quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O Inverno -Post antigo republicado


O INVERNO


Nos invernos de nossas vidas, a alma hiberna, as sementes das nossas vontades ficam latentes e dormentes, esperando o momento certo de serem novamente tocadas pela luz do sol.

Nos invernos, adormeço e entristeço. Parece que, assim como a  natureza, que precisa de um tempo para voltar com força  redobrada, nós também precisamos ficar, por vezes, tristes, frios, cobertos de gelo e, assim, conter-nos para recuperar as forças.

Por vezes, ficamos sorumbáticos, mas não estamos. Estamos hibernando, esperando o momento propício de voltar à vida. Há sabedoria no modo que a natureza encontra para se perpetuar.

Os invernos, por mais tristes e nostálgicos que sejam, são necessários. Um pouco de aridez ajuda a refertilizar o solo. É no inverno que a natureza prepara a primavera.

Em pleno inverno, a primavera inicia seu nascimento, tal como o feto que vai crescendo no útero materno. Quando brota a primeira flor anunciando o nascimento da estação, o broto, não sem algum esforço, ainda precisa romper uma fina camada de gelo. E logo que a arrebenta, é como se estivesse rompendo um cordão umbilical que a prendia ao seio da Terra. O húmus era a placenta que, no interior do útero da mãe Terra, a acalentava no inverno.

É isto: a Terra é a futura mãe, o inverno é o período de gestação e, em seu ventre, que, aos poucos, vai intumescendo, vai gestando a primavera, sua amada filha. Todos sabem que o filho em gestação consome os nutrientes da mãe e que a sua pele perde a cor, os ossos se fragilizam, assim como a natureza se descolore no inverno para nutrir sua prole. No inverno, vejo as flores que rebentarão do solo quando findar a gestação.

Sabedoria é enxergar no vazio do espaço o futuro que vai ocupá-lo, ou então, no outono, olhar os galhos vazios das árvores e ver as folhas que os rechearam na primavera.

Os momentos mais bonitos da natureza são aqueles em que dois opostos se embatem, e isto ocorre nas mudanças de estação. São momentos críticos em que a vida vence e se perpetua.

Assim é o parto. Assim é o romper da primavera. E o inverno ensina aos homens a serem prudentes, a construírem noutras estações o sustento que a natureza não poderá fornecer no inverno, ocupada que
está em preparar sua renovação.

Os homens evoluem, não pelas facilidades que encontram, mas pelas conquistas decorrentes da escassez com que se defrontam. Este ponto crítico da natureza, o inverno, me diz tantas coisas, que a cada primavera renasço junto com a natureza.

Para irromper em vida nos dias, preciso adormecer nas noites.



