segunda-feira, 29 de julho de 2013
-x-
Todo dia fazia a mesma coisa. Até os passos contava e os sabia decor. Algumas vezes contava de trás para frente, só para ver se acabava a contagem em um.
Um dia quis fazer diferente e mudou seu caminho. Viu tantas coisas, tudo era diferente. Não estava acostumado com o caminho e se distraiu ao atravessar a rua (sempre aquela mania de contar os passos!), acabando por ser atropelado e morreu. Agora está morto (ou será que estava morto antes?).
-x-
Primeiro, doeu muito a separação. Mas foi curando, transformando-se em cicatriz. Por tanto tempo trouxe a chaga em seu peito que acabou acostumando. Virou apenas uma vaga lembrança. Hoje nem se percebe. O coração está pronto para sofrer mais um golpe e, por isso, ele anda soltando uns olhares sedutores para as moças.
-x-
Tomou um gole para ver se esquecia. Não esqueceu. Daí tomou um segundo, e nada.
Continuou tomando, até tomar todas. Esqueceu o que queria esquecer e hoje vive de lembrar que é sempre dia de beber.
-x-
Pela milésima vez escutou a mulher reclamando de tudo. Tudo o que fazia era motivo. E ele aceitava a reclamação calmamente mesmo quando sabia ter razão (o que nem sempre era verdadeiro). Um dia foi comprar um machado. Usou uma desculpa qualquer, uma árvore que estava atrapalhando a vista do jardim, qualquer coisa. Chegou em casa com aquele embrulho esquisito e a mulher reclamou como sempre. Chegou a pensar em disparar um golpe certeiro no pescoço para silenciar aquela ladainha, mas acabou derrubando a árvore. Aguentou as reclamações por muitos anos até que se atirou da ponte. O corpo nunca foi encontrado. E mulher continua a reclamar apesar de falta de platéia.
-x-
Gostava de cantar enquanto tomava banho. Foi cantando, cada vez mais alto. Na sua imaginação, cantava divinamente. Porém, como todos sabem, não se ouve de si próprio a voz como ouvem os demais. Sua voz zunia como a taquara que ao vendaval se racha. Para piorar, a parede do banheiro era fina, tão fina que a vibração que produzia, tinha o terrível efeito de multiplicar a intensidade da péssima voz e o eco que os tijolos ocos produziam em seu interior intesificam o insuportável som de taquara rachada. Não se importava com o vizinho.
Enquanto isso, seu vizinho sofria a punição que pensava não merecer. Rezava todos os dias para que cantor silenciasse para sempre. Como não teve atendidas suas preces, acabou por tirar a enferrujavada pistola da gaveta, invadir a casa do vizinho de descarregá-la na cabeça do pretenso rouxinol.
-x-
Sentia dor... e não conseguia dormir.
Tentou de tudo. Contar carneirinhos, prestar atenção na respiração, imaginar a ponta de um lápis. Voou para bem longe, mas não conseguiu dormir.
Cantou e não dormiu. Leu e não dormiu. Pensou e não dormiu... sonhou e não dormiu.
Sua vida se encheu da falta de sono. Tudo que via lhe lembrava do sono, ou melhor, da falta de sono.
Foi enlouquecendo.
Estourou os próprios miolos e dormiu enfim o sono eterno.
-x-
Ai, quanta desgraça. Caberia bem uma piadinha aqui para contrabalançar, mas não me ocorre nehuma no momento. O negócio é rir da vida!
Todo dia fazia a mesma coisa. Até os passos contava e os sabia decor. Algumas vezes contava de trás para frente, só para ver se acabava a contagem em um.
Um dia quis fazer diferente e mudou seu caminho. Viu tantas coisas, tudo era diferente. Não estava acostumado com o caminho e se distraiu ao atravessar a rua (sempre aquela mania de contar os passos!), acabando por ser atropelado e morreu. Agora está morto (ou será que estava morto antes?).
