sexta-feira, 5 de novembro de 2010
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Nunca passe um segundo
por nada neste mundo
a desnecessariamente sofrer
pelos golpes futuros
pela falta de seguro
ou com medo de morrer
pois cada segundo sofrendo
ou então se maldizendo
é um pedaço de ti a se perder
é uma gota esvaída
é a alma partida
um pouco de morte no teu viver
Versos para o verso
Lápis, caneta, teclado
os dedos tocam emocionados
olho de frente sem medos
com eles não tenho segredos
em seu meio sou puro verbo
livre sou em ti não sou servo
sou eu quem sou neste verso
está aí meu ser, meu universo
Se me alegro sou verso livre
meu peito se abre e sobrevive
se me entristeço palavras sombrias
fazem minhas estrofes tão frias
Meus versos mudam ao sabor de vento
ao sabor de mim e do meu intento
quando o amor renasce manhã colorida
surge o esplendor da flor mais sofrida
Mas se meu amor de mim se afasta
escrever amargamente me basta
nos versos verto a lágrima perene
o lápis da tristeza escreve infrene
Em seu seio busco soluções
extravasso todas minhas emoções
Verso, és incansável busca
que meu pensamento não ofusca
domingo, 17 de outubro de 2010
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
observo essas casinhas
pequenas e pintadas em cores berrantes
e lembro das mansões
confortáveis e luxuosas
que observei na cidade um pouco antes
verde-limão
rosa-choque
abóbora ou escarlate
é tão pouco espaço
e tanta gente
um cachorro que late
(em forma de som
é o desespero da fome quem grita
indiferente a ele
ao sabor do vento uma árvore se agita)
o resto é mortal silêncio
será que todos nessa casas dormem?
para esquecer quem sabe
ou então lembrar
de um outro tempo que não houve
(nas mansões por outro lado
tão geladas
de um silêncio que era mortal
as casinhas ao seu lado
flageladas
que tristeza é esta em volta
desta estrada tão comprida?
a lembrança amarga
de um tempo em minha vida
ou um lugar que eu nunca soube
triste mesmo é o silêncio
em que esta pobre gente aguarda
a solução final da morte
ou chegar um anjo da guarda
sábado, 2 de outubro de 2010
A flor da favela
na subida da favela
bem em meio ao desamor
mesmo sem ser a mais bela
no entanto era só ela
a única flor da favela
o terreno era árido
e a paisagem sem cor
mas só de teimosa
assim mesmo a vida
ali plantou uma flor
suas pétalas desbotadas
e sua folhas mirradas
abriam as portas cerradas
dos barracos da pobre gente
que ante visão tão inocente
de uma flor tão indecente
na secura dos olhos vazios
saltados dos rostos frios
ardia uma luz já extinta
uma pontinha de emoção
e esta pobre gente sentia
nascer uma flor no coração
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
domingo, 26 de setembro de 2010
sofrer
amar de novo
e sofrer, sofrer
sofrer até cansar
e amar ainda uma vez
e cair, cair
chegar tão fundo
ao fundo do fundo
e enfim desesperar
eis o ciclo da vida
eis o princípio da morte
de um cansado coração
que amou ardentemente
e já não ama
que chorou, mas já não chora
que foi doce, mas agora é amargo
seu olhos secos
sem vida
olham de frente o futuro
mas só conseguem ver o passado
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Quantas coisas disse, mas não disse nada, talvez a mais cruel obsessão de quem escreve é este indefinido problema. Indefinido assim por lhe faltar as devidas condições de contorno. A falta, assim como o excesso, é uma necessária etapa da vida.
sábado, 4 de setembro de 2010
Poemas antigos
Fim de romance
Tudo que restou no fim do nosso amor:
Uma lágrima, um beijo negado, a dor.
Um lenço teu, todo borrado de lágrimas e batom,
a suave melodia de uma canção nostálgica do Tom.
