quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O Giz e as Borboletas Azuis

O novo professor de matemática era sério, mas bonitão. As moças ficaram logo encantadas, especialmente Regina. Ela era uma aluna mediana que não gostava muito de matemática, mas, com aquele professor, ela começou a se interessar. Nunca antes quisera saber de logaritmos, trigonometria ou álgebra, apenas de batom, maquiagem e roupas sexys. Aquilo tudo de matemática parecia uma grande embrulhada. Mas a voz do professor, profunda e máscula, lhe mexia as entranhas, provocava sua libido, atiçava até quem diria, a sua curiosidade.
Começou a se interessar pelas coisas da matemática que de uma embrulhada passou a ser o código que regia o mundo. A música, aprendeu a partir de então, que tanto lhe embalava o espírito, era uma tradução daquele código antigo, como uma simbologia druídica que animava os seres vivos e não vivos.
O que Regina não sabia é que tinha um grande admirador secreto logo ao seu lado. O estranho Paulo, que não desgrudava os olhos da menina. Ele achava nela tudo de atraente e encantador, mas nunca revelara nada a ninguém. Não se achava merecedor, mas mesmo assim sonhava e todo mundo pode sonhar sem interferência se mantiver seu sonho só para si. 
Mas, coitado, não havia nascido com atrativos e as moças não davam bola para ele. Os outros meninos também não gostavam dele. Ele sabia disso e por isso não se atrevia a se declarar para Regina. 
Todo dia ele acordava cedo e se aprontava antes dos outros para ir observar a menina indo para a escola.
Ficou com um verdadeiro ódio quando percebeu que todas as atenções dela se concentravam no professor. Lhe causava mais ódio ainda o fato de ele adorar matemática e ela odiar e, também, a mania que ela tinha de pegar o giz que o professor usava durante a aula e guardar na bolsa. Todo dia ela pegava um giz e colocava na bolsa. Para que ele não podia adivinhar e justamente por isso ele detestava aquele hábito.
Um dia, cismado com a mania de colecionar giz usado pelo professor, pensando que, talvez, o giz fosse para ela um elemento erótico, percebeu que uma borboleta azul o seguia. Ele sentou num banco de praça e percebeu que a borboleta pousou em seu ombro. Ficou observando a borboleta, mas não a conseguia ver pois só conseguia ver Regina. Ali estava, a sua disposição, em todas as suas cores o esplendor natural de uma borboleta, que por qualquer motivo desconhecido o confundira com uma flor. O mundo todo rejeitara Paulo, mas Paulo rejeitara a borboleta porque não conseguia ver nada além de Regina e o professor de matemática, as fontes de todo o seu amor e ódio. Talvez a borboleta azul fosse atraída exatamente o que rejeitavam os humanos.
A borboleta o seguiu o dia todo, mas ao final da tarde encontrou uma flor onde pousou e desistiu de Paulo. A partir desse dia, sempre havia uma ou mais borboletas por perto de Paulo, mas ele deixou de repara nisso.
Regina, por sua vez, chegava em casa, olhava para o seu giz e imaginava ele todo cheio do cheiro do professor. E imaginava-se perdendo em seus braços, misturando seu corpo ao dele.
Ela começou a segui-lo. Não percebeu que por sua vez era seguida. Um dia, o viu entrar em um café. Ela se decidiu e entrou em seu caminho, dando uma trombada e caindo em seus braços. Seus olhos, fingindo surpresa e esbanjando sedução, pousaram nos olhos  do professor e este se sentiu fortemente atraído. Não era para menos, Regina nascera com aquele encanto que deixa os homens desarmados. Ele pediu desculpas e a convidou para tomar uma café. Em pouco tempo estavam conversando como velhos conhecidos. Ela e o professor esbanjavam tudo que tanto faltava a Paulo. Não demorou e ele a convidou para sua casa. O que lá aconteceu não foi conhecido mas adivinhado por Paulo, que não parava de os seguir. Ele fotografou tudo. Eles se encontrando no café, conversando, entrando na casa do professor, saindo horas depois com um sorriso de felicidade no rosto. Sim, Tinha sido a primeira vez de Regina, Enfim, seu primeiro homem. E ela ficou completamente apaixonada. Ele, nem tanto, Era só mais uma. Era casado e aproveitara o fato da esposa estar viajando para dar uma fugida e, apesar de Regina ser linda, ele não queria comprometer sua vidinha arranjada e pacata.
Paulo, morrendo de ódio, levou as fotos para a diretoria. A diretoria, ao saber do acontecido, convocou o professor e o demitiu, 

Regina, ao saber que o professor sido demitido e havia mudado de cidade, entrou em desespero. Dois dias depois, foi encontrada morta, abraçada a  um saco cheio de pedaços de giz molhados por uma substância que depois constataram provir de lágrimas. 

Nunca mais ouviram falar de Paulo. 
Um ano depois, quando ninguém mais lembrava da tragédia, uma garota desapareceu da escola. Encontram-na dias depois na mata, seu corpo nu e sem vida na floresta. A arma do crime, sua calcinha e sua bolsa foram mais do que suficientes para incriminar o zelador da escola, apesar deste alegar não saber como aquelas coisas foram para ali. Ninguém reparou que a vítima era muito parecida com Regina e seu corpo fora encontrado coberto de borboletas azuis.

Um comentário:

  1. Boa tarde Benno!
    Que bom que você voltou a escrever contos. Passei algumas vezes por aqui mais ainda estava sem atualização. Estou um pouco ausente atualizando pouquíssimo o blog. Fiquei muito feliz em te ler por lá.
    Muito boa à história, bem curiosa, bastantes detalhes, gostosa de ler, super atilada, lindamente construída. Adoro contos de suspense. Parabéns!
    Final trágico da Regina. Quantas lágrimas rsrs.
    Deve existir por ai alguns Paulo doído como esse. Se esse conto tivesse continuação o Paulo com certeza se tornaria um serial killers, ia fazer muitas vítimas.
    Eu volto pra ler mais devagar os outros contos.
    Beijo e bom fim de semana!

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