sábado, 5 de dezembro de 2020

 Você é o Sol

pois é a luz dos meus olhos

Você é o sal

de todo sabor que eu sinto

Você é mais que ciência

é a essência

de tudo que eu penso

Você é a estrada infinita

é o céu salpicado de estrelas

por onde passeiam meus sonhos


Quando digo o que digo eu não digo

tudo aquilo o que eu quisera tanto dizer

é assim como eu faço o que faço

mas não faço o tanto que eu quisera fazer

sou humano e menor sou do que eu me sinto

e o que eu sinto é muito mais do que eu poderia ser 

uma explosão arde em meu peito da qual você é o estopim

a palavra certamente me falta quando o sentimento transborda

sou como o rio que enche mais 

do que as margens poderiam suportar

sou um primavera que incontida no seio congelado da terra 

se funde por fim em mil flores

e ilumina e colore tudo que eu quisera abraçar 

é o mar, e é o mar que estende além do horizonte, 

se expande pelo infinito em milhares de galáxias

tudo que eu sinto em minha alma

fica muito além do que seria possível dizer

a palavra "impossível" faz minha língua tremer

e a palavra amar toma conta do meu ser

Faltam palavras, mas as palavras que me sobram 

dão uma pálida ideia

de tudo que eu diria se pudesse dizer

 

convém portanto que suponhas

no que lês tudo muito mais do que lês

no que supões mas ainda do que sonhas

 e que adivinhes o que diria seu eu o soubesse dizer

pois além das palavras que exprimo

há outras que nem sequer foram inventadas

mas que a imaginação permite de alguma forma entrever

muito além do além, há o aquém em que existo

e muito mais do que lá incluo eu aqui suprimo

e o inexprimível ainda fica ainda por escrever

a palavra é feita de sílabas,  letras e limites

que constrangem e me deixam pouco a vontade

e o que sinto fica muito além destes simples blocos

com que insisto em tentar me descrever

 

A teoria de inutilidade universal de todas as coisas

Em a Ética a Nicômaco, Aristóteles introduz o conceito do que é útil, A utilidade é aquilo que serve para obter outra coisa. Ou seja, a utilidade tem por essência ser um meio, em não ser um fim em si mesmo. As virtudes são o meio termo entre duas disposições de caráter extremas e opostas, dois vícios, a extrema direita e a extrema esquerda das ações. Por exemplo, a coragem é o meio termo entre o a covardia e a temeridade. No primeiro caso, a covardia ocorre quando a pessoa tem medo mesmo quando existe um bem maior, como a vida, ameaçado, enquanto a temeridade ocorre quando a pessoa arrisca a própria integridade física e, em especial, a dos outros, sem maiores finalidades. Mas nada disso importa aqui, apenas saber que as virtudes, apesar de admiráveis, são úteis e servem para uma finalidade que não elas mesmas. Como consequência, deve-se entender que    quem vive pela virtude não vive com verdadeiros propósitos, se pauta em falsos ídolos e não deve estar entendendo nada do que entendeu nada do que eu estou falando (nem do que Aristóteles estava falando há 25 séculos atrás).  

Os utilitaristas, escola do pensamento que teve como próceres Bentham e John Stuart Mill, elegeram as coisas úteis como as únicas coisas importantes que existem. Inventaram até uma equação para descrever o máximo de utilidade que pautaria as tomadas decisão dos agentes políticos.

É interessante, pois os utilitaristas pareciam doidos que não conseguiam entender direito do que estavam falando. Se uma coisa tem a finalidade em propiciar outra é óbvio que ela não é importante, pois importante seria a outra coisa, ou seja, a coisa a ser obtida. Assim, a utilidade se caracterizaria pela sua falta de importância, ou importância secundária se preferirem. Eles falavam em obter o máximo de bem estar, mas isso é uma coisa indefinível e diferente para cada pessoa.

