segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Me dá um beijo, vai?

Beijo. Queria só um beijo. O que é um beijo? Um
simples momento? Um instante? Um átimo? Qual o mistério do beijo que nos faz delirar na duração de sua fugacidade? De um mero tocar de lábios ansiosos à exploração mútua das línguas, dos céus das bocas, exploração que leva ao céu paradisíaco do amor, todo beijo é a eternidade resumida num momento. Não há instante em que meu coração pulsa mais acelerado, fazendo latejar minhas artérias, minhas veias, meu coração trepida num frêmito oscilando entre a delícia e o gozo, do que o singelo instante de beijar minha amada. É um encontro de almas que se dá através da carne espessa dos lábios. Meu corpo se alucina e dança sôfrego num bailado desequilibrado do mais puro desejo quando vejo teus lábios úmidos, carnudos, pedindo os meus. Quando flexiono meu corpo em direção ao teu e nossos rostos se aproximam, o primeiro sinal do teu desejo é teu gostoso hálito que me inebria e aquece. Nunca toco teus lábios com os meus olhos olhando teus olhos, pois fecho os meus para me concentrar só na umidade da tua carne. A aí conversamos esta conversa sem palavras e sem sons que é o beijo. A sintaxe do meu beijo é a exploração sem destino certo da minha língua que erra perdida nos prazeres de tua boca que neste instante se torna infinita e inescrutável. Não há momento mais mágico que este quando nossas bocas se unem e se entendem, se exploram e se descobrem, se perdem e se acham. E se por um lado o beijo se concentra nas bocas, por outro se reflete no corpo todo, nos pulmões que se expandem em busca de ar, nas veias que pulsam irrigando as mucosas das bocas e até mesmo nos fios de cabelos que se espalham no veludo da pele que se eriçam como se estendessem os braços aos céus agradecendo tanta ventura numa eterna prece. Se o beijo que traz em si a alma e o corpo é fugaz e eterno, o que dizer do beijo que nunca te dei, mas com que sonho desde toda eternidade. O beijo sonhado, o beijo que se desenha com os dedos no ar com traços imaginários. O beijo que ocupa todos desejos e que existe sem nunca ter existido. O beijo prometido, o beijo pedido, o beijo implorado. Este beijo que almejo com todas as forças que ainda tenho e te imploro, eu te peço. Me conceder este beijo é me condenar pela eternidade a te amar. Antes mesmo de todo primeiro beijo os enamorados se beijam, pois "o primeiro beijo, seja isso bem claro, não o dão os lábios mas os olhos"(O K Bernardi, Don Juan) . Que beijo mais saboroso pode haver do que aquele, que apesar de negado em palavras se concretiza. Uma moça inteligente é a que sabe como recusar um beijo sem se privar dele. Beijo.. no sonho ou na carne, não tem como explicar este doce mistério da vida. Não quero saber por que me inebria ou me enfeitiça, não quero saber tuas razões nem teus paraquês e nem porquês, só quero sentir o mel de teus lábios adocicando para sempre os meus, pois o beijo, mesmo depois de terminado, permanece nos lábios da lembrança para sempre.
Benno

Ansiedade

 Sou apressado e quero que as coisas venham antes da hora. Tenho pressa em viver e acabo deixando a vida de lado. Não sinto o cheiro de terra molhada pela chuva, não presto atenção no Sol se pondo e as canções nunca chegam ao fim.

Aprendi tantas coisas, mas esqueci de aprender o que era essencial, pois quando "você trata cada situação como uma questão de vida ou morte, morrerá muitas vezes" (Dean Smith). Este o meu problema, ficar morrendo muitas vezes por dia na ânsia de viver muito. Tudo me é preocupante e sei que não deveria temer, pois " a coisa que se deve ter mais medo é o próprio medo" (Montaigne) e "não há infortúnio maior do que esperar o infortúnio" (Calderón de la Barca). Mas, apesar de tudo, eu temo.


Os problemas, não são problemas, mas medo, ansiedade, a espera de um infortúnio que só deveria causar medo quando se tornasse realidade. Pode-se perfeitamente precaver contra infortúnios sem sofrê-los, mas não é isso que faço. Eu sofro por golpes imaginários.

Sei o que devo fazer, mas de que me adianta o saber se não sei aplicá-lo? Será que o saber é uma coisa que só vale quando já não serve? Pois é só quando estamos velhos que nos arrependemos de não ter aproveitado a juventude. Reclamamos da falta de tempo, mas não sabemos o que fazer com ele quando ele sobra e acabamos ficando entediados. São perguntas que me faço, que sei responder, mas as respostas de nada me servem, pois não as aplico.

