terça-feira, 26 de novembro de 2013

Vejo-me em teus olhos
não meu reflexo
mas meu complemento

há uma distancia entre nós
que nos aproxima

uma longa campina
um horizonte
ao final da qual uma fonte
uma torrente fina
que como um elo
faz dos nós que nos unem
uma sina
diga-me mesmo calada
que eu entendo
teus olhos me bastam
siga-me e ignore
que eu te guio
evitando os que afastam

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Antes de ir ao que interessa, os poemas, um esclarecimento a respeito do post anterior, pois mais de uma pessoa o solicitou.
É quanto ao terrível destino de Lucelinda. Na verdade, eu não sei qual foi...rs. Deixei por ser escolhido. Todas aquelas vidas que descrevi, das três irmãs e da vizinha, foram fruto da invenção. A Lucelinda não existe.
A Lucelinda surgiu apenas, para, de uma forma bastante torta e mediata que literatura tem de dizer as coisas,  que, por mais que o destino que eu tenha inventado para as outras pareça terrível, tendo umas o procurado, e outras até os evitado, nada se compara ao que a realidade pode oferecer. A minha capacidade de invenção não chega a tanto e a realidade me é inalcançável em toda sua extensão e variedade de fazer boas ou más coisas. Naquele texto, bastante amargo, onde se salvou Adelaide, se contrapõe a outros bem mais felizes que, por sorte, tenho escrito! A realidade é variada, a escrita tem que ser também :) E eu deixei o fim de Lucelinda para ser apenas imaginado. Talvez ela fosse como uma daquelas moças que passaram dez anos presas e continuamente estupradas. Imaginem uma coisa bem horrível dessas que sempre aconteceram e continuam acontecendo.

Agora, chega de infelicidade!

-x-

As  estrelinhas
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nas entrelinhas deste poema
*****************
escodem tudo que eu não soube dizer
tudo que eu quis esquecer
tudo que eu não quis confessar

estas benditas estrelinhas
revelam a sabedoria e a ignorância
estas duas irmãs que andam juntas
e de mãos dadas
pois a cega ignorância
paradoxo dos paradoxos
é quem guia a iluminada sabedoria

-x-

você chegou como uma explosão
um terremoto abalando meu coração
toda cheia de cruzamentos e pedágios
como se fosse uma estrada
cheia de buracos e despavimentada
destruindo a minha suspensão
trazendo o ventre prenhe de presságios
feito estrela cadente ou mesmo cometa
refulgente e de mim bem distante
como os anéis de um remoto planeta

mas também foi o Sol
que rompeu meu obscuro tempo

meu maior pecado
que herética profanou meu casto templo

a primavera
que com uma flor encerrou meu inverno

e o paraíso
que me perdoou e me tirou do inferno

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Estes textos já foram postados. É só um repeteco. É que eu gosto de rever o que eu escrevi, assim como ler livros que já li há muito tempo, rever filmes antigos e coisas assim. Sem tirar o pé do futuro, mantenho um pé no passado, pois, se sou uma promessa,  sou também uma história. 

-x-

Três irmãs muito formosas foram infelizes cada qual a sua própria maneira.

A primeira, Julinha, era a mais bela das três e conquistou o mais requisitado dos rapazes. Ele era o herói da turma, forte, vistoso, batia em todo mundo. Tinha vários sacos de pancada. Hoje, Julinha, casou-se com ele e faz às vezes de saco de pancada. Aliás, o guri não deu para nada nessa vida. Ficou barrigudo, não trabalha e é Julinha que o sustenta.

A segunda, Verônica, era muito bonita e não gostava de estudar. Queria muito ser dondoca e casou com um rapaz de família bem rica. O moço, tadinho, nada bom das idéias, volta e meia tem um surto. Hoje, a coitada, ao invés de bater pernas nos shoppings das grandes capitais fazendo compras, tem que internar regularmente o marido. Não tem tempo nem para amantes.

A terceira, Vera, casou com um rapaz que apreciava a velocidade. Derrapou numa curva e morreu. Vera o amava de verdade e, hoje, verte lágrimas sobre seu túmulo e deposita flores todos os dias.

A vizinha, Adelaide, na qual ninguém reparava (nem eu, que não a citei no começo desta narrativa) e que nem de longe era tão bonita quanto as três, casou com um rapaz calado que ninguém reparava. O rapaz, apesar de tímido, era até bem apessoado e se dedicava ao máximo a tudo que fazia. Dedicou-se ao trabalho e teve uma vida confortável. Dedicou-se a Adelaide e ela foi a mais feliz das quatro.