Um bilhete de despedida rasgado,
um recado na secretária em tom emocionado,
um retrato quase sem cor, sem idade
e dos tempos bons:
Uma imensa saudade
Montanhas entortando o horizonte, entortando o céu que é plano. Deixando curvas nas dobras do mundo, criando vales e torrentes, recortando a terra, derrotando o igual, violando o tédio, violentando a esfera. Esfera oca cheia de pontas, espinhos, carrapicho. Ali, nas montanhas, é que nascem os rios.
Os rios transportam os sedimentos que adubam os solos. Solos com sede de sedimentos, seres com sede de sentimentos. Eu com sede de ti. Nós com sede uns dos outros. Seres vivos com sede de vida.
Filhos! Resultado da sede que a vida tem de si mesma. Eu amo porque sou um rio com sede de rios, vida com sede de vida, rio e sede da vida, dos peixes, peixe com sede de peixes. Sorvo cardumes de um só gole. Rios são serpentes líquidasque se estendem nas planícies para tomar Sol. Montanhas! Saiam da frente do meu Sol. O Sol é meu! O Sol é teu, o Sol é nosso.
Mas aqui, nesta parte que estou da Terra, chega a luz de Sol que vem de uma parte do Sol que é só minha, pois se sou dono da luz, sou dono da fonte desta luz. Sou dono de uma parte do Sol. Sol que ilumina montanhas escuras, florestas sombrias que se tornam luminosas ante seu mágico toque. Pelas frestas de tuas copas, floresta, deixas passar um pouco da luz do Sol. Mesmo que seja uma nesga, perdes um pouco de tuas sombras e o Sol perde uma da luz que o consome, mas os seres que te habitam ganham um pouco mais de vida.
Esta estranha relação que tens com o Sol me ensina que quando se perde algo em algum lugar, em algum tempo, necessariamente alguma outra coisa se ganha em algum outro lugar e em algum outro tempo.
Não há ganho sem perda, nem perda sem ganho. Isto me faz conter meu desejo de ganho, por não querer provocar uma perda, isto me faz aceitar minhas perdas, pois houve ao mesmo tempo um ganho.
As montanhas desafiam com suas escarpas os alpinistas à escalada. Escalar montanhas, subir degraus, este nosso destino. Somos todos alpinistas. Havia uma montanha que nunca um alpnista ousara escalar. Mas aquele alpinista, ah, aquele alpinista, ousou.
Suas chances de voltar eram mínimas, mas o que não é arriscado nessa vida? Contra tudo e contra todos ele ousou. E fracassou na primeira tentativa, mas, depois daquele fracasso, ficou mais fácil escalar montanhas que antes eram difíceis. Quem tenta o inalcançável pode consquistar outras coisas. Mas, se pensam que ele desistiu da escalada, estão enganados. Aquela montanha era a montanha da sua vida. Por nada deixaria escapar aquela conquista. Nem que fosse à custa de ossos quebrados ou da vida. Se ele não tentasse ,de que valeria a vida? Errar não seria problema. Ele errara outras vezes e nem por isto desistira, nem por isto se sentira derrotado. Haveria de chegar o momento da definitiva conquista. Se ele tudo fazia e tudo conseguia, era por ter um único propósito.
Por isto mesmo, nem vou dizer se ele conseguiu escalar ou não a montanha da sua vida. Nestas histórias vale mais a luta do que a consquista. Vencedor é aquele que enfrenta suas montanhas, não aqueles que a conquistam. A grande conquista é a conquista de si mesmo.
Me contaram
Foi o mar que me contouconfidência da Lua
num sopro secreto do vento
nas estrelas foi que li
dourados versos do Sol
sussuraram as gotas da chuva
o universo inteiro sabia
as galáxias não mentiam
cometas nos seus rastros sibilavam
Em tudo que vi, li ou ouvi
vi teu nome, vi teu rosto, vi teus olhos
e todas coisas me contavam:
Te amo!
Me amas!
