou.

Depois, foi bem mais fácil eliminar os artigos, adjetivos, preposições pois estas e as demais palavras vivem em função daquelas.

E só restou o silêncio... e eu.