-x-
Primeiro, doeu muito a separação. Mas foi curando, transformando-se em cicatriz. Por tanto tempo trouxe a chaga em seu peito que acabou acostumando. Virou apenas uma vaga lembrança. Hoje nem se percebe. O coração está pronto para sofrer mais um golpe e, por isso, ele anda soltando uns olhares sedutores para as moças.
-x-
Tomou um gole para ver se esquecia. Não esqueceu. Daí tomou um segundo, e nada.
Continuou tomando, até tomar todas. Esqueceu o que queria esquecer e hoje vive de lembrar que é sempre dia de beber.
-x-
Pela milésima vez escutou a mulher reclamando de tudo. Tudo o que fazia era motivo. E ele aceitava a reclamação calmamente mesmo quando sabia ter razão (o que nem sempre era verdadeiro). Um dia foi comprar um machado. Usou uma desculpa qualquer, uma árvore que estava atrapalhando a vista do jardim, qualquer coisa. Chegou em casa com aquele embrulho esquisito e a mulher reclamou como sempre. Chegou a pensar em disparar um golpe certeiro no pescoço para silenciar aquela ladainha, mas acabou derrubando a árvore. Aguentou as reclamações por muitos anos até que se atirou da ponte. O corpo nunca foi encontrado. E mulher continua a reclamar apesar de falta de platéia.
-x-
Gostava de cantar enquanto tomava banho. Foi cantando, cada vez mais alto. Na sua imaginação, cantava divinamente. Porém, como todos sabem, não se ouve de si próprio a voz como ouvem os demais. Sua voz zunia como a taquara que ao vendaval se racha. Para piorar, a parede do banheiro era fina, tão fina que a vibração que produzia, tinha o terrível efeito de multiplicar a intensidade da péssima voz e o eco que os tijolos ocos produziam em seu interior intesificam o insuportável som de taquara rachada. Não se importava com o vizinho.
Enquanto isso, seu vizinho sofria a punição que pensava não merecer. Rezava todos os dias para que cantor silenciasse para sempre. Como não teve atendidas suas preces, acabou por tirar a enferrujavada pistola da gaveta, invadir a casa do vizinho de descarregá-la na cabeça do pretenso rouxinol.
-x-
Sentia dor... e não conseguia dormir.
Tentou de tudo. Contar carneirinhos, prestar atenção na respiração, imaginar a ponta de um lápis. Voou para bem longe, mas não conseguiu dormir.
Cantou e não dormiu. Leu e não dormiu. Pensou e não dormiu... sonhou e não dormiu.
Sua vida se encheu da falta de sono. Tudo que via lhe lembrava do sono, ou melhor, da falta de sono.
Foi enlouquecendo.
Estourou os próprios miolos e dormiu enfim o sono eterno.
-x-
Ai, quanta desgraça. Caberia bem uma piadinha aqui para contrabalançar, mas não me ocorre nehuma no momento. O negócio é rir da vida!
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Em inícios de primavera, qual o interior do frasco vazio de um perfume requintado, o ar fica repleto de odores.
Ávidas de humus, como ninfas mágicas, prenhes as plantas explodem em flores.
As árvores frondam-se em mil verdes ramagens.
As copas acenam dizendo sim ao vento.
Extensos galhos, farfalhando, mutuamente em verdes se abraçam.
A natureza toda se transforma, a luz se espalha sobre as escuridão de grotas esquecidas, iluminando o que andava escondido
O que estava morto, súbito, adquire vida própria. Por onde quer que se passeie com os olhos, só se encontra a vida.
Andava eu pelo campo, admirando a paisagem, quando lembrei de coisas esquecidas. A primavera interior, pela qual as vezes passo, pode acontecer a qualquer momento.
A primavera, tanto a externa que tem data certa, como a interna que pode acontecer até em pleno inverno, tem este poder sobre mim. O da lembrança.
A lembrança, construída aos poucos, dia a dia. No gotejar lento das horas, nos escoar espiral e sem volta do tempo.
O lembrar, quando possui o filtro adequado, aquele que nos faz ver as dores como lições e as boas lembranças como coisas que podem ser revividas indefinidamente, me faz sentir um poderoso Mago.
