segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O ABC da Batata

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Tenho medo do medo
e medo de dizer que tenho medo
tenho medo de quem tem medo
e medo de quem faz medo
pois o medo
me impede de ser livre
em suma
me impede de viver
ter medo é de certa forma morrer
não confunda entretanto
o medo e a prudência
com não se deve confundir
a coragem e a imprudência
desde cedo aprendi
que para ter coragem
foi preciso antes ter medo
sem medo não há coragem
sem medo não há nem aragem
de um novo tempo de se viver
medo não é uma coisa
que não se tenha
medo é uma coisa
que se supera
submisso ao medo
eis alguém agrilhoado sem grilhões
basta-me sentir a coragem
a insuflar minhas veias
o sangue a meus pensamentos somado
para que meu sangue ebula
e estes jamais sejam tomados
disse-me o professor de filosofia
que os gladiadores se dirigiam
a morte cantando
pois eram escravos no corpo
mas livres no espírito
não tinham medo algum
                                     e alegres diziam :
Ave César, os que vão morrem te saúdam
e não temem o que lhes destina a sorte 
é que para não se ter medo de nada
é preciso perder o medo da morte

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Ainda lembro bem. Era moço ainda. Olhei bem o que via, mas não vi. Por não entender, errava pelos quatro cantos como um cego.
Agora, passados tantos anos, enfim acordei deste meu sono e entendi o que havia acontecido.
Não eram cores que eu via, era a minha própria mente. Engraçado que hoje, já não consigo enxergá-las. O entendimento acaba nos afastando.
O que é melhor? Estar aqui, como agora, fora de mim, dominando a situação? Ou ser eu mesmo como eu era,  descontrolado, autêntico, e sem ao menos me entender.

-x-

Riscadas em traços desleixados no caderno amarelecido pelo tempo, repousam aquelas
três palavras que jamais deveriam ter sido escritas, pois que só se escreve o que é para ser perene
e o tempo revelou a fugacidade do que parecia ser definitivo. A amargura estampa-se em meu olhar
sempre que este repousa triste sobre a declaração definitiva que revelou-se não mais que volátil.
Em todo meu ser espalha-se a vileza torpe e sombria da desesperança.
Talvez fosse melhor rasgar aquela página que guarda a última lembrança que de ti restou.
Talvez fosse melhor esquecer do que já deve ter sido esquecido por ti faz tempo.
Será que ainda lembras de ter escritos aquelas malditas palavras que, então, me pareciam tão benditas?
Talvez não te ocorra a sofrimento que daquilo ficou.
Olho o espaço vazio que preenche agora o teu lado da cama. Não é mais teu corpo que o preenche, mas a dor da saudade. E na seda macia, não mais teu cheiro, mas a tua falta.
Não sei o que dizer. As lembranças de alegrias que resultaram em tristezas são mais tristes que as lembranças de tristezas que só produziram tristeza, pela promessa que nelas viveu um dia. A promessa velada, a promessa fracassada, o pendão da lágrima que tripudia sobre o sorriso, a vergasta do tempo que desfaz coisas feitas, a prisão deprimente a uma passado que não fez futuro.
Resolvo-me então o picoto em mil pedaços a que me sobrou de tuas letras.

-x-

ai
o passar do tempo
ai
o passar das horas

vai o ponteiro inclemente
no seu lento e irremediável girar
giram lá fora
as nuvens, as sombras, as sobras, as cobras
e aqui dentro o nada em mim a girar
vai o tempo, vão as horas
no ralo do esquecimento a escoar

segunda-feira, 3 de novembro de 2014


Há tantos caminhos na estrada
fica em dúvida o meu coração
bendita seria a encruzilhada
se houvesse só uma opção

 (mas uma opção dentre tantas é afinal apenas uma opção
pois que o um que faz o dois é o mesmo um que faz o um
- e faz três e faz quatro e faz cinco -
por isso eu me pergunto
mas não sei a razão deste meu perguntar
e daí não me pergunte o motivo da minha indecisão)

mas se é dúbia a vida
dúbia também será a decisão
não há certeza nesta lida
e nem no sim, nem no não

(dúbio o ego, dúbia a indecisão,
pois tudo é no mínimo dois
logo, um sozinho é apenas solidão)

e daí eu me pergunto, para onde?
mas não tenho certeza de nada
e nem ao menos a pergunta
saberia se é certa ou errada

(sei que fiz a pergunta certa
mas a pergunta certa era a errada
errada a resposta mais nada a fazer
mas por tê-la errado, acabei acertando
assim que se faz o saber
vai entender ...?
disse Nietzsche que a inteligência era um simples acaso )


mas os trilhos me levarão certamente
onde a mente é presente ou não
fantasia e realidade se misturam
numa via em mão e contramão

afinal, talvez só o caminho importe
e o destino pertença só ao acaso
e no horizonte haja algum lugar
onde amar seja possível
seja ele na nascente ou poente seja o ocaso

(é que talvez eu renasça novamente
pois ainda não me ache completo
- essa sensação de incompletude me impulsiona)

um caso de ocasião
uma casa ou um casarão
uma praia
uma saia
cidade, montanha ou oceano
ainda este ano
ou daqui a um século
onde o o caminho me levará?

isso só o futuro me dirá 
ou então é a verdade
que o futuro me esconderá
e a andar é assim que eu levo a vida
ou a é vida que anda a me levar
mas talvez seja melhor ficar bem leve
e deixar que vida me leve
numa onda que vai e retorna
e se desfaz nas areias da tarde

-x-

O poema é...
a folha seca ao vento
a gota que faz que cai mas não cai
a onda que que vai, mas que sempre volta
é um vazio que completa
e um desejo incompleto
uma cereja vermelha
mas que de  tão vermelha
entre teus lábios
aguardando distraídos
a voracidade do meu beijo


PS: sobre o prêmio, o que passou, passou. não sou de dar noticia requentada :)