segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Átimo

Nunca passe um segundo
por nada neste mundo
a desnecessariamente sofrer

pelos golpes futuros
pela falta de seguro
ou com medo de morrer

pois cada segundo sofrendo
ou então se maldizendo
é um pedaço de ti a se perder

é uma gota esvaída
é a alma partida
um pouco de morte no teu viver



Versos para o verso

Lápis, caneta, teclado
os dedos tocam emocionados
olho de frente sem medos
com eles não tenho segredos

em seu meio sou puro verbo
livre sou em ti não sou servo
sou eu quem sou neste verso
está aí meu ser, meu universo

Se me alegro sou verso livre
meu peito se abre e sobrevive
se me entristeço palavras sombrias
fazem minhas estrofes tão frias

Meus versos mudam ao sabor de vento
ao sabor de mim e do meu intento
quando o amor renasce manhã colorida
surge o esplendor da flor mais sofrida

Mas se meu amor de mim se afasta
escrever amargamente me basta
nos versos verto a lágrima perene
o lápis da tristeza escreve infrene

Em seu seio busco soluções
extravasso todas minhas emoções
Verso, és incansável busca
que meu pensamento não ofusca

domingo, 17 de outubro de 2010

olha ela
como é bela
na janela
que dá
de frente pro meu jardim
entre tantas flores
só dá ela
rosa, gardênia
e jasmim
tantas cores
há em mim
e o sorriso
que em seu rosto
se parte
em mil sóis
coloridos lençóis
no parapeito
mil pingentes
que em seu peito
estilhaçam
corações ao chão


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Quando ando pela estrada
observo essas casinhas
pequenas e pintadas em cores berrantes
e lembro das mansões
confortáveis e luxuosas
que observei na cidade um pouco antes

verde-limão
rosa-choque
abóbora ou escarlate
é tão pouco espaço
e tanta gente
um cachorro que late

(em forma de som
é o desespero da fome quem grita
indiferente a ele
ao sabor do vento uma árvore se agita)

o resto é mortal silêncio
será que todos nessa casas dormem?
para esquecer quem sabe
ou então lembrar
de um outro tempo que não houve

(nas mansões por outro lado
tão geladas
de um silêncio que era mortal
as casinhas ao seu lado
flageladas

que tristeza é esta em volta
desta estrada tão comprida?
a lembrança amarga
de um tempo em minha vida
ou um lugar que eu nunca soube

triste mesmo é o silêncio
em que esta pobre gente aguarda
a solução final da morte
ou chegar um anjo da guarda


sábado, 2 de outubro de 2010

A flor da favela

brotou uma flor
na subida da favela
bem em meio ao desamor
mesmo sem ser a mais bela
no entanto era só ela
a única flor da favela
o terreno era árido
e a paisagem sem cor
mas só de teimosa
assim mesmo a vida
ali plantou uma flor
suas pétalas desbotadas
e sua folhas mirradas
abriam as portas cerradas
dos barracos da pobre gente
que ante visão tão inocente
de uma flor tão indecente
na secura dos olhos vazios
saltados dos rostos frios
ardia uma luz já extinta
uma pontinha de emoção
e esta pobre gente sentia
nascer uma flor no coração