sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

o passar das ondas
pelas pedras redondas
que ao longo da costa se estendem

apagam as pegadas
nas areias marcadas

pelos amantes que não mais se entendem

(mas sempre restam as memórias
do que foi e do que virá)

o amor quando acaba
em meio a tantas emoções

não deixa vestígios pelo caminho
apenas nos corações

eu andava assim
com o olhar perdido no horizonte
e não vi o amor passar
é assim distraído que deixo a vida
por entre as mãos escoar
e ai daqueles que prestam atenção
no passar do vento
e sentem o tempo por eles passar



quero acordar um dia
e de nada mais disso lembrar
viver a vida de novo
romper a casca antiga do ovo
e novamente amar
como se nunca a tivesse vivido
como se nunca tivesse amado
como se nunca tivesse nascido
como se nunca tivesse morrido

o verso que componho
é sempre o primeiro verso
eterno principiante que sou





sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

meu poema é tal e qual uma flor


que no quintal esquecida

desabrocha encantada

sem iluminar nenhum olhar



sem que chame atenção

do mais pobre leitor

e se não há quem o leia

que importa que a veia

palpite tão intensamente?



melhor seria calar esse verso

ou escondê-lo em um baú

enterrá-lo no quintal

para que se alimente a terra

do sal de minhas lágrimas

que um dia caíram sobre o papel

em que alucinado o compunha



quem sabe um dia o verso vire flor

e um olhar passageiro e vadio caia

sobre sua pétala colorida e comum

e distraído a entreveja

e isso ilumine o seu coração



-x-



duas vezes me perdi

em teu olhos dúbios

(o verde que verte

o azul fica na espera)



nas duas vezes que de ti

tirei por mim

em parte e inteira

a inverossímel quimera



me encontrei uma vez

no vale abismal

que se aprofunda

entre teus seios



ali então perdido

ou mesmo me encontrado

desvencilhar-me de ti

faltou-me meios



(a calma plácida

que dos cumes íngremes

as ígneas lavas

se enleva



um outro cume

que ereto

e embranquiçado

nele neva)



o rio caudaloso

do teu ventre

torrente indômita

levou meu corpo



nossos corpos

algozes mútuos

no entre si se devoram

e se imploram



nossos fogos

ardentes se ateiam

o líquido farto

que jorra de mim

desincendeiam



sabe que em silêncio choro porém nunca reclamo

é que eu...

sabe, eu vinha ....

não é bem isso, é que...

eu queria...

desisto!

a verdade última é que não sei dizer quanto te amo



-x-





Escreveu o poeta



muitos versos de amor



mas ninguém os quis ler



enfim, sua pena calou-se



e muitos versos natimortos



jazem para sempre



no gélido mausoléu



do seu coração



-x-



O que adianta dizer



que a saudade dói



se isso é coisa que todos sabem?



(todos no mundo



sentiram a falta de alguém)





Para quê dizer



que o amor é ventura



e o que beijo da amada enleva



se quem amou bem o sabe



e quem não amou não entende?





Triste é a sina do poeta:





dizer o óbvio



ou então



não ser entendido.




-x-



hei ainda de amar-te

quando teu corpo curvar-se

sob o império de muitos anos

e mesmo se os seios murcharem

e a pele toda enrugar-se

como as flores que encantam os dias

e depois perdem suas pétalas

hei de amar-te ainda tanto

quanto te amo nesta hora

pois te amo mais que teu corpo

amo-te mais do que a vida

amo-te ainda mais que me amo



-x-



Ariadne



Tuas pernas



labirinto



: nelas me perdi





teu sexo



absinto



: em que me verti





(ali eu fui todo



bocas e líquidos)





teus seios



: o vale



...



(que o verso aqui se cale)





era o fio de Ariadne



(teu coração



exsudava uma corrente indômita



que me arrastou)



e me levou



a tua boca





eis ,enfim a saída,



e, mirando teus olhos,



(que me olhavam cândidos)



por fim sorri





Há que se perder



antes de se encontrar





(intessante:



os parênteses,



que quase nunca lemos,



dizem o mais importante)