Benno
sábado, 28 de agosto de 2010
havia uma pedra no caminho
mas há tantas pedras
que uma a mais não fará diferença
e sem pedras o caminho é sempre o mesmo, liso e igual,
tão sem graça
que a pedra por magia nele se faça
ora, uma pedra não é assim tão mau
mas se for uma pedra grande
tão grande
que bloqueie o meu caminho
só mesmo dinamite
Sabedoria
No justo caminho
a verdade paira (o vinho)
só um gole
na estreita garganta
a sabedoria santa
me engole
e me deixa
entre o ter e o ser
entre a arrogância e a modéstia
da luz uma réstia
entre a coragem e a covardia
sobra mais um dia
que se vive sem saber
Solidão
é tão imenso
( e triste)
o mar
entre duas ilhas
Pérola
lágrima:
pérola solitária
nascida no bojo escuro
do ostracismo
...
Não a rua
mas sim a calçada
que me importa a cidade
se posso me perder
na multidão
e ainda ser alguém
domingo, 22 de agosto de 2010
Amo a puta que existe
dentro de uma mulher
que faz de mim e dos outros
tudo aquilo que bem quer
e ao que os outros é abjeto
a mim é coisa que muito agrada
ser um homem-objeto
de uma moça safada
mas só para contradizer
amo também a outra parte
e tenho muito a dizer
se permitir minha arte
da mulher que me é submissa
que é decente e vai a missa
e faz tudo que eu quero
na cama e na cozinha
que sempre foi apenas minha
e por isso mesmo a venero
mas isso tudo é bem pouco
a poesia é imensa
e o poeta é um louco
que tudo diz sem ofensa
e tanta coisa adora inventar
que nada na vida lhe faz mal
por isso agora vou cantar
da mulher que a mim é igual
pois ela mais do que tudo
de qualquer maneira que seja
de paixão me deixa mudo
e está comigo pois me deseja
mais que tudo no mundo
e meu viver se torna fecundo
mas a mulher que mais amo
e da qual nunca reclamo
é aquela que resuma
todas aquelas em uma
II- Estranho
Não me chame
pelo meu nome
sou apenas um desconhecido
sem nome e sem coração
que invadiu tua noite
e incendiou o teu corpo
domingo, 15 de agosto de 2010
As paixões não têm razões, mas são as únicas razões que encontramos. Sem elas a vida não vale a pena ser vivida, ainda que elas nos causem dor e problemas, que nem sempre sejam seguras e certeiras, muitas vezes nos levando ao erro. Mas há que se tentar, pois a alternativa seria nada fazer e nada fazer seria não existir. Ajo, logo existo. Se só se agisse diante da certeza do resultado, nada teria sido feito, pois a certeza não pode preceder o feito. Diante do erro, que nunca é fracasso (o único fracasso de fato é nem tentar) nada resta a não ser levantar a cabeça e tentar de novo.
"Pois tudo que é grandioso é perigoso; e é verdade, como diz o adágio, que o que é belo é difícil." - Sócrates (A República)
Tudo deu errado, mas vivi e não havia nada mais nobre a ser feito, pois amei. E amar é tudo, mesmo que se tenha deixado amar, pois quem amou ainda ama, nem que seja a lembrança de um doce beijo.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
nossos corpos
nossas almas
multiplicam-se os nós
que nos amarram
meu desejo passeia
ânsia de te possuir lento
abrigado ou ao relento
na tua ou na minha cama
sobre a grama ou a areia
tuas curvas acentuadas
e tua pele dourada
mexem tanto comigo
fazem vibrar minhas veias
que derretem-se ígneas
tenho-te sempre aqui dentro
em minha circulação sanguínea
este em que caio
só não caio o bastante
SANGUE
Doarei meu sangue e meus olhos
por um momento em ti
pois quando lá
nada mais verei
a não ser teu cerne
e a fusão difusa de nossas veias
dispensará o pulsar do meu coração
e bastará o teu
terça-feira, 10 de agosto de 2010
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Vontades, é tudo que há, apenas vontades. Vontade de te ver, vontade de nunca mais te ver, te amo e odeio a um só tempo, beijo a boca e ofendo a fenda, funde-se de opostos e de sombras o teu rosto, na maquiagem que o tempo traçou em rugas tuas histórias. Sobras de madeixas espalhadas pela casa, rastros do teu desespero, dizem-me mais as folhas orvalhadas espalhadas na varanda. O amanhecer me deixa sonolento, mas o anoitecer desperta o vampiro que me habita. Esta ânsia plangente de devorar o sangue de tuas regras e vomitar todas almas que em vão sorvi. No futuro e no presente eu estou e não estou. Entre o sonho e o acordado, olhos abertos e fechado, zumbi sonâmbulo a vagar na noite. Eu nunca mais deixei que as coisas acontecessem, elas têm ido por si só. A arte de deixar-se ir arrastado pela correnteza da vida, a levar em direção a foz da morte. É lá no mar que hei de morrer, como os navegantes que cruzaram só a metade do oceano. É tudo que resta, a vontade de deixar-se ir.