Meteorologia

Previsão do tempo: chuva esparsas ao longo do período, com fortes pancadas ao final do dia. Estúpido temporal que rompe dos céus, molhando minhas árvores, inudando meus rios. Abracadábrico vendaval de sutilezas, adentrando minhas ventas, penetrando meu pulmões sujos do ar das cidades poluídas, limpando a sujeira depositada pelos escapamentos que vorazmente devoram galões de gasolina aditivada, gasolina que veio dos veios da terra, que veio das veias negras do fundo da terra ,arrancadas junto com os cascalhos que as torrentes dos rios há milhões de anos ali deixaram. Veias velhas, veios vis, velhas vilas, valentes valetes, vales valéricos das ácidas chuvas. Quando estou andando na chuva, lembro de todas às vezes que a vida me aplicou algum tipo de golpe e das vezes que caí por terra. Ao tempo em fiquei prostrado, isto me deixou triste, querendo que as coisas fossem diferentes, mesmo sabendo que não poderiam sê-lo. É que as coisas quando se passam, se tornam necessárias, mas só então. Antes eram apenas possibilidade. Eu acredito e desacredito do destino. Da mesma forma, eu acredito e desacredito da meteorologia. O destino é uma combinação de predeterminação e construção. Se tudo já estivesse escrito há muito tempo, não haveria nada o que escrever. Nem dos temporais nem do estio poderiam escrever os meteorologistas. Já pensaram! Minhas tolas palavras que junto neste arremedo ainda agora, teriam sido escritas há muito tempo por alguém mais tolo ainda, pois só um tolo ficaria perdendo tempo com alguém que fica perdendo tempo escrevendo o que já havia sido escrito por não ter outra coisa para fazer, tendo poder para escrever coisas muito mais importantes. Eu sou contra os profetas! Peço o fim dos augúrios. Afastem-se de mim videntes! Estes que previram o que ia acontecer. Ainda que pense que, talvez, eles estivessem certos. Acho que eles eram pessoas notáveis e admiráveis. Mas, no fundo, eu não quero saber qual será o meu destino. Prefiro continuar nesta ilusão de que eu estou me fazendo e as coisas que faço, por menores que sejam, são coisas que advém do meu próprio mérito. Se souber que hei de vencer antes da luta, nada farei para vencê-la. Por que, se já sei que está escrito, de que adiantaria?. Que adiantaria escrever estas pobres e podres palavras, escritas desde o princípio do tempo, embolorados e antecipadas pelos profetas. Por isto sou contra a previsão do futuro. Peço o fim da meteorologia. Não quero saber se vai dar praia ou não, amanhã. Quero me escandalizar com o Sol! Quero ser supreendido pela a chuva! Vamos supor que eu consultasse uma astróloga para saber se meu encontro com minha paquera ia dar certo. Se o horóscopo dissesse que sim, eu precisaria me esforçar para conquistá-la e provavelmente daria errado. E se desse certo, não seria por meu charme que eu a conquistara mas pelo arbítrio de algum escrivinhador de destinos, uma concessão dos céus ou de espíritos insepultos. E se eu fosse prestar um concurso e um futurólogo me dissesse que eu iria passar, ou que, por outro lado, não passar? De que adiantaria eu estudar e me preparar para o concurso? Não estudaria e a bomba estaria armada. Futurólogos, me deixem em paz, eu pago para não saber o futuro! Com certeza é o estudo o principal fator decisivo neste caso. Se eu passei em um concurso, isto não foi obra de algum arquiteto, ou adivinho. Eu me determinei para tanto e estudei muito. Eu tive mérito. Não existem pessoas inteligentes ou predestinadas. Existem pessoas que querem, que tem vontade. A vontade é o grande elemento. Acho que há uma parte escrita do futuro e outra ainda por escrever. Esta última é que importa para nós. A outra, apenas devemos aceitá-la como é, já que nada podemos fazer para mudá-la. Não me digam o meu futuro. A página já escrita ainda deve ser virada. Quero ler o livro da minha vida, desevendando-o, página a página. Quero que ele seja um livro que vai sendo escrito à medida que as páginas são abertas. E que a cada página eu me supreenda. Quero todos dias ver o por do Sol como uma coisa que ainda não estava escrita há milhões de anos e me admirar de sua maravilha. As páginas que já foram escritas, farei delas uma fogueira para me aquecer nas noites frias. E o mistério estará na página que ainda não virei, na página da vida que ainda não escrevi.
 


5 comentários:

  1. Olá Benno! Sabes! eu gosto do inverno gosto de estar em casa e ver a chuva a caír,gosto de estar junta a lareira e também gosto da neve. geralmente quando vou viajar é sempre de inverno :) ja tive em Toronto com 30 graus negativos ,tive na itália tamb+em de inverno,na França também de inverno :) Porque No Algarve onde eu moro é bom no Verão,tem lindissimas prais ,muito calor ,por isso vou de inverno viJar para aproveitar o Verão por aqui.

    Desejo-te um excelente fim de semana!

    Beijo,Carla Granja

    http://paixoes-encantos.blogs.sapo.pt/

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  2. Lindíssimo e inteligente, demais, esse seu texto.
    Não me fale do Inverno de nossas vidas, por favor, porque embora sua comparação esteja perfeita, na vida real não se passa o mesmo.
    Como sabe nao Outono, as folhas começam a cair, tudo fica mais cinzento e acastanhado, menos luz, mas depois do Outono, chega a Pimavera,como quando tínhamos 20 anos (eu tenho 21, não devo mentir, senão Papai do Céu, castiga, né?) e tudo floresce, está "em cima".

    Claro, meu querido e o melhor é dormir, para esquecer o Outono e o Inverno. Depois acordaremos na Primavera. Bem, que me podia oferecer uma rosa vermelha.

    Metereologia, texto escrito com raiva e aguaceiros na alma.
    Você não quer conhecer seu futuro, a todos os níveis.
    Racionalista determinado. E se aquele amor, que estava vivendo não desse certo? Não, não quer saber.

    Boa sexta.
    Beijos de luz,de Primavera

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  3. Inteligente metáfora entre o nascimento e o tempo.

    Boa semana.

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  4. Oi, Benno! Estive uma temporada hibernando... aproveitei pra recuperar meu tornozelo, mudar de cidade duas vezes... e agora estou me reencontrando. Maravilhoso me deliciar com seu texto! Beijo!

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  5. suas metáforas são de tirar o folego!

    beij0

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