terça-feira, 1 de julho de 2014

Abaixo, uma obra de ficção. O nome do blog Noites Insones nela figura, apenas por que não imaginei outro título melhor :)



Há muito tempo eu não ia ao teatro. Os rostos que acompanhavam as cenas, me eram todos desconhecidos. Após um primeiro ato regular, saí para espairecer um pouquinho e percebi que uma senhora se separou do marido e me seguiu. Ela me abordou deste jeito:
- O senhor tem fósforo?
- Sinto muito, parei de fumar. Isso faz mal sabia?
Ela nada falou, apenas me fitou por apenas um momento, meio hipnotizada.
- Claro que sabe - continuei - as pessoas fumam assim mesmo, pois, por pior que seja, é gostoso.
Daí, ela me surpreendeu, dizendo
- Você sempre diz coisas interessantes.
- Como assim? Já me conhece de algum lugar?
- Sim, conheço. Você não é o autor daquele blog, Noites Insones ? Me delicio com as suas palavras.
- Puxa! Aparecem tão poucos leitores por lá que até me surpreendo ao saber que há gente que aprecia.
- Bem que gostaria de deixar comentários, mas não posso - falou isso, olhando tristemente para a aliança. Pois, saiba agora que além das suas palavras, me encantei com seus olhos. Eu já te amava desde sempre, mas sei que a pessoa e as palavras que ela escreve não são a mesma coisa. Só queria saber que você existe mesmo e que corresponde ao que escreve. Sei que meu amor é impossível.
- Não, eu não sou assim. Não me considero uma pessoa encantadora, assim como, por exemplo, você.
Eu falava assim sinceramente, pois estava encantado e ela me parecia assim desses personagens apaixonados e apaixonantes que só existem nos romances antigos.
- Vou amar em silêncio, para sempre.
Disse isso ao mesmo tempo que tentava conter uma lágrima, que brotava como se fosse diamante do canto de seu lindo olho direito.
- Não posso desmanchar a pintura - completou, enxugando a lágrima delicadamente.
Saiu furtivamente, sem me deixar tempo para falar mais nada.
Olhei o céu noturno e só encontrei estrelas. A Lua me havia abandonado novamente, assim como o chão o fizera.

Com em tantas outras vezes, não dormi. Desta vez, por uma razão diferente.

4 comentários:

  1. (..)em poesia que é voz de poeta,
    que é a voz de fazer
    nascimentos -
    o verbo tem que pegar delírio.

    manoel de barros

    beijo

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  2. Oi Benno querido


    Você já sabe o quanto aprecio seus escritos e tenho certeza de que o post de hoje poderia não ser uma obra de ficção, pois acho muito fácil alguém se encantar pelo seu blog, pelas suas palavras sempre tão inteligentes e porque não dizer por você...

    Ui, desculpe, acho que isso soou muito romântico, mas não foi minha intenção.

    Beijos
    Ani

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  3. Ah... há quanto tempo não me encantava com seus doces textos! Vim matar saudade! Beijo!

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  4. Quando o leitor, no caso, a leitora, vai além da obra e atinge a alma do escritor, esse é mais um dos mistérios literários que circulam por aí. Gostei!

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