Perdas
Viagem
dorme aqui em mim o triste sentimento
da flama opaca que se insufla num momento
nos olhos o aço a frio da fé feroz verbera
um frêmito olfato que se traduz da fera
da presa inerme e exangue jamais se compadece
pois do que o coração tão só em si carece
excede a mão atroz do ato que arrefece
esconde a intenção em vão pois transparece
Benno
terça-feira, 22 de junho de 2010
olhos fechados
boca velada
silêncio em teu olhar
(antes eles diziam tanto)
morre o dia
esmaece a cor
o amor, antes luz
agora é noite
(apagou-se alguma coisa em mim)
2- Fogueira
a paixão
é a fogueira
que crepita
em Lua cheia
dissolve-se em fagulhas
mil agudas agulhas
e arde intensamente
mas gradativamente
derrete sua luz
e depois vira noite
sexta-feira, 28 de maio de 2010
volto e refaço o meu caminho
percorro vitórias e fracassos
ando até voltar ao ninho
Refazendo esta velha estrada
revivendo o meu destino
viajo por sobre lembranças
em verdes sonhos desatino
quisera ter sido diferente
ter conhecido outra gente
fazer algo de estupendo
mas de nada me arrependo
pois o que eu fiz é o que eu sou
e por onde fui é por onde vou
as histórias que os velhos contam
os caminhos que se encontram
e não desejo negar tudo isso
só não quero ser mais omisso
não escondes as verdades que vi
jamais esquecer as coisa que eu li
enfrentar tudo de peito aberto
nunca temer o que é certo
para tanto até morrer antes da hora
hei de ser assim a partir de agora
sexta-feira, 2 de abril de 2010
domingo, 28 de março de 2010
O poema o papel e a eternidade
do poema
a eternidade separa
o papel em branco
da eternidade
o poema separa
a eternidade
do poema
o papel em branco separa
separam-se
poema e papel em branco
eternamente
eternos
papel e poema
transitório poeta
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Que olhar
que teimam em me enfeitiçar?
talvez seja o meu fim
pois não sou mais de mim
eu já não me pertenço
e ando até hipertenso
pois sou desses olhos que já conhecia
muito antes de os contemplar
no muro da minha frente
a hera e o musgo vicejam
sinto o vento em meu rosto
franze roto meu cenho
o resto de mim já não tenho
sem os olhos um desgosto
por mais estranhos que sejam
sob este ar inocente
e por que esses olhos
e não outros olhos ?
quaisquer outros olhos
pois que há tantos deles
por este vasto
e sedento de olhos mundo
que olhos certamente
não hão de faltar
e nesse inútil me perguntar
a respeito de olhos
e outros assuntos
vou seguindo
sob o efeito hipnótico
desses olhos catalíticos
na catarse e catalepsia
esta neblina obscura
que há para sempre
de me envolver
Tudo tem alguma beleza, mas nem todos são capazes de ver. (Confúcio)
até no ar há beleza
e no fundo também a tristeza
está no jeito de se o olhar
e que há no toque ao corpo
e nos cabelos o leve alisar
da brisa que vem do mar
pois que ali está o ar
o azul do céu é um véu
que vem do encontro
da luz do Sol com o ar
e de um certo jeito
único e inevitável
nossos corpos se-amantes
ainda que seja improvável
sempre se encontrem
qualquer que seja o instante
por ser o mesmo
o ar com que se cobrem
pois o ar será assim tão belo
se os olhares certos
sobre ele repousarem
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Os dias ressuscitam, apesar de as carnes morrerem.
