quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Levanto da poltrona
tomo uma xícara de café
folheio novamente o livro
a aflição que me toma
não sei bem o que é
(o sabor dos teus lábios ainda adoça minha língua)
é um calor que me toma
é frio que me anoitece
é torpor que me assoma
é um trovão que me estremece
(ribomba em meu peito, o pulsar de tuas veias)
É que tem dias que a gente para
e espera que o mundo pare também
esperando que fugacidade do tempo
diga ao nosso tempo amém
mas a máquina invencível da vida
que em  arrojada flexão se estupora
não para e nos desafia mais uma vez
como o veleiro audaz e  cartaginês
que no fundo da enseada não se ancora
Ah! se eu pudesse
deixar de partir e  segurar enfim
o ponteiro intrépido do e arredio do tempo
e ao meu comando imponente dissesse
- Pare tempo naquele mesmo tempo que ocorreu ainda agora
atendendo minha voz altitruante
congelasse o fluir do universo
no instante incomensurável do encontro de nossas bocas
estrépitas, arreganhadas, caudalosas e ocas.
e eu pudesse perdurar apenas na fugaz ventura
que é a um tempo tanto a enfermidade como a  cura
e nunca chegasse o dia fatídico da separação
do desencanto, do desalento e da dor
pois que só num breve momento
pode perdurar a eternidade do amor
pois nada que em nós germina
sob ondas de adrenalina
a fluir pelas nossas veias
há de jamais vicejar
entre palavras inteiras e meias
pois o tempo que vem  é o que vai
e o que entra pela porta é o que sai
e ele com suas garras possantes
destrói os séculos em instantes
e  sempre erode
mesmo as paredes mais sólidas
e ao mesmo tempo explode
restos de paixões insólitas
paredes que jamais tenhamos construído
paixões que nunca tenhamos sentido

é que foi em vão toda nossa luta
e de nada valeu nossa dupla ser astuta
pois o elo mais sólido que um dia nos amarrou
foi o cadarço frouxo do sapato que desenlaçou
o estreito nó que nos unia pelo coração
era fraco pois que feito de pura separação
é por isso que me prendo a um mero instante
como quem se agarra a um sonho delirante
e lamento tanto o triste avançar dos ponteiros
que inclementes avançam inteiros
segundo a segundo a me empurrar para frente
com seu vagar monótono e intransigente
para longe do momento que fui mais que um folhetim
dissipando o pouco de mim que ainda havia em mim
pois só fui de fato o quanto em ti eu me derramei
se meu  sangue flui  é apenas por que te amei
Mera ilusão, tanto o antes como o depois
um que eu era, um que eu serei, ficam dois



é na verdade tão verde
o verde olhar que há nas matas
por outro lado
laivos rosáceos que do por do Sol se espalham
pelo negrume do mar que anoitece
enquanto nas nuvens o branco vestido de noiva da Lua
e as estrelas companheiras o sonhador que sou agradece
aracnídeo noturno que versos tece por amor a ti
Para que se dizer isso ou aquilo, tipo
onde está o dia? Foi por ali ou por aqui
Ninguém sabe ao certo onde está o dia?
por conta de escuridão que agora reina
Por que dizer isso se se podia dizer muito bem outra coisa
mas o que se disse é apenas o que disse e nunca poderia ser o que não se disse
nem a respeito do dia, nem a respeito da noite
de outra forma, não haveria assunto
e nada haveria a ser dito, ficando vazias as palavras
e brancas as páginas dos livros e brancas capas
tornariam vazias as prateleiras das bibliotecas
será que tudo o que já foi escrito foi em vão e por nada?
ou será que na se disse apenas para se esconder a verdade
ou será que sou eu, apenas eu, que nada entendo

terça-feira, 1 de novembro de 2016

arredio
     etéreo
    fugaz
um gás que infinito me percorre
um canto
    um poema
        uma flor
este amor que por dentro me colore


responda
    por favor
        o que dizer
diante da eterna proeza
do amanhecer de iluminar qualquer dia
silêncio
    não diga
        nada mais
o silêncio é melhor
que e palavra que se diz e que esvazia



amei, porém amei demais
e demais a mais
e por demais de menos
o amor em nada em si
a mim me fora ameno
desfez-se o amor em mim
ao dizer-se o além
aliás o mais velado amém
de amor infinitamente sofri
e  nunca mais sorri
e por ter amado tanto assim
ao amor não mais dissera um sim

(de amor meu coração não basta
a carne miúda a solidão tão vasta)

de amor morri a morte mais dolorida
a dor eternamente comprida
a pena perpétua a ser cumprida
de manhãs tolas e  descoloridas
prometo de eterno amor não mais sofrer
e a falta de amar será o agora meu doer

pois a alma e o corpo morrem de amor
quando o amor termina
mas nesse sofrer infinito

te,,,

amar-te e nada mais além
é tudo e simplesmente que te faço
que queres mais de mim
do que o imenso amor que te dedico?
se o amor é mais
que qualquer outra tanta coisa
se é tudo e no entanto
não te parece tanto
que queres ainda mais
que todo amor que em mim possuo?
porque o amor a me doer
e que é meu ser e conteúdo
não te parece tudo
que mais eu te pudera conceder?
por que me pedes este pedido indecente
e meu amor não te parece suficiente?
se insistes no pedido atroz com que me feres
então, vai, leva meu ser contigo
que isto é tudo que eu consigo
e faça dele o que quiseres

leva contigo e alma e o corpo
pois que um flutua o outro jaz morto
se meu coração já não te basta
vai, leva em paz a mim e me devora
se esta paixão que tanto desarvora
não te parecer tão casta e vasta