sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

meu poema é tal e qual uma flor


que no quintal esquecida

desabrocha encantada

sem iluminar nenhum olhar



sem que chame atenção

do mais pobre leitor

e se não há quem o leia

que importa que a veia

palpite tão intensamente?



melhor seria calar esse verso

ou escondê-lo em um baú

enterrá-lo no quintal

para que se alimente a terra

do sal de minhas lágrimas

que um dia caíram sobre o papel

em que alucinado o compunha



quem sabe um dia o verso vire flor

e um olhar passageiro e vadio caia

sobre sua pétala colorida e comum

e distraído a entreveja

e isso ilumine o seu coração



-x-



duas vezes me perdi

em teu olhos dúbios

(o verde que verte

o azul fica na espera)



nas duas vezes que de ti

tirei por mim

em parte e inteira

a inverossímel quimera



me encontrei uma vez

no vale abismal

que se aprofunda

entre teus seios



ali então perdido

ou mesmo me encontrado

desvencilhar-me de ti

faltou-me meios



(a calma plácida

que dos cumes íngremes

as ígneas lavas

se enleva



um outro cume

que ereto

e embranquiçado

nele neva)



o rio caudaloso

do teu ventre

torrente indômita

levou meu corpo



nossos corpos

algozes mútuos

no entre si se devoram

e se imploram



nossos fogos

ardentes se ateiam

o líquido farto

que jorra de mim

desincendeiam



sabe que em silêncio choro porém nunca reclamo

é que eu...

sabe, eu vinha ....

não é bem isso, é que...

eu queria...

desisto!

a verdade última é que não sei dizer quanto te amo



-x-





Escreveu o poeta



muitos versos de amor



mas ninguém os quis ler



enfim, sua pena calou-se



e muitos versos natimortos



jazem para sempre



no gélido mausoléu



do seu coração



-x-



O que adianta dizer



que a saudade dói



se isso é coisa que todos sabem?



(todos no mundo



sentiram a falta de alguém)





Para quê dizer



que o amor é ventura



e o que beijo da amada enleva



se quem amou bem o sabe



e quem não amou não entende?





Triste é a sina do poeta:





dizer o óbvio



ou então



não ser entendido.




-x-



hei ainda de amar-te

quando teu corpo curvar-se

sob o império de muitos anos

e mesmo se os seios murcharem

e a pele toda enrugar-se

como as flores que encantam os dias

e depois perdem suas pétalas

hei de amar-te ainda tanto

quanto te amo nesta hora

pois te amo mais que teu corpo

amo-te mais do que a vida

amo-te ainda mais que me amo



-x-



Ariadne



Tuas pernas



labirinto



: nelas me perdi





teu sexo



absinto



: em que me verti





(ali eu fui todo



bocas e líquidos)





teus seios



: o vale



...



(que o verso aqui se cale)





era o fio de Ariadne



(teu coração



exsudava uma corrente indômita



que me arrastou)



e me levou



a tua boca





eis ,enfim a saída,



e, mirando teus olhos,



(que me olhavam cândidos)



por fim sorri





Há que se perder



antes de se encontrar





(intessante:



os parênteses,



que quase nunca lemos,



dizem o mais importante)

9 comentários:

  1. Sempre leio os parênteses (aliás, adoro usá-los, hehe...)! E pare com essa história de calar-se, enterrar versos... Encontre-se em Ariadne, ou outra qualquer. Encontre-se sozinho. E continue poetando. ;-)

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  2. Suas palavras e seus poemas são flores de emoções, jamais passarão desapercebidos. A distância das frases e a colocação de versos estratégicos me mostram que se acha e se perde em sentimentos nobres.
    Beijo!

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  3. Nem pense em guardar nada ou enterrar, eu gosto muito de vir aqui lê-lo. Um abraço grande.

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  4. Amigo, este «enterrar» foi empregue em sentido metafórico, como quem diz guardar os versos na gaveta sem me dar a oportunidade e o prazer de os ler. Um abraço grande

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  5. A flor do teu poema desperta a nossa eterna admiração...
    Mesmo que a enterres no chão do esquecimento, ela brotará com mais força e beleza.
    Fique conosco em 2013, Benno!
    Um terno abraço!

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  6. Gostei muito do seu blog!!!
    Tudo lindo e de muito bom gosto.
    Se puder dá uma passadinha no meu e segue também se gostar.

    Beijos
    Ani

    HTTP://cristalssp.blogspot.com.br

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  7. que pena o meu olhar só verter castanhos...
    ainda assim, sou amante do poema, do poeta e da poesia. e sinto imensas saudades do tempo em que os três eram um e este um éramos todos nós!
    beijo e carinho e mais saudades

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  8. quando eu flor
    quando tu flores
    e ele flor
    nós flores seremos
    e o mundo florescerá!

    (achei por ai e nunca mais esqueci e agora
    nem sei pq me lembrei da mania que tenho em pedir licença quando preciso pisar na grama,
    acha que preciso pedir desculpas por andar
    tanto tempo por aqui???)

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  9. Fala Amigo! Gostei imensamente de ver que continuas interessado em versos. Grande Abraço! Mauro.

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