A eternidade é precoce, só o olhar é antigo.
Já não consigo ver o sorriso no teu olhar como eu via. A canção, que tanto me dizia, já não diz. Os sabores já não sabem. Todos os meus sentidos envelheceram, apesar das coisas terem se renovado. Passo distraído entre o canto dos pássaros e os gritos de felicidade das crianças.
Acho que até meu amor por ti envelheceu.
Percebo agora, que ao abrir os olhos para o novo dia que surge, finjo apenas abrí-los. As pálpebras se abrem mas os olhos rejeitam a luz verdadeira.
Acho melhor aprender a abrí-los sem hipocrisia e ver o que há de verdade. Ver a verdade é ver a idade dos próprios olhos e rejuvenescê-los. E ver de novo o amor que nunca havia morrido.
Benno
O retorno é renascer. As coisas que andavam mortas, ressuscitam. As lembranças, antes apenas imagens quase irreais, quase fantásticas, muitas delas apagadas, amareladas como ficam as fotografias antigas expostas ao sabor da antiguidade, revivem, suas cores e contrastes, antes esmaecidos, revigoram.
Talvez não exista graça maior que a do retorno. Para viver esta ventura por vezes me afasto, sou evasivo. Desejo de que a saudade avive os fogos que andavam a se extinguir. A saudade é o sopro
que enrubesce as brasas quase extintas das paixões antigas.
Minha alma, assim, vira constante fogueira que se abranda e se aquece alternadamente. Estas coisas das paixões não tem explicação. E eu, que gosto de explicações, de razões, fico como tolo ante a imensidão de tanto mistério. Eu, que quero saber o que acontece em remotas galáxias, apaixonado pela distância da Lua, não entendo estas coisas que me revolvem os pensamentos, fazem palpitar o coração e me impedem de dormir.
Acho que minha alma é misteriosa e faz de mim brinquedo. Gosta de tripudiar e me enganar. Me fazer falsos convites, acenar com falsos propósitos. E eu vivo entre o desespero e a ventura, entre os abismos que separam a mais extrema felicidade da mais tenebrosa tristeza, ao sabor de suas vagas incertas.
Por isto, me afasto, pois a distância é o certificado da eternidade do que sentimos. Se esta paixão que nos tolheu a razão não resistir ao gelo que cerca o afastamento, se resistir a invencível e derradeira prova, é possível que ela seja mais que paixão. Sei que quando me afasto do verdadeiro amor, na verdade me aproximo. E quando digo não, minto para mim dizendo que já esqueci, na verdade digo sim, na verdade a lembrança arde em minhas entranhas. Onde não me encontrares, é ali que estou. Minha ausência é em verdade presença.
Os livros que nunca li são os que sei decor e salteado e nada lembro daqueles que li diversas vezes na esperança de entendê-los. Ando escondido, por trás dos muros, à espreita. Apareço no momento mais inesperado no lugar mais improvável. Sou inimigo do que é óbvio, vou atrás dos autores mais herméticos, obscuros. Percebo que nunca digo o que quero, apesar de sempre dizê-lo.
Renego e destruo as coisas que escrevi e foram entendidas, pois eram segredos disfarçados. A intenção era dizer outras coisas. Mas sempre há alguém sagaz o suficiente para advinhar os meus mais recônditos segredos nas entrelinhas, pois ali estão.
Noutras vezes sou o meu oposto. É que antes estava afastado, mas agora me aproximo como o predador de sua vítima. Não sei se o que escrevo sou eu mesmo ou se é meu disfarce. se sou a máscara ou o rosto. Depois de ter escrito é como se fosse de um estranho. Há partes, mas há o todo. No todo sou eu, mas os detalhes são máscaras, engôdos. Por vezes estou ali, outras vezes, escondido. Sou como a câmera dos filmes de suspense que se escondem por trás das folhagens, observando sem ser observada, sou o Vermeer que flagra as cenas tranquilas do dia a dia e as tranasforma em obras primas cheias de luz. Sei que é estranho, mas não sou eu o culpado, mas esta chama que me invade, me faz esquecer do que quero lembrar e torna inesquecível o que me atormenta. Por isto me afasto evasivo e volto quando já não sou esperado.
