sábado, 13 de dezembro de 2008

Observo a mansidão das colinas, a tranqüilidade dos pássaros e a serenidade dos tempos.

As aves já não se lembram dos ares em que um dia voaram, nem as colinas sentem saudades das flores que lhes coloriram as encostas. Os tempos não sentem faltam de outros tempos. Estão todos tão ocupados sendo, que não lhes sobra tempo para sentir saudades.

Eu sinto falta dos mares em que nadei, das correntezas que enfrentei, dos amores que senti. As flores cujas pétalas um dia acariciei ainda me visitam a lembrança. Tantos amigos que tive e se foram levados que foram pela primeira ventania dos invernos. Ainda conversam mudos comigo. A copa da árvore sob cuja sombra descansei, hoje apenas galhos nus e ressequidos sustentados por um tronco morto, ainda refresca minha alma.

Acho que é do ser humano sentir saudades. Pensar que a felicidade pertence ao passado, nunca ao presente. Esquecemos de viver, revivendo o que um dia vivemos. O futuro é um fio de esperança que nos acalenta os sonhos, o passado, um desejo de ser revivido. E o presente, apenas o desejo de que fosse outro.

Fomos felizes e o seremos, mas nunca o somos. Talvez a felicidade seja só uma lembrança, ou, então, um desejo. Ou, ainda, a felicidade more num lugar distante e inalcançável onde nunca chegaremos.

Na busca de ser feliz, deixamos de sê-lo. Esquecemos da preguiça dos entardeceres e da profusão de cores dos pores-do-Sol. A brisa, que na lembrança nos faz carícias gostosas no corpo e nos cabelos, agora nos passa despercebida. Sonhando com tesouros escondidos nos mais remotos recantos, deixamos escapar os tesouros que nos passam ao alcance das mãos.

Nós, seres humanos cabeças-duras, insistimos em ignorar as lições que nos cercam. Preferimos pensar que somos os mais espertos na arte de viver e fazemos tudo à nossa maneira, com muito desespero e impaciência. Mas está ali escrito, no relevo das colinas, no vôo dos pássaros, no escoar irrevogável dos tempos, que tudo que buscamos é tudo que nos cerca, aqui e agora. E isso a mais insignificante coisa do universo sabe ao simplesmente ser do jeito que é. Um pequeno grão de poeira perdido no meio do vácuo intergaláctico infinito é apenas um grão de poeira perdido no meio do vácuo intergaláctico infinito e aí está sua mais nobre missão nesse mundo.

5 comentários:

  1. Benno,

    A incapacidade de viver o momento presente parece mesmo ser o grande problema do ser humano.

    A essência do nirvana budista é exatamente conseguir estar no aqui agora e apenas nele.

    Também para Osho todo o mal da humanidade reside nos desejos e o desejo é sempre um anseio para o futuro.

    Em alguns poucos momentos de minha vida consegui foco suficiente para viver o momento presente e apenas ele, mas confesso que foram poucos.

    Logo desvirtuo e começo a sonhar novamente. rsrs

    Adorei o texto. Você me surpreende a cada dia! :D

    Beijos

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  2. Benno,
    Venho retribuir e agradecer a visita e comentário no Arte Ilumina a Vida. Como eu falei n'A Itinerante , já havia passado aqui e achei linda a poesia Ariadne, uma das mais belas poesias eróticas que eu pude ler. Parabéns, vc é um excelente poeta .

    Abç

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  3. Benno,vim retribuir sua visita ao meu recanto e gostei muito do que encontrei aqui.Seus escritos possuem versos bem elaborados,de
    grande perfeição estética e sensibilidade.Parabéns pelo seu talento.
    Um grande abraço.

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  4. Benno, vc descreveu muito bem a insatisfação que assola nossos corações, acho que todos sentimos isso, ou a felicidade ficou no passado ou sonhamos com ela como algo quase inalcançável. Infelizmente, deixamos de valorizar belos momentos, lindas pessoas, um sorriso, um gesto, um olhar.
    Já estive aqui e li o Ariadne, achei linda.

    Beijão e obrigada pela visita lá no blog.

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  5. Benno,
    Mesmo demorando, vim retribuir a visita que fez ao Sopros, como disse na Neiva, conheço seus escritos e reconheço seu talento há algum tempo.

    Sobre a felicidade, lembrei de um trecho de machado de Assis que diz que a felicidade brinca conosco e se esconde cada vez que tentamos alcançá-la.

    Mas a verdade é que estamos sempre em busca de algo, sem prestar uma atenção cuidadosa no agora.

    Abraço

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