Um Mago que tem o poder de despertar um sorriso. Ai, quem me dera ter o majestoso dom.
Um mago que guarda uma ânfora secreta no fundo da qual repousa o a gora mágica do voltar do tempo
Foi assim que lembrei de certos poemas esquecidos... afinal, todo mundo faz coisas que depois esquece.
-x-
na palma
da tua mão
uma quimera
repousa inerme
qual doçura matutina
e a sola do teu pé
pisa encantada
o solo eterno
em soberana purpurina
e os olhos
arredios miram
prefixos
do tal destino
que promete
o horizonte
além da torre
intransponível
há uma ponte
que dá passagem
ao inevitável
e o impossível
-x-
não acredito no Sol
mas em sua luz
e a beleza da flor
não é a flor
mas a interseção
de seu contorno
com a linha de visada
dos meus olhos
a música
não é o seu som
mas seu silêncio
pois a cada nota que soa
reverenciam mudas
infindas tantas outras
de crenças e descrenças assim me faço
do ontem ao amanhã no hoje eu passo
em ti e em mim sou cego crente
e dá-me forças de ir em frente
no uno a fé que em mim dissolve
o que em ti é incréu ao fim resolve
da união do que é tão diferente
surge homogênea sob a dura lente
a mais fadada perfeição eterna
a trançar maluco das nossas pernas
-x-
Se tuas mãos são minha
casa
e teu olhar é o meu
destino
se teu corpo é meu
alento
e teu ar de minha vela é
vento
para quê ainda existo à
parte
se em teu ser sou
simples arte
mera consequência dos
teus atos
versos meus nada revelam
se meus gestos nem me
são inatos
e meus lábios
silenciosos selam a jura eterna
e condescendente que
sopro aliviado entre os dentes
inflorescências
olhos meus são tua luz.
Ávidas de humus, como ninfas mágicas, prenhes as plantas explodem em flores.
As árvores frondam-se em mil verdes ramagens.
As copas acenam dizendo sim ao vento.
Extensos galhos, farfalhando, mutuamente em verdes se abraçam.
A natureza toda se transforma, a luz se espalha sobre as escuridão de grotas esquecidas, iluminando o que andava escondido
O que estava morto, súbito, adquire vida própria. Por onde quer que se passeie com os olhos, só se encontra a vida.
Andava eu pelo campo, admirando a paisagem, quando lembrei de coisas esquecidas. A primavera interior, pela qual as vezes passo, pode acontecer a qualquer momento.
A primavera, tanto a externa que tem data certa, como a interna que pode acontecer até em pleno inverno, tem este poder sobre mim. O da lembrança.
A lembrança, construída aos poucos, dia a dia. No gotejar lento das horas, nos escoar espiral e sem volta do tempo.
O lembrar, quando possui o filtro adequado, aquele que nos faz ver as dores como lições e as boas lembranças como coisas que podem ser revividas indefinidamente, me faz sentir um poderoso Mago.
Um Mago que tem o poder de despertar um sorriso. Ai, quem me dera ter o majestoso dom.
Um mago que guarda uma ânfora secreta no fundo da qual repousa o a gora mágica do voltar do tempo
Foi assim que lembrei de certos poemas esquecidos... afinal, todo mundo faz coisas que depois esquece.
-x-
na palma
da tua mão
uma quimera
repousa inerme
qual doçura matutina
e a sola do teu pé
pisa encantada
o solo eterno
em soberana purpurina
e os olhos
arredios miram
prefixos
do tal destino
que promete
o horizonte
além da torre
intransponível
há uma ponte
que dá passagem
ao inevitável
e o impossível
-x-
não acredito no Sol
mas em sua luz
e a beleza da flor
não é a flor
mas a interseção
de seu contorno
com a linha de visada
dos meus olhos
a música
não é o seu som
mas seu silêncio
pois a cada nota que soa
reverenciam mudas
infindas tantas outras
de crenças e descrenças assim me faço
do ontem ao amanhã no hoje eu passo
em ti e em mim sou cego crente
e dá-me forças de ir em frente
no uno a fé que em mim dissolve
o que em ti é incréu ao fim resolve
da união do que é tão diferente
surge homogênea sob a dura lente
a mais fadada perfeição eterna
a trançar maluco das nossas pernas
-x-
Se tuas mãos são minha
casa
e teu olhar é o meu
destino
se teu corpo é meu
alento
e teu ar de minha vela é
vento
para quê ainda existo à
parte
se em teu ser sou
simples arte
mera consequência dos
teus atos
versos meus nada revelam
se meus gestos nem me
são inatos
e meus lábios
silenciosos selam a jura eterna
e condescendente que
sopro aliviado entre os dentes
inflorescências
olhos meus são tua luz.