Benno
1) Beijo
bocas
que mutuamente
se inoculam
o veneno
mortal
da paixão
2) Daltônico
o verde feérico
que recobre
a solitária colina
tem o viço
do vermelho carnal
que teus lábio apontam
vício dourado
tua pele nua
pureza e pecado
habitam a mesma morada
a gruta cálida
em que tua língua
se esconde
dos meu desejos
3) Fingidor (Pessoa Revisitado)
O poeta
é um fingidor
que finge
que o ardor
de sua lira
alivia sua alma
mas na verdade
é um tolo
e, se isto serve
de consolo,
apenas do leitor
as dores acalma
Benno
4) Heresia
Herege
só acretido
em tua boca
5) Libação
Não sei
se eu bebo o vinho
ou se o vinho
é que me bebe
neste mútuo
esquecimento
minto à mente
o manto e o mito
são verdadeiros
o real é que é sonho
viver é dele esquecer
mergulhar na fantasia
que o tinto do vinho inebria
6) o silêncio e a eternidade (poema)
Estrelas e pedras
são mudas e eternas
talvez seu silêncio
indiferente, sem idade
seja manifestação
de sua eternidade
porém a flor
transitória
também se cala
e sua oratória
se expressa colorida
pois, quem sabe, sua cor
seja espécie de fala
(cale-se poeta que em há mim
que vou ser flor
e encontrar nas tintas da vida
outras maneiras de me expor)
7) Quatro Estações
No princípio foi semente: promessa.
Então, simples broto que germina do húmus. Esperança.
Quis o tempo que se vestisse de espessa copa e se cobrisse de flores.
Esplendor!
Agora resta um cepo áspero e rígido que impede o cultivo da terra.
Desolação!
8)Morada - poema de sexta
Apesar de morar
dentro de mim
muitas vezes não sei
o que sinto
se é amor ou dor
se quero ou não quero
para mim mesmo
invento e minto
nesta minha indecisão
deixo a meu coração
falar por mim
mas este arredio se cala
e meu corpo
vira morada silenciosa
talvez sombria
ou então prazeirosa
pronta a explodir
de tanto choro
ou, então, de rir
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Poemas
para sempre há de ser e será
teu olhar no meu olhar
minhas pernas entre as tuas pernas
sob um só lençol nossos corpos
-II-incompleto
por mais que te escreva e descreva
sempre restará um poema a ser escrito
um enigma a ser decifrado
uma palavra por ser dita
uma lágrima que eu ainda náo tenha vertido
ou que não tenha te feito verter
um sorriso que ainda não tenhas me me feito
uma declaração que não ousei
uma ousadia que jamais haverei de declarar
-III-tola vingança
pedaços de mim
espalhados no chão em que pisas
sujam de sangue teus saltos
sem desviar teus passos
-IV-De tantas verdade e mentiras
Sou uma verdade
que um dia me menti
e de tanto repetir
acabei acreditando
és um mentira
que julguei ser verdade
pois só o tempo abre os olhos
velados pela luz
-V- Desencontro
Ela tanto me esperou
que virou pó
dissolveu-se no vento
depôs-se em meu caminho
e sujou meu sapato
(Meu reino por um engraxate)
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
para observar a pequena
a singrar sua escova macia
por sua imponente melena
o tempo congela em assombro
o Sol mal contem um suspiro
as madeixas caem pelos ombros
são nelas que eu me inspiro
cascatas de luz que iluminam
o desejo dos menos carentes
o olhar que ingênuo fascinam
os olhares dos mais indecentes
que seria dessa gente
sem esta linda visão?