-x-

Perdura verso que escrevo
muito e muito além
deste seu pobre autor
sobreviva ao nobre sentimento
que um dia o inspirou
e mesmo muito depois
de sua amada não mais ser sua
e de muitos outros a terem amado
que sobreviva o sentimento
no calor pulsante do verso
e mesmo após a explosão
da imensidão do universo
que ainda alguém o diga
com profunda emoção

e mesmo quando as mãos
descarnadas e enrugadas
do seu encarquilhado escritor
não puderem segurar nem um lápis
que ainda exista a lembrança
desde imenso e eterno amor

domingo, 29 de novembro de 2020

 Faz tanto tempo que eu não vinha aqui. Andava tão esquecido do meu blog. Tanta coisa aconteceu nesse meio tempo, nem sei se ainda sou o mesmo. Surpresa saber que ainda existe um blog onde eu o havia deixado. Por vezes a gente pensa que o passado não deixa marcas, mas ele na verdade é onipresente em todos nóes. Sempre fica alguma coisa do que deixamos para trás. 

Agora, são outros dias. Dias de pandemia, mudou tanto tudo a minha volta, não consigo mais me reconhecer nem reconhecer ninguém que já tenha conhecido? Acho que ficaram dos passado as boas lembranças, das ruins prefiro nem lembrar. Logo agora, quando eu estava pertinho de eu deixar Natal e o nordeste, voltando para o Rio de Janeiro, tive essa volta adiada pela pandemia. Me enchi de esperanças de viver um novo tempo. Sei que agora vivo num mundo diferente e é por isso que preciso me reinventar. Mas é um mundo certamente pior. 

As pessoas não se entendem mais e não querem ouvir ou ler, fora a si mesmas. Tempos de negação, tempos terra plana e outras idiotices ainda piores. Realmente é o fim da picada, chega a dar vergonha de pertencer ao tempo idiota como esse. por outro lado, não estou nem um pouco a fim de discutir com gente que pensa desse jeito. Sei que é uma perda de tempo e não tenho mais paciências para ouvir besteira. Realmente, não pense mais naquele cara tolerante de antes. A burrice é realmente perdoável. Mas eu descobri que ela não consegue ser humilde, ele só sabe ser arrogante e é por isso que eu não a perdoo. Ela me faz lembrar de certa vez que uma pessoa, que não era muito de ler, me perguntar se eu tinha lindo um best seller que não me interessava. Perguntou se eu era o único que ainda não o tinha lido. Eu perguntei se ela já tinha lido algum livro de Dostoievski e ela, obviamente, respondeu que não. Bom, eu estava em atraso alguns dias, mas ela estava atrasada quase 100 anos. Que vou fazer? Deixa para lá. Acho que ela ficou sem entender. Talvez eu não fosse capaz de entender também.

Vamos falar de coisas melhores. Andei relendo alguns textos. Já nem lembrava do que havia escrito um dia. Abandonei miseravelmente as letras. Mas será que ainda servem a alguém palavras de reflexão? Será que alguém usa um pouco a caixola, num tempo que as cabeças ficam dedicadas só a seus próprios pensamentos. Não vejo mais espaço para o amor. São tempos de ódio. Achei que eles tinham ficado num passado remoto, mas acabaram voltando. Será que tem alguém que ainda quer ler um poema? Os poetas se calaram para sempre ou não os querem ouvir? Alguém, me responde o que é que é, o andar do ponteiro de relógio, as palavras perdidas no vão das portas, a solidão das quarentenas se acumulando junto ao pó nos cantos das paredes, no silêncio infinito das esquinas. Onde foram todos? Não sei mais dizer o que tenho a dizer nem a quem dizer, talvez nem queiram me ouvir ou ler.  Ou seja, não sei se tenho coisa melhor para falar, apesar de ter tentado. Será que consigo encontrar dentro do meu coração o que andava perdido. Será que poderia encontrar aquele  vontade que eu tinha de deixar minha almas nas palavras, mesmo se elas não significassem nada para ninguém?

a solidão é o beijo que ao vento se solta
o prisioneiro sem escolta
a lágrima que o túmulo percola
uma vazia garrafa de coca cola
é o filho que ainda não nasceu
ou o  filho que já morreu
é a pedra que se atira ao solo
o amor que faltou declarar
a garrafa jogada ao mar
é a mãe sem bebê ao colo
é a goiaba que apodrece no galho
é uma casa sem assoalho
a solidão que é um tipo de morte
uma certa falta de sorte
que pouco a pouco me vai secando
uma faca qualquer que bem afiada me corte