sábado, 5 de dezembro de 2020

A teoria de inutilidade universal de todas as coisas

Em a Ética a Nicômaco, Aristóteles introduz o conceito do que é útil, A utilidade é aquilo que serve para obter outra coisa. Ou seja, a utilidade tem por essência ser um meio, em não ser um fim em si mesmo. As virtudes são o meio termo entre duas disposições de caráter extremas e opostas, dois vícios, a extrema direita e a extrema esquerda das ações. Por exemplo, a coragem é o meio termo entre o a covardia e a temeridade. No primeiro caso, a covardia ocorre quando a pessoa tem medo mesmo quando existe um bem maior, como a vida, ameaçado, enquanto a temeridade ocorre quando a pessoa arrisca a própria integridade física e, em especial, a dos outros, sem maiores finalidades. Mas nada disso importa aqui, apenas saber que as virtudes, apesar de admiráveis, são úteis e servem para uma finalidade que não elas mesmas. Como consequência, deve-se entender que    quem vive pela virtude não vive com verdadeiros propósitos, se pauta em falsos ídolos e não deve estar entendendo nada do que entendeu nada do que eu estou falando (nem do que Aristóteles estava falando há 25 séculos atrás).  

Os utilitaristas, escola do pensamento que teve como próceres Bentham e John Stuart Mill, elegeram as coisas úteis como as únicas coisas importantes que existem. Inventaram até uma equação para descrever o máximo de utilidade que pautaria as tomadas decisão dos agentes políticos.

É interessante, pois os utilitaristas pareciam doidos que não conseguiam entender direito do que estavam falando. Se uma coisa tem a finalidade em propiciar outra é óbvio que ela não é importante, pois importante seria a outra coisa, ou seja, a coisa a ser obtida. Assim, a utilidade se caracterizaria pela sua falta de importância, ou importância secundária se preferirem. Eles falavam em obter o máximo de bem estar, mas isso é uma coisa indefinível e diferente para cada pessoa.

Assim como Murphy, que lançou as bases para a Teoria da Perversidade Universal da Matéria, que busca explicar porque as coisas dão erradas, eu proponho a teoria universal da inutilidade de todas as coisas baseada no princípio evidente de que as coisas importantes não são as coisas úteis, mas sim as coisa que não são úteis que elas visam, que são fins em si próprias. A utilidade é o adiamento da finalidade. O bem, esta coisa que resta indefinível, seria o verdadeiro propósito de toda utilidade. Já este bem, esta coisa que não serve para nada, é a inutilidade em si. Se as coisas úteis servem tão somente para obter as coisas inúteis, a inutilidade do fim a que se destina a utilidade a contamina e a toda utilidade resta inútil. É esse o princípio básico da teoria universal da inutilidade de todas as coisas. Em suma, se está procurando alguma coisa útil para ler, vá procurar outra leitura.

Por exemplo, a arte não serve para nada assim como os bons livros, os bons poemas, as crianças recém nascidas, as crianças comportadas, as crianças traquinas, as invenções (sim, surpreenda-se, as invenções em sua origem servem para o deleite do inventor e visam obter o ócio e a felicidade, essas coisas de natureza absolutamente inútil, e só se tornam úteis quando um capitalista selvagem as explora e  explora pessoas para obter o máximo lucro através da máxima criação de infelicidade) , os beijos, os lábios da amada,  os abraços, as declarações de amor (desde que sinceras, bem entendido), o próprio amor e, espero, tudo que escrevo, não servem para nada, são completamente inúteis e é pelas coisas inúteis que devemos viver.  Na medida do possível, devem ser afastadas como propósitos em si todas as coisas úteis. O dinheiro, a cultura, o sucesso, a popularidade, os bens materiais e todos os símbolos de status são falsos ídolos que levam a mais retumbante infelicidade quando são tratados como fins em si e não como simples meios para se obter o que verdadeiramente importa. 

Isso não significa. é claro, que você deva doar seus bens e viver na rua. Eu não estou dizendo para ninguém virar trouxa, mas viver com finalidades elevadas, ser uma pessoa boa ao ficar dizendo que é isso para os outros para que acreditem em sua hipocrisia, como muita gente faz hoje em dia, acreditar realmente em alguma coisa ao invés de usar sua crenças como desculpa.

Um comentário:

  1. Vixe!! Seu texto poderia proporcionar questionamentos em alguma partes e encontrar certa lógica em outras. No fundo, porém, pareceu-me que estava pessimista quando o escreveu. Viver com finalidade elevada??? Acreditar, realmente, em alguma coisa?? Talvez isso habite mais mentes do que imaginamos. Creio, na verdade, que o mais importante é não julgar crenças e objetivos. E viver de conformidade com nossos princípios e valores, deixando o filosofar para noites insones rssss. Bjs.

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