segunda-feira, 3 de novembro de 2014


Há tantos caminhos na estrada
fica em dúvida o meu coração
bendita seria a encruzilhada
se houvesse só uma opção

 (mas uma opção dentre tantas é afinal apenas uma opção
pois que o um que faz o dois é o mesmo um que faz o um
- e faz três e faz quatro e faz cinco -
por isso eu me pergunto
mas não sei a razão deste meu perguntar
e daí não me pergunte o motivo da minha indecisão)

mas se é dúbia a vida
dúbia também será a decisão
não há certeza nesta lida
e nem no sim, nem no não

(dúbio o ego, dúbia a indecisão,
pois tudo é no mínimo dois
logo, um sozinho é apenas solidão)

e daí eu me pergunto, para onde?
mas não tenho certeza de nada
e nem ao menos a pergunta
saberia se é certa ou errada

(sei que fiz a pergunta certa
mas a pergunta certa era a errada
errada a resposta mais nada a fazer
mas por tê-la errado, acabei acertando
assim que se faz o saber
vai entender ...?
disse Nietzsche que a inteligência era um simples acaso )


mas os trilhos me levarão certamente
onde a mente é presente ou não
fantasia e realidade se misturam
numa via em mão e contramão

afinal, talvez só o caminho importe
e o destino pertença só ao acaso
e no horizonte haja algum lugar
onde amar seja possível
seja ele na nascente ou poente seja o ocaso

(é que talvez eu renasça novamente
pois ainda não me ache completo
- essa sensação de incompletude me impulsiona)

um caso de ocasião
uma casa ou um casarão
uma praia
uma saia
cidade, montanha ou oceano
ainda este ano
ou daqui a um século
onde o o caminho me levará?

isso só o futuro me dirá 
ou então é a verdade
que o futuro me esconderá
e a andar é assim que eu levo a vida
ou a é vida que anda a me levar
mas talvez seja melhor ficar bem leve
e deixar que vida me leve
numa onda que vai e retorna
e se desfaz nas areias da tarde

-x-

O poema é...
a folha seca ao vento
a gota que faz que cai mas não cai
a onda que que vai, mas que sempre volta
é um vazio que completa
e um desejo incompleto
uma cereja vermelha
mas que de  tão vermelha
entre teus lábios
aguardando distraídos
a voracidade do meu beijo


PS: sobre o prêmio, o que passou, passou. não sou de dar noticia requentada :)


4 comentários:

  1. Amigo querido, você tem razão, aquela discussão política que se travou, e ainda se trava, no Brasil, foi de tão baixo nível, tão inimaginável que procuro ficar, não digo neutra, mas tento me preservar um pouco em meio a esse festival de besteira que (ainda) assola o país, e vale lembrar aqui o saudoso Sérgio Porto (Stanislaw Pontepreta). Que falta fazem essas pessoas brilhantes e lúcidas como ele e, lógico, o nosso "moleque" Gonzaguinha. Ele é um dos poucos compositores e intérpretes que se você examinar sua obra musical e poética, encontrará além do lirismo, uma extrema coerência. Lembro-me exatamente do dia em que soubemos do seu falecimento. Coincidência, ou não, estávamos, eu e alguns amigos, numa "mesa de bar" - título de uma de suas preciosidades musicais. Imediatamente, o bar inteiro começou a cantar suas canções. Foi algo tão mágico e espontâneo que nunca, nunca mais mesmo me esquecerei.
    Li com todo carinho e atenção seu poema e ao fazê-lo me apercebi das dúvidas e incertezas do caminho. Mas haveria também um fio de esperança? Como diria Clarice Lispector, sempre haverá "um fio solto no tapete". Gostaria de te informar que devo aqui voltar para tornar a me debruçar sobre o mesmo. Lamento, mas você vai ter que me aguentar [risos].
    Benno, obrigada por suas palavras de incentivo e uma semana boa, serena e muito musical...beijos!

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  2. Perdi-me no mar dúvidas e reencontrei-me na voracidade do beijo.

    Bom fim de semana!

    Beijo

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  3. Oi, Benno!
    Engraçada é a trajetória da vida! Não importa o caminho que escolhemos e mesmo que não o escolhemos, a vida se encarrega de escolhê-lo. Fica aqui a certeza de que ao final, olhando para trás, o caminho não poderia ser diferente.
    Beijus,

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  4. Boa noite, Benno!
    Após ter meu pc esfacelado pelo desgaste na fonte e no hd, ficamos sem trilhos, sem rumos. Mas veio o frescor da noitinha e voltei aqui para me acalmar. Leio e releio, vejo esses desencontros de trilhos férreos..."e afinal, só o caminho importa", foi assim que ficou essa mensagem poética fincada no meu quarto escuro - estranho, só no escuro meus dedos e imaginação funcionam. Tua poesia é quadro que leio, mas não para desvendá-la, mas para que o enigma se espalhe cada vez mais. Adorei! Vou agora para o prazer do teu poema mais recente.
    Um afago em teu coração...

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