cabe ao poeta
dizer-se no verso inteiro e por completo
a coragem exposta
e a alma franca em amplo gesto
a mão e a face nua
o dedo em riste e o espírito irriquieto
os lábios hirtos e o sobrecenho altivo e impávido
expor os sentidos e pensamentos
o povo deles tão ávido
cabe poeta desmascarar
xula ou culta
a palavra que andava oculta
ao poeta cabe o que não cabe em si
e é por si que ele em si não cabe
e o que ele não sabia
se revela no poema que ele sabe
-x-
Ela sempre me repelia, e se escondia naquela nuvem fria e escura que lhe turvava o rosto porém, mesmo a noite mais sombria tem um amanhecer e, de tanto insistir em lhe instilar um sorriso, ela por fim e para sempre se abriu em flor, seus cabelos dourados se espalharam feito as pétalas da primavera e os olhos se abriram plácidos como lagos que repousam brilhantes nos fundos dos vales alpinos.
Mas, como de outras vezes, não fui eu que colhi a flor que plantei.
Poemas antigos
1- O poeta o papel e a eternidade
o papel em branco
do poema
a eternidade separa
o papel em branco
da eternidade
o poema separa
a eternidade
do poema
o papel em branco separa
separam-se
poema e papel em branco
eternamente
eternos
papel e poema
transitório poeta
2- Sem Maquiagem
Exangue, pálida
e esquálida,
no atáude,
perdida saúde,
reluz a tez,
qual corpo branco
de vela,
extinta a chama,
que a lágrima de cera
percorre
pela última vez.
- 3 -
versos
são asas
de luz
um ser alado e impávido
de almas devorador tão ávido
(um propulsor
de combustível sólido)
a Lua se aproxima
a cada rima
a visão de uma galáxia
redime
quando em meu peito a palavra
se comprime
mesmo que não seja
assim tão certo
com o verso o céu
fica de mim tão perto
- 4 -
o poema
não é um sibilo
de uma sílaba
não é o sabor
dos dizeres de um sábio
não é o torpor
que existe num sábado
nem a cor esquecida
no borrão de uma aquarela perdida
ele é uma espécie de mágica
veloz, retumbante e lépida
e mesmo quando não tem
nem sentido e nem lógica
é o desejo escondido
de ser um segredo sagrado
a chave perdida de um divino mistério
a mistura do que é místico
com o conhecimento védico
é a verdade assim expressa
o sabor e o aroma de um expresso
a textura delicada de um linho
a delicia rubra de um vinho
a espessura tênue de um átimo
a expressão exagerada do que é ótimo
o poema é o que eu não disse
mas há no verso
o enigma mais indecifrável
do universo
o poema é o que eu não sei
mas que sinto
o poema é o que é
pois eu não minto
Olá Benno,
ResponderExcluirSerá o poema a única tradução da verdade que achamos enxergar? Eu posso até apostar que é o máximo que poderemos nos aproximar dela porque os versos são uma espécie de traduzir com alma, com o sentir. Gostei dos seus versos acima. Ótimo fim de semana! :)
Gostei muito, Benno, de suas palavras e dos seus pensamentos...
ResponderExcluirBom fim de semana e um grande abraço!!!
Olá Benno!
ResponderExcluirVejo uma série de poemas, todos lindos, mas o que mais mexeu comigo foi o modo como brincou com as palavras no poema O poeta o papel e a eternidade. Parabéns, ficou ótimo!
Beijo!
Olá Benno,
ResponderExcluirGostei de tudo que li. Você tem um estilo bem peculiar de versar e é um estilo que me agrada, pois reflete espontaneidade e não preocupação com formas e rimas.
Os versos do poema 'O poeta o papel e a eternidade" me lembram haicais. Ficaram ótimos.
Gosto da sua maneira descontraída de compor e jogar com as palavras.
Excelente dia!
Oi, Benno!
ResponderExcluirO poeta necessida de coragem para se expor, pois muitos não entendem que como um ator, o poeta veste um personagem. Fiquei presa em "O poeta o papel e a eternidade" que invadiu a minha mente e tomou posse. Estupendo!!
Beijus,
gostei de todos, mas talvez o primeiro desta série foi o que mais me tocou...
ResponderExcluir:)
Uauuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!! Adorei tudinho!! Fiquei deliciada com tanto poder de escrita!! Quero desejar que o teu mês de janeiro continue a ser maravilhoso!! Muitos beijinhos,fica com deus e até breve!! http://musiquinhasdajoaninha.blogspot.pt
ResponderExcluirBenno, sua postagem me fez lembrar do Torquato Neto, quando ele diz que "toda palavra guarda uma cilada". Daí elucubrar comigo mesma: cabe ao poeta dizer, desdizer e nos dizer até mesmo o que não disse. O poeta se desveste a cada poema traçado, a cada sentimento estampado, nesses versos que nos convidam também, tão bem a criarmos asas e voarmos, leves, livres, pássaros no infinito!
ResponderExcluirLindíssimos, amigo, obrigada pela emoção!
Beijo!
;))
Estive a ler e a ver não só esta postagem mas uma parte de seu blog,e gostei, dou-lhe os parabéns pelo blog por seu trabalho e obrigado por partilhar.
ResponderExcluirFicarei muito feliz se desejar fazer parte dos meus amigos virtuais,
decerto que vou seguir também o seu blog.
Deixo as minhas cordiais saudações, e muita paz.
Sou António Batalha.