1- O poeta o papel e a eternidade
o papel em branco
do poema
a eternidade separa
o papel em branco
da eternidade
o poema separa
a eternidade
do poema
o papel em branco separa
separam-se
poema e papel em branco
eternamente
eternos
papel e poema
transitório poeta
2- Sem Maquiagem
Exangue, pálida
e esquálida,
no atáude,
perdida saúde,
reluz a tez,
qual corpo branco
de vela,
extinta a chama,
que a lágrima de cera
percorre
pela última vez.
3- CREDO
creio
piamente
em tua boca
e no céu
que lá existe
(único céu
que ainda me resta
: o outro
para sempre
jaz perdido)
creio no santo poder
dos teu olhos
sobre meu ser
(dos meus
inconfessáveis pecados
faz be-atos)
sob a luz
que emanas
em meu caminho
tudo é sagrado
mas se na escuridão
de tua lamentada ausência
trevas
(só a luz do teu olhar
acende meus faróis)
creio sobretudo
na divindade
de tua pélvis
(apaixonadamente
ali mergulho
: batismo de sangue)
teus olhos são-me guias
abrem olhos antes cegos
a verdade que mora em teu ser
dissipa nuvens eternas
do contumaz ceticismo
que me anuvia
derrete seu calor
neves sempre brancas do meu gelo
trocaria a eternidade
por um breve momento ao teu lado
e todas as minhas idades
vividas ou ainda por viver
todos beijos que já sonhei
por um único beijo teu
resignar-me-ia até à eterna dor
para ter um breve instante do teu amor
4- ARIADNE
Tuas pernas
labirinto
: nelas me perdi
teu sexo
absinto
: em que me verti
(ali eu fui todo
bocas e líquidos)
teus seios
: o vale
...
(que o verso aqui se cale)
era o fio de Ariadne
(teu coração
exsudava uma corrente indômita
que me arrastou)
e me levou
a tua boca
eis ,enfim a saída,
e, mirando teus olhos,
(que me olhavam cândidos)
por fim sorri
Há que se perder
antes de se encontrar
(intessante:
os parênteses,
que quase nunca lemos,
dizem o mais importante)
5-
hei ainda de amar-te
quando teu corpo curvar-se
sob império de muitos anos
e mesmo se os seios murcharem
e a pele toda enrugar-se
como as flores que encantam os dias
e depois perdem suas pétalas
hei de amar-te ainda tanto
quanto te amo nesta hora
pois te amo mais que teu corpo
amo-te mais do que a vida
amo-te ainda mais que me amo
6 - ALPISTE
Deus
não sei se existe
mas acredito
na verdade
do alpiste
e seu dom
de realizar
o milagre do vôo
dos pássaros.
7-
o ouro
a prata
e o ferro
o silêncio
a palavra
e o berro
o infinito
a unidade
e o zero
não necessariamente nessa ordem
8-
olhos fechados
boca velada
silêncio em teu olhar
(antes eles diziam tanto)
morre o dia
esmaece a cor
o amor, antes luz
agora é noite
(apagou-se alguma coisa em mim)
9-
a paixão
é a fogueira
que crepita
em Lua cheia
dissolve-se em fagulhas
mil agudas agulhas
e arde intensamente
mas gradativamente
derrete sua luz
e depois vira noite
Benno, fico com CREDO, barbaramente belo.
ResponderExcluirNão que os outros também não sejam belo,s mas Credo é lindo demais.
Beijos!
Poxa... você escolheu muito bem os poemas, são todos belíssimos...nem sei dizer qual deles é o mais belo... mas vou ficar com o Alpiste..sempre foi um dos meus preferidos. ;)
ResponderExcluirvc sumiu e eu estou com saudade.
beijo Poeta.