domingo, 25 de novembro de 2018

Falando de Baratas, Natureza e Solidão



As baratas são indestrutíveis. Elas existem desde o inicio dos tempos, muito antes do homem aparecer na Terra e permanecerão ainda muito tempo depois destes se extinguirem. O homem sempre tentou exterminar a barata, mas esta é uma batalha perdida. Basta você lembrar das tantas vezes em que você acertou uma sapatada em cheio em uma barata e ela ainda saiu se movendo de forma repugnante, arrastando os pedaços destroçados, para saber que elas são quase indestrutíveis. Mesmo que conseguisse matá-la, de nada adiantaria, pois os ovos que deixou logo eclodiriam em miríades de baratinhas. Por incrível que pareça, as baratas surgiram naturalmente e não são fruto de qualquer experiência genética mal sucedida. A laranja, por outro lado, é uma fruta que foi criada pelo ser humano. Ela é um híbrido entre o pomelo e a tangerina. Muitas frutas são híbridas e aperfeiçoadas geneticamente. As frutas naturais são muito menos saborosas do que as criadas. O que nos causa repulsa ou medo, nem sempre vem da maldade, como a repulsa que todos temos, assim como o medo que as mulheres, em especial,  têm de baratas. Por outro lado, nem sempre o que é criado pelo homem é pior ou faz mal.
Jonas pensava diferente. Ela considerava a natureza uma coisa completamente amiga do homem. Ao pensar isso, ele desconsiderava totalmente os desastres naturais, os muitos venenos que existem em frutas e outros vegetais e as feras do mato. Não há verdade alguma no lema dos defensores da cannabis sativa, que o que é natural não pode fazer mal, os cogumelos, as raízes, as serpentes, as águas vivas e outros seres naturais venenosos que o digam.
Jonas tinha apenas medo do ser humano. Desejou ser um ermitão e resolveu ir morar na floresta. Ele imaginou  ser assim como uma espécie de Henry Thoreau, que viveu sozinho numa cabana por dois anos dois meses e vinte e dois dias. O problema é que ele não sabia muito a respeito de como viver na floresta, nunca tinha lido Walden de Thoreau ou mesmo Robinson Crusoe de Daniel Defoe. Não sabia que Santo Tomás de Aquino, de forma totalmente aristotélica, havia dito que o ser humano é um ser social, excetuando os casos em que ele se considera um Deus, muito superior aos demais, quando é um animal ou quando tem má sorte, como no caso do Náufrago, atirado a um ermo lugar acidentalmente, mas ele não era nada disso. Não sabia como construir uma habitação segura, ou fazer fogo, procurar água potável, não conhecia as frutas da floresta, como se proteger dos animais, como caçá-los, e muito menos como se orientar.
E foi assim que, iludido com a doce quimera da natureza gentil, que ele partiu para a floresta.
Lá sofreu horrores, se perdeu, passou fome e sede, foi atacado por animais, comeu frutas que lhe causaram vômito e diarreia, o que ainda mais o debilitou.
A sorte dele foi ter encontrado um grupo de caçadores que o ajudou a sair daquela situação.
Ficou alguns dias com o grupo e pode aprender a viver um pouco mais em sociedade. Deixou de ser antissocial e passou até a gostar dos seus semelhantes. Ainda assim, continuou sonhando com as coisas da floresta. Passou a ler coisas sobre a floresta. Leu Walden. Leu Robinson Crusoe. E aprendeu que ali estava a natureza, mas também estava o homem, que mesmo estando sozinho, se socializava com seus semelhantes compartilhando sua experiência, afinal, Thoreau visitava os seus vizinhos e deixou a solidão da floresta voluntariamente após o período que programara experimentar, alegando ser aquela apenas uma das vidas que queria viver. Robinson Crusoé precisou de sexta-feira. E O Náufrago vivido por Tom Hanks precisou imaginar que uma bola fosse Wilson para não pirar de tanta solidão. Conhecer a natureza é um pouco isso,  é conhecer também a relação do ser humano com a floresta, como pode haver simbiose entre coisas distintas. Isto é entender também sobre o ser humano, aceitar suas diferenças. Aqueles que ignoram o ser humano e levam em conta apenas a natureza, acabam sendo destruídos por ela ou contribuem para acelerar sua degradação. São bem parecidos com aqueles que não levam em consideração nem seus semelhantes nem a natureza. Em tempos de ódio, cada vez fica mais evidente como este se auto-alimenta e cria uma situação cada vez pior. É bem comum encontrar nos dias quem se sinta um daqueles três solitários de Santo Tomás de Aquino, se sentindo um Deus, quando na verdade é um animal que teve a má sorte de nascer entre outros tantos animais.