o mundo seria mais triste
calado e sem qualquer emoção
as respostas às perguntas
mais profundas e intrigantes
reponde este singelo cenário
que pelo espelho do armário
assiste a Lua minguante
neste mesmo instante
e a faz chorar de alegria
suas lágrimas prateadas
na liberdade mesmo que tardia
dessas noites enluaradas
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
deste gélido teu olhar
detalhe sórdido
que adivinho em teu esgar
procurei uma maneira
de tua alma perscrutar
e alguma poesia
enfim nela escutar
mas em teu coração
nada havia
além de densa escuridão
teu destino e tua sina
é viver na solidão
e viver sem mim
é o teu triste fim
Ora, nem sei porque escrevo se escrever é apenas uma parte de mim, já que as palavras são minhas tanto verbos quanto substantivos, esta tão triste e pequena metonímia é bem tola e despropositada sina, bem menor que eu mesmo. Qual a razão de fazer algo menor do eu, eu que já tão pequeno sou? Melhor seria apenas ser, coisa bem mais completa e bastante, ser sem me ultrapassar nem ficar aquém de mim. Esta parte que se desprende de mim, a palavra proferida ou escrita, é sempre uma parte menor, nem mesmo a melhor, do meu pensar, e por isso proveito e aprovação de todos menos meu, pois a alguém certamente acrescenta e avulta mas que a mim só subtrai e avilta.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
A CARTA
Aflita, espero tua carta, sentindo pulsar dentro de mim uma parte de teu ser que deixastes em mim. A distância fica próxima, assim que a recebo e toco no envelope que tocastes ainda outro dia. E sinto, ao mero toque, teus dedos, e no aroma da carta, teu perfume. Nas letras vislumbro teu rosto, na superfície do envelope, teus olhos.
Chego à janela para enxergar melhor tuas letras, ler tuas juras de saudades e de amor. Não importa que o que dizes na carta não faça sentido, ou seja, apenas a repetição do que os amantes se disseram ao longo dos séculos, pois é pleno de sentido para mim. Nas palavras ali rabiscadas, poucas e parcas, vejo teu coração e palpita o meu em um mesmo compasso. E te vejo inteiro e é como se aqui ainda estivesse. Eis aí o mistério das cartas de amor: escritas num código indecifrável para os que não amam, elas conseguem traduzir os sentimentos mais intraduzíveis. Aproximam, mesmo que tudo pareça distante.
É um desafio aos doutos essa comunicação quase sem palavras que traz em si os olhos, a carne, o desejo, o cheiro, e todas essas coisas inexplicáveis que fazem dois seres se amarem.
Meus olhos perdidos no infinito das entrelinhas te fitam e busco nas partes em branco do papel, nas entretintas, nas entreletras, nas entrepáginas, no ar que a dobradura da carta guardava em seu ventre, nos pós e nos entrepós, um vestígio teu ou qualquer coisa que me faça sentir mais próxima de ti e ter certeza que ainda existes e que não fostes só um sonho bom. Quem dera ter aqui um microscópio para poder observar as tuas células, uma lupa para ler tuas impressões digitais ou mesmo ser uma quiromante para ler as linhas que secretamente escondes em tuas palmas de mão. A carta está toda cheia de ti. Abraço-a ao peito, a beijo e me iludo, imaginando um teu abraço, um teu beijo. Mas não é só ilusão, pois bem sabes que agora a abraço e beijo e me sinto tão perto. Tola, tola eu sou, mas que importa? Só a quem ama é permissível ser tolo. Só quem ama é capaz de compreender a tolice de quem ama. Aos que estão cheios de ódio, essa linguagem do amor parece sandice.
Quando voltas? Ainda não sabes ao certo, mas voltas e é isso que importa. Não importa quanto tempo demoras, será sempre igual à eternidade, pois toda espera é eterna. Enquanto te espero, acalento em meu seio tuas cartas e te trago junto ao peito dessa forma.
Por vezes, como tola, as releio, apesar de já declamá-las de cór, pois mais verdadeiras as palavras quando expressas por tua caligrafia.
A cada leitura descubro encantada outro significado maior que me passara despercebido nas leituras anteriores.
Apaixonei-me pelas tuas cartas e se junta a essa à paixão por ti outra paixão de mesma intensidade. Quando junto essas loucas paixões, elas não se somam, mas se multiplicam e se elevam uma à potência da outra.
Ao terminar a leitura dos teus desejos, a leitura da tua falta, a leitura dos teus carinhos, já fico na espera da próxima ou, então, enfim, da tua volta.