Adilson queria presenciar um milagre. Via um passarinho e pedia aos céus para o passarinho pousasse em sua mão. Mas o passarinho seguiu seu caminho, não dando a mínima atenção ao pedido de Adilson.
Isso acontecia todos os dias. Adilson esperava acontecer o milagre e o milagre insistia em não acontecer. Ele achava que era por não ter suficiente fé, mas se ele precisava tanto daquilo era exatamente para não perder o pouco de fé que ainda tinha. Se Deus estivesse ouvindo, certamente iria atender suas preces. E a medida que tentava crescer sua fé, sua fé diminuía.
Um dia, cansado, resolveu seguir seu caminho e ignorou o passarinho. Então, aconteceu o que ele tanto queria: o passarinho voou e pousou em sua mão. Logo agora, quando ele já não mais cria.
A partir desse dia, o passarinho o seguiu, como se segue um amigo que se deseja confortar, como se conforta um amigo que havia perdido a fé.
Eduardo estava apaixonado por Luiza. Mas Luiza não o queria.
Todos os dias, Eduardo insistia e dizia : Te amo Luiza, namora comigo, vai?
Não, ela respondia. Eu não te amo. Não posso te amar, pois amo outro rapaz.
Mas Eduardo não desistia. Eu te amo, Luiza, ele dizia.
E ela sempre respondia, Eu Não te amo Eduardo, eu amo outro rapaz, de olhos claros e cabelos louros. Um príncipe lindo e rico. Você é pobre e feio, por que eu iria te amar?
E Eduardo dizia, por que eu te amo e é muito bom ser amado, pois eu queria muito ser amado por você.
Chegou o dia, pois sempre haverá um dia que será o dia para tudo que ocorreu ou ocorrerá, o dia em que Eduardo disse que desistia. Foi até Luiza e disse que havia se cansado e ia seguir seu caminho, procurar outra pessoa. Esquecer seu amar e reinventá-lo em outros olhos, em outro coração, reconstruir esse amor com outros tijolos, outros materiais de construção, recortá-lo em múltiplos pedacinhos e depois colar com outra cola, uma daqueles que não desgrudam por nada desse mundo, pois era desperdício de amor amar tanto alguém que não nos ama de volta, pois seria desperdiçar o bem mais precioso, o amor, deixá-lo guardado para alguém não o queria.
- Mas logo agora, respondeu Luiza, logo agora que descobri que o rapaz que amo não me ama e que, pior ainda, ama outra. Logo agora que havia resolvido te amar para sempre, que havia descoberto como és bonito, como é bonito e desejável seu amor. Logo agora que resolvi te amar que tu desistes.
E Eduardo, radiante, resolveu que seria a vez dela insistir. Será que um dia ela consegue dobrar a inquebrantável vontade de Eduardo de não mais amá-la? O amor é assim : feito de desencontros.
- Eu te amo, Eduardo, não desista de mim, dizia ela todos os dias.
Afrânio queria estudar medicina.
Como não tinha dinheiro suficiente, tinha que ser em uma universidade pública. Mas passar em uma delas é bem difícil, é preciso estudar muito.
Estudou e não passou. Tentou de novo e não conseguiu mais uma vez. Tentou outra e mais outra e, enfim, conseguiu passar.
Ficou feliz, mas seria só o começo. Seguir adiante, sempre, era no que ele pensava.
No primeiro dia de curso, foi atropelado por um caminhão no percurso. Seus sonhos viram um monte de frangalhos espalhados nos asfalto.
Para uns as coisas caem dos céus e nem precisam fazer força para conseguir o que desejam. Para outros, apesar de todos os esforços, só caem dos céus desgraças.
Todos dias são iguais. Aqueles que correm atrás, não conseguem e se decepcionam, aqueles que resolvem desistir e seguir em frente, são as coisas que já não queria vão atrás deles, talvez até por que antes fizeram.
É tipo quando a gente estuda um assunto difícil e se toca de que não está aprendendo nada, e joga o livro na parede e quando o livro se estilhaça em mil frangalhos no chão, dá um estalo e percebe que o esforço não havia sido em vão e agora finalmente aprendeu, pois a medida que se aprende de fato, a pessoa vai se tornando mais humilde ao perceber o quanto não sabia e, então, corre-se a colar os pedacinhos do livro e se ajoelha humildemente ante os tesouros ali contidos. A arrogância só pertence aos ignorantes e é um tremendo indício dele, isto a vida me ensinou. Já percebeu como tudo é fácil para quem nada fez, pois para ele é só ir lá e fazer, mas é justamente isso é que difícil, fazer, saber o que fazer e fazer é coisa que se consegue apenas com humildade e só os que fazem, sabem como é difícil fazer. Por isso, não aprecio jornalistas e críticos, digo, desses que nunca fizeram nada, mas ficam dizendo apenas o que está errado em tudo, pois fácil demais achar o erro em alguma coisa, mas não quer dizer que achar o que está errado é saber fazer, longe disso. É como jogar o jogo dos sete erros - a gente encontra os erros mas não por isso vai saber fazer o desenho melhor que desenhista. Nos textos dos críticos é normal não encontrar soluções alternativas propostas. E quando se encontra uma, é bem provável que não vá funcionar.
De nada adianta a ansiedade, pode-se dormir tranquilo. O que virá, certamente virá. só nos resta aceitar o demora ou pressa que as coisas vem, pois elas virão tarde demais ou antes do tempo. Por outro lado, coitado de quem não tentar, pois só se conquista tentando, mas a chance de conseguir, infelizmente, é muito pequena, mas não tentar é ter a certeza de que não vai conseguir.
O desejo sexual explode quando ainda não se sabe quando conquistar uma mulher, mas, a medida que nos tornamos experientes e confiantes, ele definha. A sabedoria nos chega ao final da vida quando já não serve de nada, nem mesmo para transmiti-la, pois o jovem não a pode entender. Perdemos a saúde quando a temos para ganhar dinheiro para depois perder esse dinheiro para recuperar a saúde. Pois esbanjamos saúde quando não temos dinheiro suficiente para aproveitar a vida, mas esbanjamos dinheiro quando a saúde nos faz falta.
É preciso enfrentar com coragem os paradoxos da vida. Saber que o milagre só acontece quando não o esperamos, saber que o amor nasce ao mesmo tempo que morre. Saber que quando finalmente se chegou lá onde se queria, percebeu também que tudo terminou .