Eram dois amigos. Conheceram-se ainda infantes. Um sonhava voar no mundo da poesia, o outro, caminhar de pés descalços o mundo dos romances.
O poeta tinha sonhos de ser famoso, reconhecido pela crítica e pelo público, enfim, ser bem sucedido. O romancista não se preocupava com isso. Queria escrever seus pensares, colocar o seu viver, sua experiência, suas sensações. Não se preocupava muito com o que diziam.
Eles eram amigos, tinham obejtivos semelhantes, mas eram de fato opostos. Não que a oposição impedisse de serem amigos, mas, ao par da mútua admiração que se tinham, faziam questão de criticar a visão futura de seus trabalhos. O poeta dizia ao romancista que ele devia escrever alguma coisa mais do agrado dos leitores e o romancista dizia ao poeta que ele deveria expressar tudo o que desejava doesse a quem doesse. A arte literária não pode medir palavras, acrescentava o romancista.
O poeta queria escrever o que as pessoas desejam, queria atender o anseio dos seus leitores, realizar seus sonhos, ser o gênio da garrafa e satisfazer seu anseios. Era feliz quando conseguia. Mas se sentia um fracassado ante a menor crítica. Vagava ao sabor dos ventos, seus escritos singravam pelos mares alheios, errando sem direção por caminhos desconhecidos.
Jamais conseguiu ser ele mesmo. O romancista, mais feliz, desejava apenas escrever seu próprio livro. Ficava insatisfeito também, mas apenas quando o que escrevia não correspondia aos seus anseios e não o contentava. Ficava até mais feliz quando o criticavam, sentia que sua escrita tinha força e isso fazia com quem lesse discordar. A mente se ilumina e reflete sobre si mesma quando se vê frente ao desafio. A mente adormece quando tem seus anseios atendidos.
O poeta ficou famoso. Seus versos vendiam, mas o poema era cada vez menos do poeta e mais dos leitores.
O romancista sofreu críticas pesadas, discordavam de seu métodos, o público ficava perplexo e chocado com seus romances. A fama do poeta foi efêmera. Começou a ficar repetitivo. As pessoas se cansaram dele rapidamente.
O poeta foi ficando triste, de extrovetido que era, passou a ficar ensimesmado e cabisbaixo, pois não conseguia mais atender os anseios do público nem escrever uma coisa original em que revelasse a sua própria alma.
Sua poesia foi virando coisa comum, feita de lugares comuns. O romancista, sem jamais conspurcar sua obra em prol da fama e do sucesso , foi enfim reconhecido. Os leitores, em geral, são maria-vai-com-as-outras, e só sabem avaliar se o que lêem está na moda ou não. Mas sempre acaba aparecendo um bom leitor, que presta muita
atenção ao que se diz. Que sabe reconhecer no passado, que consegue adivinhar o futuro.
O leitor que dá a chance ao escritor de ser ele mesmo e sabe reconhecer a originalidade. E o renomado crítico era um desses leitores. Viu que o romancista escrevera muita coisa especial. Agora seria o seu momento. O romancista, por sua vez, não se deixou iludir por este falso conceito : o sucesso. E esperou alguém reconhecer o que ele mesmo via em sua obra. O sucesso, tal como se propala por aí, não existe, ele bem o sabia. Nem o fracasso. Eles são duas mentiras, e faz bem o criador que não dá bola para eles.
O verdadeiro sucesso é escrever o que se deseja escrever e não o que os outros desejavam que se escrevesse. A vida é muito curta para se ser apenas uma marionete. Para ser de fato é preciso esquecer esses dois vilões que amaldiçoam as artes e viver sua própria vida.
Benno Assmann
O poeta tinha sonhos de ser famoso, reconhecido pela crítica e pelo público, enfim, ser bem sucedido. O romancista não se preocupava com isso. Queria escrever seus pensares, colocar o seu viver, sua experiência, suas sensações. Não se preocupava muito com o que diziam.
Eles eram amigos, tinham obejtivos semelhantes, mas eram de fato opostos. Não que a oposição impedisse de serem amigos, mas, ao par da mútua admiração que se tinham, faziam questão de criticar a visão futura de seus trabalhos. O poeta dizia ao romancista que ele devia escrever alguma coisa mais do agrado dos leitores e o romancista dizia ao poeta que ele deveria expressar tudo o que desejava doesse a quem doesse. A arte literária não pode medir palavras, acrescentava o romancista.