(Não sei se devia falar da outa vizinha, Lucelinda, mas seu fim foi tão terrível que preferi me calar)

-x-

Vilarmino tinha um defeito. Ele gostava das coisas dos outros. Bastava um menino ganhar um bola, um skate, um brinquedo qualquer, para ele desejar com a mais intensa das vontades.

Desejou ter as notas dos colegas quando era menino. Depois, desejou passar na mesma faculdade que seu amigo passou. Mais tarde, desejou o emprego de outro amigo. E, por fim, desejou a mulher de ainda um outro amigo. Tanto desejou  que conseguiu a mulher e fazer de um amigo, seu inimigo.

Derramou-se e esvaiu-se dentro da mulher do amigo, mas três balas alojadas na cabeça e muito sangue espalhado pelo chão foi seu fim.

-x-



Abelarda era carne, Valenciana, uma redoma de vidro. Uma perecia de braço em braço, a outra, conservada em formol, nunca foi tocada.

Uma carne apodreceu em mil doenças. A outra carne, apesar de morta, conservou-se eternamente.

Filme de terror : A zumbi e a Múmia. Pelo menos, é um bom título.

-x-

Do resto, eu esqueci.

O esquecimento é um santo remédio.

Abençoado os que esquecem. Livres do ódio, possuem o coração para amar.

Até que um enfarte os carregue.

Não se enganem, pois ser bom é bom por si, mas os bons morrem do mesmo jeito.

Amem pelo próprio prazer de  amar e não para ganhar um prêmio. É tão feio ser interesseiro.


POEMAS



Ponto final



Lá no fim do meu poema

tem um ponto final

depois dele o silêncio

tudo fica muito mal

e volta ao seu normal

A felicidade é tão breve

escrever me deixa leve

mas a vida segue e me chama

apaga a minha chama

e me atira de novo à lama

do dia a dia banal.


Saudades

Saudades

dor que nos arrebenta por dentro

dor cuja voz nada faz calar

Qual a razão da saudade?

não sei!

ninguém sabe!

pois a saudade é como uma flor

e uma flor não tem razão se ser

pois não há razão nenhuma

para ela florescer e encantar nossos olhos

não há nenhuma razão para ela exalar tão suave e inebriante perfume

e não há o menor motivo para que ela irradie cores

em toda volta do lugar em que antes só havia sua ausência


mas uma flor

uma não mais que singela flor

diz mais e muito mais

que toda pergunta e que toda resposta

e da mesma forma

a saudade diz bem mais que qualquer poema

pois você não estava aí quando eu mais precisei

e por isso e apenas isso

eu senti a dor lancinante da mais profunda saudade


se quer uma explicação, então deixa eu tentar

saudade é falta

saudade é vazio

saudade é, talvez, procura

mas a razão da saudade é tua ausência

e eu senti tua falta e senti um vazio e ter procurei

e não encontrei

porque me faltaste agora que tanto te desejava?


sentir saudade dói tanto como quando

a gente ajuda alguém e acaba sainda prejudicado

e quem a gente ajudou ainda fica com raiva da gente

(e pior ainda, quando se percebe que no fundo

não se queria ajudar a ninguém mais fora a gente)


queria sentir

da tua presença que nunca tive

do teu cheiro gosto que nunca inalei

da tua voz que nunca ouvi

do teu olhar que nunca olhei

queria sentir saudades de tudo isto

mas sinto apenas a saudade de tuas palavras

pois sempre as li

LUANA é LUZ

Luana é a Luz da Lua.

Luana na noite, a prata dos olhos ardentes sob a luz da Lua, o prato prateado reflete seu rosto.

Luana ao Luar a pensar em dar seu corpo a qualquer seu súdito. Luana a sonhar que é rainha. Ter os homens aos seus pés submissos aos seus caprichos.

Luana sonha se dama, mas na verdade é piranha, é o prêmio maior de quem a queira, pois Luana é a Lua e andam juntas suas luzes. A luz da Lua, tomada ao Sol, a luz de Luana furtada aos seus sonhos.

Luana na rua, Luana na Lua, Luana é meu sonho e seu sonho é também ser sua a Lua . Luana é luz da inocência, na indecência da noite, na excrescência das ruas, na avidez de escuridão que tem a Lua. Qual queres das duas? A Lua e seu romantismo ou a a falta de decoro de Luana?

O que responde a vida: a morte, pois sua inclemência não perdoa!

Mas Luana é eterna e não morre (e no fundo este é seu desejo). Dá só para quem é especial e ela bem descobriu que todos o são.

Luana é cheia de graça, mas não é de graça, ... bom, é quase isso...

Luana na rua, Luana na noite, ela é minha ou é tua? Luana é nossa assim como o é a Luz da Lua, pois sua luz é democrática e vadia e se projeta igualmente sobre todos.