quarta-feira, 10 de julho de 2013
não repare esta ruga
que vinca bem fundo
meu carregado sobrecenho
e nem na voz triste e mortiça
e o tom meio roquenho
mas o sorrir cheio de gosto
vivaz e bem esperto
que ainda insiste
em cortar todo o meu rosto
pois é bem simples a lei
que deste sempre sei
que rege o meu olhar
sem menor pestanejar
e que registra a minha face
- a noite sempre cai
mas vem o dia e me renasce -
não observe a curvatura
produzida no corpo
pelos meus doridos anos
-tantos anos
tantas marcas
tantas barcas
tantos danos -
mas repare a minha cultura
e o olhar corajoso
e jamais depoente
que ostento orgulhoso
sobre os meus vis oponentes
não repare o lado poente
em que o meu Sol triste mergulha
um lado escuro e sem memória
perdido na História
e do qual ninguém se orgulha
mas me espere amanhã
com aparência leve o louçã
enfrentando a ventania
pois eu hei de nascer de novo
e iluminar sempre o teu dia
que vinca bem fundo
meu carregado sobrecenho
e nem na voz triste e mortiça
e o tom meio roquenho
mas o sorrir cheio de gosto
vivaz e bem esperto
que ainda insiste
em cortar todo o meu rosto
pois é bem simples a lei
que deste sempre sei
que rege o meu olhar
sem menor pestanejar
e que registra a minha face
- a noite sempre cai
mas vem o dia e me renasce -
não observe a curvatura
produzida no corpo
pelos meus doridos anos
-tantos anos
tantas marcas
tantas barcas
tantos danos -
mas repare a minha cultura
e o olhar corajoso
e jamais depoente
que ostento orgulhoso
sobre os meus vis oponentes
não repare o lado poente
em que o meu Sol triste mergulha
um lado escuro e sem memória
perdido na História
e do qual ninguém se orgulha
mas me espere amanhã
com aparência leve o louçã
enfrentando a ventania
pois eu hei de nascer de novo
e iluminar sempre o teu dia
quinta-feira, 4 de julho de 2013
Dia de Sol, depois de tanta chuva
Feliz daquele que, sempre distraído, passou pelos problemas da vida e superou-os sem mesmo ter percebido que eram problemas. Problemas nem mesmo existem : são só o nome com que denominamos certas situações que exigem alguma ação. Se não tiverem solução, nem problemas são. Os problemas não existem, bem me disse uma coruja que voava ao longe sem me dizer palavra. Foi no silêncio da existência que aprendi a deixar de lado o que me acabrunhava.
O segredo estava em ser como o vento, que supera obstáculos, escala íngremes montanhas, mergulha como suicida nos mais elevados despenhadeiros, sem se perceber, sem mesmo saber aonde vai.
O segredo é ser como a rosa, que desperta nas manhãs sem perguntar a hora ou notar que o pintor nela se inspira. É viver como se fosse um sonho, uma tênue e delicada fantasia, algo que oscila entre os extremos mais opostos sem saber-se meio, é vencer e ignorar os louros, é perder e se erguer de novo sem sentir o tombo.
Delicio-me com o vôo sem sentido e cheio de rodeios de uma colorida borboleta sem me perguntar ao menos aonde vai assim com tão caprichoso vestido e, ao som do canto esquizofrênico das cigarras, vou dançando a dança da vida, aprendendo a não me perguntar tanto o porquê das coisas.
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