segunda-feira, 30 de novembro de 2020
Me dá um beijo, vai?
Ansiedade
Sou apressado e quero que as coisas
venham antes da hora. Tenho pressa em viver e acabo deixando a vida de
lado. Não sinto o cheiro de terra molhada pela chuva, não presto
atenção no Sol se pondo e as canções nunca chegam ao fim.
Aprendi
tantas coisas, mas esqueci de aprender o que era essencial, pois quando
"você trata cada situação como uma questão de vida ou morte, morrerá
muitas vezes" (Dean Smith). Este o meu problema, ficar morrendo muitas
vezes por dia na ânsia de viver muito. Tudo me é preocupante e sei que
não deveria temer, pois " a coisa que se deve ter mais medo é o próprio
medo" (Montaigne) e "não há infortúnio maior do que esperar o
infortúnio" (Calderón de la Barca). Mas, apesar de tudo, eu temo.
Os problemas, não
são problemas, mas medo, ansiedade, a espera de um infortúnio que só
deveria causar medo quando se tornasse realidade. Pode-se perfeitamente
precaver contra infortúnios sem sofrê-los, mas não é isso que faço. Eu
sofro por golpes imaginários.
Sei o que devo fazer, mas de que me adianta o saber
se não sei aplicá-lo? Será que o saber é uma coisa que só vale quando
já não serve? Pois é só quando estamos velhos que nos arrependemos de
não ter aproveitado a juventude. Reclamamos da falta de tempo, mas não
sabemos o que fazer com ele quando ele sobra e acabamos ficando
entediados. São perguntas que me faço, que sei responder, mas as
respostas de nada me servem, pois não as aplico.
-x-
Perdura verso que escrevo
muito e muito além
deste seu pobre autor
sobreviva ao nobre sentimento
que um dia o inspirou
e mesmo muito depois
de sua amada não mais ser sua
e de muitos outros a terem amado
que sobreviva o sentimento
no calor pulsante do verso
e mesmo após a explosão
da imensidão do universo
que ainda alguém o diga
com profunda emoção
e mesmo quando as mãos
descarnadas e enrugadas
do seu encarquilhado escritor
não puderem segurar nem um lápis
que ainda exista a lembrança
desde imenso e eterno amor
domingo, 29 de novembro de 2020
Faz tanto tempo que eu não vinha aqui. Andava tão esquecido do meu blog. Tanta coisa aconteceu nesse meio tempo, nem sei se ainda sou o mesmo. Surpresa saber que ainda existe um blog onde eu o havia deixado. Por vezes a gente pensa que o passado não deixa marcas, mas ele na verdade é onipresente em todos nóes. Sempre fica alguma coisa do que deixamos para trás.
Agora, são outros dias. Dias de pandemia, mudou tanto tudo a minha volta, não consigo mais me reconhecer nem reconhecer ninguém que já tenha conhecido? Acho que ficaram dos passado as boas lembranças, das ruins prefiro nem lembrar. Logo agora, quando eu estava pertinho de eu deixar Natal e o nordeste, voltando para o Rio de Janeiro, tive essa volta adiada pela pandemia. Me enchi de esperanças de viver um novo tempo. Sei que agora vivo num mundo diferente e é por isso que preciso me reinventar. Mas é um mundo certamente pior.
As pessoas não se entendem mais e não querem ouvir ou ler, fora a si mesmas. Tempos de negação, tempos terra plana e outras idiotices ainda piores. Realmente é o fim da picada, chega a dar vergonha de pertencer ao tempo idiota como esse. por outro lado, não estou nem um pouco a fim de discutir com gente que pensa desse jeito. Sei que é uma perda de tempo e não tenho mais paciências para ouvir besteira. Realmente, não pense mais naquele cara tolerante de antes. A burrice é realmente perdoável. Mas eu descobri que ela não consegue ser humilde, ele só sabe ser arrogante e é por isso que eu não a perdoo. Ela me faz lembrar de certa vez que uma pessoa, que não era muito de ler, me perguntar se eu tinha lindo um best seller que não me interessava. Perguntou se eu era o único que ainda não o tinha lido. Eu perguntei se ela já tinha lido algum livro de Dostoievski e ela, obviamente, respondeu que não. Bom, eu estava em atraso alguns dias, mas ela estava atrasada quase 100 anos. Que vou fazer? Deixa para lá. Acho que ela ficou sem entender. Talvez eu não fosse capaz de entender também.
Vamos falar de coisas melhores. Andei relendo alguns textos. Já nem lembrava do que havia escrito um dia. Abandonei miseravelmente as letras. Mas será que ainda servem a alguém palavras de reflexão? Será que alguém usa um pouco a caixola, num tempo que as cabeças ficam dedicadas só a seus próprios pensamentos. Não vejo mais espaço para o amor. São tempos de ódio. Achei que eles tinham ficado num passado remoto, mas acabaram voltando. Será que tem alguém que ainda quer ler um poema? Os poetas se calaram para sempre ou não os querem ouvir? Alguém, me responde o que é que é, o andar do ponteiro de relógio, as palavras perdidas no vão das portas, a solidão das quarentenas se acumulando junto ao pó nos cantos das paredes, no silêncio infinito das esquinas. Onde foram todos? Não sei mais dizer o que tenho a dizer nem a quem dizer, talvez nem queiram me ouvir ou ler. Ou seja, não sei se tenho coisa melhor para falar, apesar de ter tentado. Será que consigo encontrar dentro do meu coração o que andava perdido. Será que poderia encontrar aquele vontade que eu tinha de deixar minha almas nas palavras, mesmo se elas não significassem nada para ninguém?
o prisioneiro sem escolta
a lágrima que o túmulo percola
uma vazia garrafa de coca cola
é o filho que ainda não nasceu
ou o filho que já morreu
é a pedra que se atira ao solo
o amor que faltou declarar
a garrafa jogada ao mar
é a mãe sem bebê ao colo
é a goiaba que apodrece no galho
é uma casa sem assoalho
a solidão que é um tipo de morte
uma certa falta de sorte
que pouco a pouco me vai secando
uma faca qualquer que bem afiada me corte