Assim como Murphy, que lançou as bases para a Teoria da Perversidade Universal da Matéria, que busca explicar porque as coisas dão erradas, eu proponho a teoria universal da inutilidade de todas as coisas baseada no princípio evidente de que as coisas importantes não são as coisas úteis, mas sim as coisa que não são úteis que elas visam, que são fins em si próprias. A utilidade é o adiamento da finalidade. O bem, esta coisa que resta indefinível, seria o verdadeiro propósito de toda utilidade. Já este bem, esta coisa que não serve para nada, é a inutilidade em si. Se as coisas úteis servem tão somente para obter as coisas inúteis, a inutilidade do fim a que se destina a utilidade a contamina e a toda utilidade resta inútil. É esse o princípio básico da teoria universal da inutilidade de todas as coisas. Em suma, se está procurando alguma coisa útil para ler, vá procurar outra leitura.

Por exemplo, a arte não serve para nada assim como os bons livros, os bons poemas, as crianças recém nascidas, as crianças comportadas, as crianças traquinas, as invenções (sim, surpreenda-se, as invenções em sua origem servem para o deleite do inventor e visam obter o ócio e a felicidade, essas coisas de natureza absolutamente inútil, e só se tornam úteis quando um capitalista selvagem as explora e  explora pessoas para obter o máximo lucro através da máxima criação de infelicidade) , os beijos, os lábios da amada,  os abraços, as declarações de amor (desde que sinceras, bem entendido), o próprio amor e, espero, tudo que escrevo, não servem para nada, são completamente inúteis e é pelas coisas inúteis que devemos viver.  Na medida do possível, devem ser afastadas como propósitos em si todas as coisas úteis. O dinheiro, a cultura, o sucesso, a popularidade, os bens materiais e todos os símbolos de status são falsos ídolos que levam a mais retumbante infelicidade quando são tratados como fins em si e não como simples meios para se obter o que verdadeiramente importa. 

Isso não significa. é claro, que você deva doar seus bens e viver na rua. Eu não estou dizendo para ninguém virar trouxa, mas viver com finalidades elevadas, ser uma pessoa boa ao ficar dizendo que é isso para os outros para que acreditem em sua hipocrisia, como muita gente faz hoje em dia, acreditar realmente em alguma coisa ao invés de usar sua crenças como desculpa.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

 era menino
e havia um campo
no qual sonhava amar
mas quisera ter amado em qualquer lugar

( o amor não veio)

o campo é hoje feito de cinzas
os sonhos morreram
o amor se acabou
o menino cresceu
ficou forte seu corpo
mas um coração desapaixonado
repousa calado em seu peito

(quisera ser fraco, mas ter amado
pelo menos por um dia)

o rapaz que ontem seguia em frente
sem medos
envelhecido precocemente
prefere agora ficar quieto
no seu lugar
na segurança absoluta do nada


-x-

Acordou, olhou para os lados. Não sabia onde estava. Voltou a dormir. Em seu sonho (que, como nas televisões e fotografias antigas, era em preto e branco) nada viu. A escuridão mais absoluta o cercava (tanto na vida como no sonho). Seu coração estava gelado, mas a pele ardia em febre. Morreu assim, solitário e adormecido. Não sentiu a vida, nem sentiu a morte. Ninguém chorou por si, nem compareceu ao enterro. Hoje, ninguém se lembra dele e o local onde foi enterrado nascem flores ao acaso. Foi assim seu ocaso.
Mas, em uma outra parte do globo terrestre, uma mocinha cheia de vida cantava a canção da moda.
Numa floresta nem tão distante, gorjeava alegremente um colorido passarinho. Num lago azul pululavam pexinhos. Todos eles e até as flores que brotejam nos bosques, as cascatas que se projetam incólumes nas pedras e todas as coisas que não sabem se são tristes ou alegres, mesmo essas ignoravam totalmente o destino dos que foram abandonados.