O poeta queria escrever o que as pessoas desejam, queria atender o anseio dos seus leitores, realizar seus sonhos, ser o gênio da garrafa e satisfazer seu anseios. Era feliz quando conseguia. Mas se sentia um fracassado ante a menor crítica. Vagava ao sabor dos ventos, seus escritos singravam pelos mares alheios, errando sem direção por caminhos desconhecidos.
Jamais conseguiu ser ele mesmo. O romancista, mais feliz, desejava apenas escrever seu próprio livro. Ficava insatisfeito também, mas apenas quando o que escrevia não correspondia aos seus anseios e não o contentava. Ficava até mais feliz quando o criticavam, sentia que sua escrita tinha força e isso fazia com quem lesse discordar. A mente se ilumina e reflete sobre si mesma quando se vê frente ao desafio. A mente adormece quando tem seus anseios atendidos.
O poeta ficou famoso. Seus versos vendiam, mas o poema era cada vez menos do poeta e mais dos leitores.
O romancista sofreu críticas pesadas, discordavam de seu métodos, o público ficava perplexo e chocado com seus romances. A fama do poeta foi efêmera. Começou a ficar repetitivo. As pessoas se cansaram dele rapidamente.
O poeta foi ficando triste, de extrovetido que era, passou a ficar ensimesmado e cabisbaixo, pois não conseguia mais atender os anseios do público nem escrever uma coisa original em que revelasse a sua própria alma.
Sua poesia foi virando coisa comum, feita de lugares comuns. O romancista, sem jamais conspurcar sua obra em prol da fama e do sucesso , foi enfim reconhecido. Os leitores, em geral, são maria-vai-com-as-outras, e só sabem avaliar se o que lêem está na moda ou não. Mas sempre acaba aparecendo um bom leitor, que presta muita
atenção ao que se diz. Que sabe reconhecer no passado, que consegue adivinhar o futuro.
O leitor que dá a chance ao escritor de ser ele mesmo e sabe reconhecer a originalidade. E o renomado crítico era um desses leitores. Viu que o romancista escrevera muita coisa especial. Agora seria o seu momento. O romancista, por sua vez, não se deixou iludir por este falso conceito : o sucesso. E esperou alguém reconhecer o que ele mesmo via em sua obra. O sucesso, tal como se propala por aí, não existe, ele bem o sabia. Nem o fracasso. Eles são duas mentiras, e faz bem o criador que não dá bola para eles.
O verdadeiro sucesso é escrever o que se deseja escrever e não o que os outros desejavam que se escrevesse. A vida é muito curta para se ser apenas uma marionete. Para ser de fato é preciso esquecer esses dois vilões que amaldiçoam as artes e viver sua própria vida.
Benno Assmann
"O romancista não se preocupava com isso. Queria escrever seus pensares, colocar o seu viver, sua experiência, suas sensações. Não se preocupava muito com o que diziam."
ResponderExcluirAdorei! Me identifico com o que vc escreveu.
Gostei demais da sua estória.
Beijosss
India.
ResponderExcluirBom saber disso. Eu, diferentemente da personagem do conto, me importo ainda menos, pois tenho outra profissão para me dedicar e considero escrever apenas um diversão. Aliás, nem seu muito bem porque escrevo, pois não pretendo ser descoberto, nem mesmo ser lido. Mas muitas vezes fico me perguntando porque o faço e já tenho a resposta: alguém lê, e isso já o bastante.
beijos e obrigado por ser minha assídua leitora.
"A mente se ilumina e reflete sobre si mesma quando se vê frente ao desafio. A mente adormece quando tem seus anseios atendidos.)
ResponderExcluirBenno, um intricado emaranhado de palavras...
Voce expõe muito bem a necessidade que temos de críticas... De um olhar que procure nos apontar onde podemos melhorar...
Isso acontece ater em nosso dia-adia...
No trabalho, nas amizades, na familia...
Se não temos uma cobrança, um puxão de orelha, um remprimenda, temos a tal tendência a se acomodar, e achar que está tudo ´timo... Qaundo na verdade, estamos cheios de falhas..
Buscar o melhor de nós mesmo... Assim como o romancista buscava o melhor de seus escritos... Apenas pelo prazer de fazê-lo...não de agradar, ou satisfazer quem quer que seja...
Simplificando, depois de tantas palavras...
Está lindo e verdadeiro...
E eu sei quem é esse romancista... Com certeza! rsrsrss
Beijos e carinhos...